De 1945, prédio agradou elite no Guarujá, então com 7000 habitantes
Conheça o Edifício Sobre as Ondas, cujo projeto era de uma modernidade rara até em São Paulo
Menos de dois meses após o fim da II Guerra Mundial, a prefeitura do Guarujá aprovou a construção do Edifício Sobre as Ondas, em outubro de 1945. O projeto era de uma modernidade rara até na capital. A curva da torre conversava com a privilegiada localização — um promontório sobre pedras que divide as praias de Pitangueiras e Asturias — e demonstrava que o vocabulário autóctone de Oscar Niemeyer para o modernismo de Le Corbusier começava a produzir inspirados herdeiros.
A elite paulistana de então frequentava o cassino do Guarujá e alguns poucos hotéis (Santos Dumont se suicidou em um deles, o La Plage, em 1932). Ao contrário de Santos, a segunda maior cidade do estado em 1940, o Guarujá era quase desabitado: tinha 7 000 habitantes. A construção da Via Anchieta fez o médico Roberto Braga pensar em um prédio de apartamentos de frente para o mar (um dos únicos anteriores, o Edifício Monduba, projetado por Rino Levi, ainda estava sendo erguido).
Ele buscou a ajuda do jovem arquiteto santista, radicado na capital, Oswaldo Corrêa Gonçalves para escolher o terreno (ali ficava o pequeno Hotel Orlandi) e também para atrair um arquiteto mais experiente para a empreitada, Jayme Fonseca Rodrigues. Porém Rodrigues morreu apenas um ano depois, aos 41 anos, e Gonçalves, que não tinha nem 30, tocou a obra até sua finalização, em 1951.
Com restaurante, salão de jogos, 44 unidades de um quarto, outras 44 divididas entre apartamentos de dois e três quartos, e duas coberturas, o Sobre as Ondas vendeu como pãozinho quente. Pastilhas cerâmicas em tons de azul foram aplicadas na fachada, e o térreo tem pé-direito duplo, com direito a brisa.
Pouco depois de entregue o prédio, Braga quis fazer uma casa de praia anexa ao Sobre as Ondas. Convidou Gregori Warchavchik para projetá-la, mas este, que estava pilotando o projeto da sede do Clube Paulistano e tinha acabado de criar sua construtora, passou a pequena encomenda a dois de seus assistentes, Henrique Verona Cristofani e Haim Vaidegorn, que entregaram em 1956 a “Residência sobre as Pedras” — as rochas estão perfeitamente integradas. O dono queria um bar em casa — e assim nasceu o pequeno anexo em forma de concha, de vidro e concreto, acessível por uma passarela.
Acessibilidade ainda é tema importante por lá: uma ciclofaixa recém-aberta em frente ao Sobre as Ondas complicou a vida dos moradores — o prédio não tem garagem. “Estão multando e até xingando quem tenta apenas desembarcar com sacolas ou malas, mesmo gente de idade”, diz a moradora Patricia Furquim. Certas polêmicas paulistanas também chegaram ao litoral.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 29 de janeiro de 2020, edição nº 2671.