Pouco se falava da atriz carioca Dani Barros até novembro passado. Com uma extensa carreira no grupo Doutores da Alegria e raras pontas na tevê, ela havia chamado mais atenção pela expressiva caracterização de uma galinha na comédia “Maria do Caritó”, protagonizada por Lilia Cabral. Depois da estreia de “Estamira – Beira do Mundo”, porém, a artista de 39 anos passou a ser alvo de merecida atenção. No monólogo dramático escrito ao lado da diretora Beatriz Sayad, Dani esbanja técnica e energia a serviço de um trabalho transformador. Para si e para o público.
Vencedora do Prêmio Shell carioca em março, a atriz recria com entrega ímpar a personagem apresentada ao público no documentário lançado pelo cineasta Marcos Prado em 2005. Doente mental crônica, a catadora de lixo Estamira Gomes de Sousa (1941-2011) passou boa parte da vida no Aterro Sanitário do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ) e tinha uma percepção devastadora dos fatos. Em meio ao irrepreensível desempenho, Dani ainda evoca outra história delicada – a de sua mãe esquizofrênica – e faz do espectador um cúmplice emocionado do sincero desabafo. Quem for ao Sesc Pompeia até o dia 29 terá a chance de ver um trabalho de interpretação que surge de tempos em tempos e marca uma linha divisória na trajetória de uma atriz.