Luís Melo estreia ‘Mutações’, peça baseada em obra milenar chinesa
Depois de 21 anos, ator retorna ao Teatro Anchieta, onde por dez anos brilhou no grupo do CPT
Luís Melo está de volta ao Teatro Anchieta. Fazia 21 anos, desde que atuou em Cãocoisa e a Coisa Homem, de Aderbal Freire-Filho, que o ator curitibano não encenava no palco onde construiu os alicerces de sua carreira. Entre 1985 e 1995, integrou o grupo do Centro de Pesquisas Teatrais (CPT) de Antunes Filho (1929-2019), sediado ali no Sesc Consolação, onde estrelou peças como Vereda da Salvação (1993) e Gilgamesh (1995).
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Deixou a trupe em 1995 para alternar as artes cênicas com as telenovelas. Com nostalgia, o artista retorna ao espaço nesta sexta (7) para a estreia do espetáculo Mutações, dirigido por André Guerreiro Lopes. A peça tem livre inspiração em I Ching — O Livro das Mutações, obra milenar cheia de simbologias e uma das bases da sabedoria chinesa.
Repleta de princípios taoistas, a dramaturgia de Gabriela Mellão busca reforçar a sensação de impermanência. “São cenas, textos, poemas que vão transitando”, conta Melo, no palco com os atores Andréia Nhur e Alex Bartelli. “Os textos são lindos e extremamente difíceis”, revela. Curiosamente, em sua última peça, Ausência (2013), o intérprete não tinha falas.
Aqui em São Paulo morou até 1997, na região da Bela Vista. Depois de uma temporada no Rio, voltou para Curitiba, em 2000. Saudade da capital paulista não falta. “A cidade ensinou muita gente a ser livre, a produzir as próprias coisas.”
Desde janeiro sem contrato fixo com a Globo, ele lamenta faltarem propostas de trabalho interessantes aos maiores de 60. “Estou sofrendo com o etarismo”, revela o ator de 65, que diz sentir na pele a discussão sobre representatividade, debate que ele e outros colegas da novela Sol Nascente (2016) despertaram à época por viverem personagens asiáticos sem ter origem oriental. “Não faria novamente o papel.”
Atualmente, Melo se dedica ao Campo das Artes, seu espaço cultural em São Luiz do Purunã, a 40 quilômetros de Curitiba, com residência artística, pesquisa e apresentações, onde tem convivido com artistas mais jovens. “Falei essa coisa do etarismo, mas luto por essa geração que tem surgido, tão inquieta querendo fazer arte”, celebra.