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Mika Lins dá um tempo na atriz e comanda encenação de “Palavra de Rainha”: “eu me sinto mais feliz como diretora”

Nos últimos tempos, a atriz paulistana Mika Lins, de 48 anos, resolveu mudar de lado. E com resultados bem significativos. Do palco para a coxia, ela se transformou em diretora de dois dos mais interessantes espetáculos vistos na cidade, o drama “Dueto para Um” (2010) e o solo “Festa no Covil” (2013). A nova investida de […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 26 fev 2017, 21h02 - Publicado em 5 set 2014, 08h58
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Mika Lins: “Palavra de Rainha” é o terceiro espetáculo na direção (Foto: Taci Glasberg)

Nos últimos tempos, a atriz paulistana Mika Lins, de 48 anos, resolveu mudar de lado. E com resultados bem significativos. Do palco para a coxia, ela se transformou em diretora de dois dos mais interessantes espetáculos vistos na cidade, o drama “Dueto para Um” (2010) e o solo “Festa no Covil” (2013). A nova investida de Mika é “Palavra de Rainha”, monólogo escrito por Sérgio Roveri e protagonizado por Lu Grimaldi, que estreia no Teatro Viradalata no sábado (13). Em cena, uma visão das contradições de Dona Maria I (1734-1816), conhecida como Maria, a Louca, a primeira mulher a assumir o trono em Portugal. A temporada será nas sextas, às 21h30, sábados, às 21h, e domingos, às 20h, até 30 de novembro, com ingressos a R$ 30,00. Fala um pouco mais disso, Mika!  

Como “Palavra de Rainha” entra na sua vida?

A Lu Grimaldi me convidou para dirigir a peça. A paixão da atriz pela vida dessa mulher foi o que me encantou, mais que a própria personagem. A solidão, a loucura, ali tem muitos ingredientes. Pelas mãos da Lu e do Sérgio Roveri foi que eu conheci profundamente essa historia. Antes, eu tinha simplesmente as referências escolares.

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Quais são os perigos de lidar com uma personagem real?

Personagem real sempre será uma complicação se seu objetivo for reproduzir a realidade. Não sendo assim, a personagem real é simplesmente uma personagem. Se você interpreta com verdade, verdade cênica, não importa a linguagem escolhida pelo diretor. Não importa nem se a caracterização se aproxima ou não da realidade. O público acreditará no jogo proposto no espetáculo.

Esse período histórico é um prato muito cheio para a caricatura, não? É uma vingança dos brasileiros contra os exploradores?

Debochar dos opressores é um clássico e faz muito bem ao fígado. É quase uma terapia para todo mundo. No caso de Dona Maria, o que, para mim, é mais interessante teatralmente é essa rainha com a mente à deriva. Essa foi minha escolha. Às vezes, é engraçado. Em outras, porém, é muito triste.

+ Leia entrevista com o dramaturgo Sérgio Roveri.

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Os seus dois trabalhos de direção anteriores são basicamente calcados na combinação de um bom texto e um forte trabalho de interpretação. Essa dupla anda em baixa no teatro de hoje?

Eu sou uma apaixonada pelo ator. Dirigir um ator me deixa em um estado de concentração e alegria incrível. Para mim, teatro é texto e ator na sua raiz. Quando o texto é bom, quase tudo está ali indicado. O que talvez a gente veja às vezes são espetáculos criados ao redor do texto, tão à margem que você se pergunta “por que escolheram montar isso?”. O ator fica tão abandonado que a encenação parece “sobrar”. Se o trabalho de interpretação for forte, a encenação faz sentido, seja na linguagem que for. A encenação, o cenário e o figurino não podem ser adornos. De que adiantam todas minhas referencias nas artes plásticas se o ator não tiver um trabalho forte de interpretação? Melhor eu me dedicar a fazer uma instalação, então… Eu brinco que, desse ponto de vista, eu sou uma criatura “pré-TBC”, anterior ao Teatro Brasileiro de Comédia. Gosto de sentar com os atores na frente do texto e encarar a pedreira que for. Tenho verdadeiro horror de análises psicanalíticas e psicológicas de personagens. Essas análises não fazem um bom teatro. Se fosse assim, todo psicanalista seria um ator incrível.

