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Por Raul Juste Lores
Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura
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Emprego, restauro e vida de rua: o que aprender com polo tecnológico de PE

Porto Digital, no Recife, é responsável por 4% da arrecadação do imposto sobre serviços da cidade e deve servir de inspiração para São Paulo

Por Raul Juste Lores Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 out 2020, 08h27 - Publicado em 9 out 2020, 06h00

A fuga de cérebros era intensa entre formados em tecnologia no Recife. O fechamento de algumas empresas locais deixou muita gente com experiência na área desempregada. Algo muito atual — desesperançados de achar um bom emprego ou recém-desempregados apesar do bom currículo.

O cientista e empreendedor Silvio Meira tinha a ideia de um polo digital no câmpus da universidade federal. Mas o urbanista Claudio Marinho convenceu Meira que o impacto seria muito maior se o polo fosse instalado no Recife Antigo, levando vida ao patrimônio histórico com pouco uso. “Me diga algum restaurante bom para levar um visitante aqui perto da UFPE”, provocou Marinho. Convenceu.

Com vinte anos de idade, o Porto Digital tem números de Vale do Silício brasileiro: quase 12 000 empregos diretos e é responsável por 4% da arrecadação do imposto sobre serviços do Recife. Isso tudo com um aporte inicial de 30 milhões de reais do governo estadual, uma ninharia perto dos bilhões que rotineiramente são despejados nas indústrias automobilísticas e de outros setores “estratégicos”.

Mas o que fez o impacto do Porto Digital ser maior foi, de fato, o componente urbano. “Não dá para ficar isolado, em um câmpus no meio do nada. A garotada chega aqui de bicicleta, de transporte público”, conta. “Muito do sucesso das startups depende de encontros fortuitos, no boteco, no almoço. O jovem com uma grande ideia pode se aproximar de um CEO, de um investidor, de alguém de uma empresa de tecnologia maior e apresentar seus projetos. Encastelado em uma torre envidraçada é mais difícil”, diz Silvio Meira.

Em São Paulo, o governo Alckmin levou quinze anos para tirar do papel um polo tecnológico no quintal da USP, que nunca funcionou; muitas incubadoras da Faria Lima ainda têm pouca relação com a vida do bairro, ao contrário do Recife (Raul Juste Lores/Veja SP)

Ele compara o pioneiro distrito digital de Boston, com sedes corporativas ao longo de uma estrada, cada uma em sua bolha (e usando seu próprio refeitório), com boa parte do Vale do Silício, onde os encontros são mais espontâneos, da universitária Palo Alto à cosmopolita San Francisco (que abriga Twitter, Uber, Airbnb e Salesforce). A convivência fez um dos lados crescer mais que o outro.

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A máquina de empregos acabou gerando um círculo virtuoso de mais interessados em estudar carreiras como ciência da computação, engenharia de computação e de software, e sistemas de informação. Há um estudante nessa área para cada 346 habitantes no Recife (a maior proporção entre todas as capitais com mais de 500 000 habitantes); em São Paulo, há um para cada 704 (15º lugar entre 23). Mais de 300 empresas digitais surgiram ali, como Mr. Plot (do Mundo Bita), Neurotech, Insole e In Loco, a grande maioria se instalando e restaurando casarões históricos. Gigantes como Accenture, Microsoft e Samsung abriram escritórios ali para aproveitar o ambiente.

A lentidão da burocracia do patrimônio, infelizmente, emperra várias iniciativas. O Porto seria mais rico se tivesse mais moradia, mas projetos de adaptação do casario e de armazéns para uso residencial são morosos. Uma passagem interna entre dois pequenos casarões pode levar três anos para ser aprovada (em Portugal, por exemplo, mudanças no interior das edificações são bem mais expressas). Que os burocratas percebam que muitas vezes condenam prédios ao abandono com seu “zelo”.

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Publicado em VEJA São Paulo de 14 de outubro de 2020, edição nº 2708

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