Enrique Diaz, entre “Cine_Monstro”, “Joia Rara” e a faculdade de letras: “sou sempre o mesmo cara em qualquer lugar”
A vida de Enrique Diaz anda uma loucura. Teatro, televisão e até uma nova faculdade, a de letras. Além disso, tem a mulher, a atriz Mariana Lima, e as duas filhas, Elena e Antônia. Em nosso primeiro contato, o ator e diretor de 46 anos sugeriu que a entrevista fosse marcada cedinho, para antes das […]
A vida de Enrique Diaz anda uma loucura. Teatro, televisão e até uma nova faculdade, a de letras. Além disso, tem a mulher, a atriz Mariana Lima, e as duas filhas, Elena e Antônia. Em nosso primeiro contato, o ator e diretor de 46 anos sugeriu que a entrevista fosse marcada cedinho, para antes das 9 da matina, porque, depois disso, entraria em estúdio e sabe Deus que hora ficaria livre. Sim, ele é um dos diretores da novela Joia Rara. Eu, o repórter, confesso que amarelei. “Então, a gente pode conversar no táxi, enquanto eu vou para o Projac, no início da tarde”, sugeriu ele. Topei na hora. E foi assim. Uma entrevista com o pé no acelerador. Entre uma coordenada e outra para o motorista, Diaz falou sem parar, cheio de ideias, projetos, exclamações e interrogações, mas com uma linha de raciocínio impecável, que, em momento algum, deixa o interlocutor confuso. Depois de uma bem-sucedida temporada no Rio, o monólogo Cine_Monstro estreia no Teatro do Sesc Pompeia. Trata-se de mais um texto do canadense Daniel MacIvor, o mesmo autor de In on It e A Primeira Vista, montados por ele em 2009 e 2012. Sozinho no palco, Diaz dá voz a treze personagens em uma série de histórias cruzadas.
Você nunca fez um solo e, agora, treze personagens. É para acabar com o medo de vez?
Acho que é uma coisa abusada mesmo da minha parte. Fazer logo treze personagens?! Nunca tive o sonho ou a pretensão de protagonizar um monólogo. Sabe esse papo? Hoje, eu percebo que o monólogo é muito mais que um exercício específico. O diretor Marcio Abreu fez uma colaboração na reta final do espetáculo. Foi uma relação de convivência. Não determinou qualquer conceito. Ele teve uma visão externa da montagem. O todo já estava definido por mim, pela minha assistente, a Keli Freitas. Mas na hora em que você se vê diante de possibilidades diferentes, de olhares diferentes, pode-se discutir com a equipe formas de aprimorar o trabalho.
Houve muito trabalho antes da estreia, não? Eu me lembro de apresentações no Teatro Alfredo Mesquita e no Itaú Cultural, em São Paulo. Foi uma forma de testar o trabalhar, ganhar mais segurança?
Foi um processo longo. Levou mais de ano, mas com muito pouco tempo de ensaios. Os ensaios, com tudo criado e definido, duraram três semanas no máximo. Eu já vinha algum tempo fazendo leituras públicas. A primeira delas, dentro da programação de reinauguração do Alfredo Mesquita, ocorreu em julho do ano passado. Cada vez eu decorava melhor o texto, estudava mais e via como dizer aquilo no palco. Aos poucos, fui mudando a luz, aperfeiçoando aqui e ali. A estreia oficial ainda não foi no Festival de Curitiba, em março. Foi em junho no Rio, no Oi Futuro do Flamengo. Eu topei fazer Curitiba por ser uma apresentação como parte do processo. Mas o legal foi ver que, quando chegamos ao festival, já tínhamos o conceito definido. Lá, nos confirmamos que aquele seria o formato definitivo. Isso é uma coisa paradoxal em se tratando de teatro. Mas o que digo é que, depois das apresentações em Curitiba, o texto, os vídeos e a luz já estavam amarrados.
O Daniel MacIvor participou de alguma forma da montagem dos espetáculos, dando opiniões ou assistindo a alguns ensaios?
O Daniel não viu nenhuma das montagens. A gente nem se conhece pessoalmente e sequer nos falamos por telefone. Nosso contato sempre foi feito através de e-mails. Mas agora ele vem ao Brasil e, além de a gente se conhecer, vai ter a oportunidade de ver encenado dois dos três espetáculos. O Daniel ainda vai participar de um debate no Sesc Pompeia. Depois, ele segue para o Rio e verá In on It, com o Fernando Eiras e o Emílio de Mello, que vai ter duas apresentações no Galpão Gamboa, em 14 e 15 de dezembro. Fica faltando só A Primeira Vista. A gente tentou trazê-lo para o Brasil na época em que o In on It começou a repercutir, mas não deu muito certo. Ele não conseguiu agenda e nós também não tínhamos estrutura para bancar a história.
Como aconteceu essa história de estrear como diretor de novelas em Joia Rara?
Eu tenho uma relação com o audiovisual que sempre esteve presente nas minhas peças. Adoro transitar por muitos lugares e não me prender a uma coisa só. Quando eu participei de Cordel Encantado, a Amora Mautner já tinha vindo com uma conversa sobre isso e não entendi muito bem. Depois, na época da pré-produção de Joia Rara, ela me procurou de novo, me ofereceu um contrato de três meses. E ainda falou que teria um personagem para mim. Eu disse que não poderia fazer nenhum papel porque isso impediria a turnê do espetáculo. E ela não desistiu (risos). Veio com esse papo de que, se eu me juntasse ao time de direção, montaria um esquema que eu ficaria livre para a peça de sextas a domingos. Eu topei, não é?
E está sendo muito diferente de dirigir teatro?
Estou achando maravilhoso. É uma dinâmica complemente diferente, inclusive da de um ator de televisão. Muita gente que trabalhou comigo no Cordel Encantado está nessa novela. Tanto os atores como os técnicos. É uma turma muito legal. Acho que o fato de eu ser um diretor de teatro talvez contribua, mas não sei se é isso que conta ali, se era essa a intenção da Amora. Talvez tenha mais a ver com a minha visão das coisas, com a forma que enxergo uma interpretação, uma cena. Sei lá. No fundo, essa visão das coisas é a mesma em qualquer veículo.
Essa diversificação de atividades é uma consequência de sua saída da Cia. dos Atores?
Essa história de fazer coisas diferentes, como um monólogo, a participação como ator no seriado 3 Teresas e, agora, a direção de Joia Rara, está relacionada com a minha saída. Está, né? Sem dúvida! Sair de um grupo depois de mais de 20 anos é estranho, é como deixar um lugar fixo, uma história que é sua. Só que eu também não gosto de lugar fixo. Estava na hora. Mas o Enrique Diaz que estava lá na Cia. dos Atores até ontem é o mesmo de hoje. O meu olhar e o meu jeito de trabalhar é o mesmo. Provavelmente eu estaria fazendo esse espetáculo vinculado ao grupo. Talvez não fizesse a novela por uma questão de tempo. Agora, eu tenho chances maiores. Sou sempre o mesmo cara em qualquer lugar. Existe uma quantidade maior de coisas possíveis.
E uma responsabilidade maior, não?
Mas existe uma qualidade, existe um nível que é o mesmo que eu dedico a qualquer uma das minhas atividades, entende? E elas são muitas atualmente. Cada vez mais. Eu até voltei a estudar. Estou fazendo a faculdade de Letras na PUC. Fiquei muito a fim. Consegui eliminar alguns créditos de outros cursos que fiz, entrei lá e estou gostando. Ainda tenho duas filhas para olhar, uma casa. Sei lá. O momento está muito louco mesmo.