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Bob Wilson para ele mesmo

Sentado na plateia do Teatro do Sesc Belenzinho, na noite de quinta (19), eu ouvi de um diretor da cena paulistana um comentário que me deixou pensativo. “Entendo e aceito o que você analisou na minha nova peça, mas existe uma generalização ao afirmar que o espetáculo ‘não atinge um equilíbrio capaz de envolver o […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 12h33 - Publicado em 21 abr 2012, 00h04

O ator e encenador americano no monólogo “A Última Gravação de Krapp” (Foto: Lucie Jansch)

Sentado na plateia do Teatro do Sesc Belenzinho, na noite de quinta (19), eu ouvi de um diretor da cena paulistana um comentário que me deixou pensativo. “Entendo e aceito o que você analisou na minha nova peça, mas existe uma generalização ao afirmar que o espetáculo ‘não atinge um equilíbrio capaz de envolver o espectador’”, disse ele, com absoluta gentileza. Respondi que isso era inevitável. “Afinal, na revista, não posso escrever em primeira pessoa”, soltei, na defensiva. “E, como público, sua peça não me envolveu.”

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Ao resenhar um espetáculo, a visão do jornalista – reforçada por uma bagagem que possibilita embasar a análise – está sobreposta e, sendo assim, minha opinião é realmente muito pessoal. É a forma como reagi a tal mensagem. Sempre considerei arrogante um texto jornalístico em primeira pessoa. Nesse post inaugural, porém, vou cair na cilada de escrever dessa forma, já que na internet é permitido ao blogueiro manifestar-se como bem entender. Será? Mas não pretendo que isso seja uma rotina, ok?

Na última semana, o ator e diretor americano Robert Wilson, o Bob, trouxe a São Paulo o espetáculoA Última Gravação de Krapp” para cinco apresentações. Trata-se um dos maiores nomes do teatro moderno e, há 12 anos, não pisava no palco. Só isso justifica o fato de que os ingressos tenham se esgotado em menos de uma hora. Expectativa lá nas nuvens. Mesmo quem não acompanha tanto teatro pensa que “precisa ver o Bob Wilson”. Afinal, “todo mundo vai ver” ou “será que teremos uma nova chance?”.

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Bob Wilson, 70 anos, é o encenador por excelência. A imagem fala mais que o texto. Cenário, luz e figurino, muitas vezes, têm peso igual ou talvez até superior ao do ator. O irlandês Samuel Beckett, autor de “A Última Gravação de Krapp”, é um dos mestres do absurdo, das longas pausas, de um estilo capaz de reafirmar o quanto está cada vez mais sufocante a realidade. Depois do terceiro sinal e da luz apagada, o barulho de uma tempestade toma conta do Sesc Belenzinho. O protagonista entra em cena. Uma coreografia marcada, gestos milimetricamente pensados e uma luz que faz a cena ser dominada por duas cores: o preto e o branco. Quase 20 minutos e nenhuma palavra. Vem a primeira frase: “caixa três, rolo cinco”. O personagem, na porta dos 70 anos, começa a rebobinar a vida. Ouve fitas gravadas no passado em que registrava seu momento e sua visão de mundo. Três décadas antes, ele esbanjava confiança, sentia-se no auge. Hoje, a plenitude ficou para trás e nada mais de excitante acontecerá.

Melancolia absoluta. Tudo dói. E Bob Wilson tenta fazer graça. A própria maquiagem branca ofusca sua expressão. Claro que o público estava diante do grande esteta. Já é esperado muito efeito, muita cena. Mas até que ponto não seria mais desafiador para o próprio mestre colocar suas rugas e fragilidades a serviço do personagem? Sérgio Britto trouxe a São Paulo o mesmo texto há três anos. Era nítida ali a visão do grande homem de teatro consciente de que estava despedindo-se aos poucos de seu ofício e da própria vida. Para Bob Wilson, “A Última Gravação de Krapp” representa outra coisa. O que será? Falta um pouco mais de alma. Como espectador, louvei a oportunidade de vê-lo ao vivo. Mas não me envolvi. E, pelos aplausos apenas respeitosos, ouso acreditar que boa parte da plateia também não.

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