Lu Grimaldi: protagonista do monólogo "Palavra de Rainha" no Teatro Viradalata (Foto: Lenise Pinheiro)

Lu Grimaldi: “Palavra de Rainha” ocupa o Teatro Viradalata, em Perdizes (Foto: Lenise Pinheiro)

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Para o diretor, como é lidar com o ator enquanto ele não consegue chegar ao ponto do personagem?

Antes de diretora, eu sou uma atriz. Então, minha abordagem do ator tem sempre a intérprete presente. Lido com os atores como gostaria que os diretores lidassem comigo. Conheço suas fragilidades. Sei ver quando o ator está atrapalhado com a partitura de um personagem, vejo a crise e sei também quando ele não trabalhou sozinho. Ator tem de estudar, trabalhar e criar na solidão. Não deve se “encostar” no ensaio.

Como resolver se o ator não corresponde as suas expectativas? Por você conhecer o outro lado, essa percepção se torna mais fácil ou mais difícil?

Às vezes, o ator não consegue e eu vou tentando de várias maneiras. Algumas vezes, eu tenho que respeitar o tempo e saber a hora de pedir que ele acrescente uma nova camada ao papel. Eu acho que a atriz encontrou a diretora. Na realidade, sempre planejei um dia dirigir. Sou uma atriz que sempre pensa no todo. Na minha formação no Jogo Estúdio, escola dirigida por Eugênia Thereza de Andrade, minha mãe, quando criávamos uma cena tínhamos que fazer de tudo, cenário, figurino, luz, música. As cenas eram criticadas formalmente pelos colegas também em todos os aspectos. Estudei artes plásticas desde criança. Desenho até hoje. Sou uma pessoa forjada nas artes visuais e no teatro. Quando eu tinha 5 anos, o meu padrasto, arquiteto e artista plástico, trouxe um livro do artista plástico Javacheff Christo para eu ver. Eu lembro até hoje do impacto que senti ao ver aquelas montanhas embrulhadas. Cresci em um ambiente de artistas. O projeto 7 Leituras, 7 Autores, 7 Diretores, dirigido por minha mãe no Sesc Consolação, tem 8 anos e foi um grande laboratório. Em todos os anos, eu dirigi uma leitura dramatizada.

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+ Leia mais sobre “Festa no Covil”. 

Quanto tempo você estabelece para chegar a um resultado? 

Tenho montado as peças em dois ou três meses. Eu e o Daniel Mazzarolo, meu assistente, criamos cronogramas para guiar nossos ensaios e tornar nosso tempo artisticamente produtivo. É uma regra também das peças que eu dirijo. Cenário e figurinos ficam prontos nas primeiras semanas. Quando o ator sai do trabalho de mesa, ele já entra no espaço cênico definitivo do espetáculo. Isso nos dá um ganho artístico enorme. Dá mais segurança ao ator e a mim.

Por onde anda a atriz?  

Esse ano, eu completo três décadas de carreira. Mas atualmente todas as minhas ideias são para direção. Se aparecer um papel bacana, é provável que eu tope interpretá-lo. Acho que serei até uma atriz melhor para um diretor depois de ter me tornado diretora também. “Memórias do Subsolo”, montado em 2009, foi meu último trabalho.

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Você acha que alcança melhores resultados como diretora?

Não sei se alcanço melhores resultados como atriz ou diretora, mas a verdade é que eu me sinto mais feliz como diretora. E isso já é muito bom, não?

Bel Kowarick e Marcos Damigo em "Dueto para Um": estreia de Mika Lins na direção (Foto: Roberto Setton)

Bel Kowarick e Marcos Damigo em “Dueto para Um”: primeira direção de Mika (Foto: Roberto Setton)

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