Circo Grafitti retorna após quinze anos com espetáculo sobre bossa nova
'Bossa Nova Cabaret Bar', em cartaz no Teatro do Sesi, é o novo trabalho do grupo paulistano conhecido pelas comédias musicais brasileiras
Um ônibus cedido pela extinta Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC) era o cenário de Você Vai Ver o que Você Vai Ver, primeiro espetáculo do grupo paulistano Circo Grafitti, que estreou em 1989, no foyer do Centro Cultural São Paulo, e arrematou 17 prêmios no Brasil e no exterior. Depois de um hiato de quinze anos, a trupe fundada pelas atrizes Rosi Campos e Helen Helene, e pelo diretor musical Pedro Paulo Bogossian, volta com uma nova peça, Bossa Nova Cabaret Bar, que relembra o gênero carioca, no Teatro do Sesi.
Apesar do longo tempo de atuação, o Grafitti, conhecido pelas comédias musicais brasileiras, levou aos palcos apenas seis peças próprias. “As pessoas às vezes nos chamam de ‘grupo sazonal’. Mas, na verdade, estamos sempre em contato, lendo e pesquisando, o que nem sempre resulta em um espetáculo”, diz Bogossian. Soma-se a isso as carreiras paralelas dos integrantes, o que inviabiliza a produção aprofundada característica do grupo. “Tivemos um reencontro feliz, porque os três podiam focar nesse trabalho com tempo e dedicação, sem ter outras coisas no meio do caminho”, diz Helen.
O novo espetáculo, que começou a ser escrito por Bogossian há cerca de dez anos, conta a história da bossa nova a partir de cenas inspiradas em músicas e astros da época. A trama é ambientada no fictício Copacabana Cabaret Bar, onde cantores e comediantes fazem um show de homenagem ao movimento. No bom estilo do Grafitti, os números misturam a atmosfera do cabaré europeu do início do século XX com o teatro de revista, o clown e o circo. “Apesar das acusações de ser ‘de elite’, foi um gênero absolutamente popular, uma commodity brasileira”, acredita Helen. “A bossa conquistou o mundo. Garota de Ipanema teve versões em quarenta línguas diferentes só no primeiro ano após o lançamento, isso quando ainda não existia internet”, diz Bogossian.
Esse é, inclusive, o mote de uma das cenas, na qual os atores cantam a música de Tom Jobim em alguns dos idiomas em que ela foi gravada, como inglês, francês, japonês e italiano. Em outro momento, o público poderá ver Frank Sinatra e Jobim juntos em uma performance — acredite! — de Dancing Queen, música do grupo sueco ABBA, hit das danceterias da década de 70, na versão bossa nova.
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Mais de trinta anos após a estreia, o Circo Grafitti mantém sua estética. No entanto, teve de mudar seu modo de fazer comédia. “O mais difícil hoje é não poder falar nada, pois tudo ofende”, diz Rosi, atriz conhecida por seus papéis na TV Cultura e na Globo. Quem tem auxiliado nessa “reformulação” é o elenco, composto por jovens atores entre 20 e 40 anos. “Eles se preocupam muito com o modo como as coisas podem ser percebidas. Então, às vezes sugerem ‘será que não é melhor falarmos desse outro jeito?’. Daí a gente diz ‘tá, tá bom’ e mudamos. É algo muito novo para a nossa geração”, conta Rosi.
A trupe também acredita que trabalhar com artistas jovens é um modo de divulgar a bossa nova, que ficou distante do público atual. “Dou aula em universidade, para alunos de 18, 19 anos, e percebo um desconhecimento sobre o gênero”, conta Bogossian. “Uma das atrizes tem 24 anos, é um pessoal que nem imagina o que foi a bossa nova”, diz Rosi.
Para Rachel Ripani, atriz que, ao contrário da maior parte do elenco, já havia trabalhado com o Grafitti, a temporada no Sesi traz o reconhecimento que a companhia merece. “É um grupo fundamental na cena teatral brasileira e paulista que infelizmente muita gente nunca assistiu e não conhece”, acredita.
Bossa Nova Cabaret Bar. (100min). 12 anos. Teatro do Sesi, Centro Cultural Fiesp, Avenida Paulista, 1313, ☎ 3528-2000. ♿ Qui. a sáb., 20h. Dom., 18h. Grátis (ingressos retirados no site). Até 4/2/24. sesisp.org.br/cultura.