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Notas Etílicas - Por Saulo Yassuda

Por Saulo Yassuda Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
O jornalista Saulo Yassuda cobre cultura e gastronomia. Faz críticas de bares na Vejinha há dez anos. Dá pitacos sobre vinhos, destilados e outros assuntos
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Derrotados pela crise, bares e restaurantes vendem móveis e outros itens

Para entregar logo os imóveis ou pagar boletos atrasados, empresários promovem bazares, leilões e até rifa

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Atualizado em 20 jan 2022, 15h25 - Publicado em 25 jun 2021, 06h00
Fachada do antigo restaurante Ramona no Centro de São Paulo. De esquina, local contava com portas de vidro, onde escreviam o menu do dia.
Fachada do Ramona, no centro: fechado em abril  (Divulgação/Divulgação)
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O triste encerramento de bares e restaurantes tem feito outro mercado esquentar: o da comercialização do arsenal de utensílios e objetos de decoração usados. “Já vendemos 70% do que tínhamos”, conta o chef Bruno Fischetti, sócio do Ramona, restaurante do centro que não resistiu ao abre e fecha da quarentena e teve as portas baixadas definitivamente em abril.

Além do repasse de equipamentos a colegas do setor — “os itens de cozinha maiores foram adquiridos pelo pessoal que está investindo no ramo”, explica —, a venda tem alimentado ex-clientes que querem apenas arrematar uma lembrancinha. “Quem é muito fã da casa acaba levando os objetos para ter de recordação e nos ajudar”, afirma.

O piano vertical da Schwartzmann que ficava no salão e sugava o olhar de quem entrava foi o primeiro da lista a ir embora. Os minissaleiros de vidro em formato de cubo, trazidos de Nova York, saíram feito água. Ainda faltam alguns lustres, quadros, louças e móveis para a liquidação total — tudo é combinado via Instagram.

Móvel com espaços coloridos, nas cores, amarela, larana, vermelho e branco. Vendido no bazar do restaurante Ramona.
Móvel colorido: lembrança para antigos clientes do Ramona (Divulgação/Divulgação)

Para esvaziar os imóveis e devolvê-los aos proprietários, muitos endereços que sucumbiram à crise promoveram bazares — digitais ou presenciais, com público limitado — desde o início da pandemia. Eles foram realizados por casas como o Mandioca Cozinha, no centro, o Tavares, no Jardim Paulista, o Namga, em Perdizes… De calculadora a cadeira de design, quase tudo estava à disposição. A grana costuma ajudar a pagar dívidas trabalhistas, fornecedores e alguns boletos.

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Homem em pé e outro sentado apoiados em balcão de bar
Mandíbula: bar encerrado no centro no ano passado ainda tem objetos à venda (Mario Rodrigues/Veja SP)

Encerrado há mais de um ano, em abril de 2020, o bar Mandíbula, que ficava no centro, tem ainda objetos remanescentes. “As geladeiras, por exemplo, ou o elevador de carga são os mais difíceis de vender. Muita coisa menor e de decoração já foi mais rápido, tipo o mobiliário, poltrona, luminárias, papeleiras, móveis de disco, mesa de centro, copos, material de bar…”, enumera o dono, André Bandim. Ele divulga os produtos no Instagram e em plataformas como OLX e Mercado Livre.

Montagem com uma poltrona do lado direito e no lado esquerdo um lustre. Itens vendidos no antigo restaurante Ramona
Peças do Ramona: poltrona e lustre entraram na lista itens vendidos por Instagram (Divulgação/Divulgação)
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Outros empresários foram além. Donos do A Barra, fechado em março na Barra Funda, Juglio Ortiz e Nora Brass se despediram de parte de seus itens no formato “família vende tudo”, assim como fizeram uma rifa com nomes de mulheres para se livrar de garrafas abertas de bebidas que rendiam bons drinques, como gim, Cynar, licor marasquino e bitters. “Em dois dias, vendemos os 100 nomes”, afirma Ortiz.

O empresário Maurizio Laniado, da lanchonete Falafada, encerrada no fim de abril em Higienópolis, evitou fazer a comercialização fracionada. Optou por contratar uma empresa especializada em revender tudo o que havia no estabelecimento sem alarde no mercado, em troca de comissão. Nada de atender o consumidor que quer comprar um par de copos ou uma cadeira gasta apenas. “Fazer bazar seria muito mais complicado: requer mais tempo e marketing para comunicar. Meu prazo para entregar o ponto não permitia”, conta Laniado.

Pessoas sentadas em um sofá longo, conversando com outras duas sentadas em banquinhos.
O bar A Barra antes de fechar: bazar e até rifa para liberar o espaço (Romero Cruz/Veja SP)
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“Com a pandemia e muitos estabelecimentos fechando, a procura por leilões para venda de bens de restaurante triplicou”, calcula a gerente comercial da Sold Leilões, Ana Matheus. A empresa facilita a operação da comercialização das posses por meio de concorrência digital. As compras são feitas tanto pelos donos de estabelecimentos como pelo público em geral. “Quando um bistrô fecha, todo mundo quer os itens em casa”, observa. “Temos tido também muita procura de gente que abriu uma marca de delivery e adquire equipamentos industriais usados para começar um negócio em casa.”

A fachada da casa, com paredes de tijolinhos e ambiente de jeitão simples
Falafada: lanchonete infelizmente não resistiu à crise (Leo Martins/Veja SP)

A executiva notou uma diferença de perfil entre quem busca a Sold durante a quarentena. “Antes, atendíamos muito retrofit de restaurante. Agora, é mais fechamento”, lamenta. Se tem algo que consola nesse quadro é que ao menos esse comércio conserva boas memórias. O arquiteto e paisagista Rulian Nociti, comprador do pia- no do Ramona, não se arrepende da aquisição. “Precisarei restaurar, mas tem aquela coisa afetiva. Quando jantei no restaurante e toquei esse piano”, diz. “Dá pra brincar.”

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