“Deus É um DJ” explora naturalismo como ferramenta da interatividade
Depois de subir dois lances de escada, o público entra no Auditório do Museu da Imagem e do Som (MIS) e, no pequeno palco, os atores já parecem estar na ação do espetáculo Deus É um DJ. De uma forma descontraída, Marcos Damigo reclama que Guta Ruiz não para de lixar as unham e deveria […]
Depois de subir dois lances de escada, o público entra no Auditório do Museu da Imagem e do Som (MIS) e, no pequeno palco, os atores já parecem estar na ação do espetáculo Deus É um DJ. De uma forma descontraída, Marcos Damigo reclama que Guta Ruiz não para de lixar as unham e deveria controlar as horas perdidas ao celular. Ela, por sua vez, comenta que mal teve tempo de descer para fumar um cigarro, e as pessoas começaram a chegar.
O diretor Marcelo Rubens Paiva abre assim a montagem do drama escrito pelo alemão Falk Richter em 1998: sem definir se quem está ali de fato é a dupla de intérpretes ou os personagens da ficção. E essa opção já colabora para conduzir os espectadores a um mundo interativo. Damigo e Guta dão vida a um casal de artistas contratado por uma galeria para passar dias a fio em um apartamento. As câmeras, por todo lado, encarregam-se de mostrar em momento real suas intimidades.
Aos poucos, vem à tona como os dois se conheceram. Eles ainda recriam lembranças, enfrentam crises de ciúme, dançam, namoram e discutem uma questão crucial para o futuro do relacionamento: a possível chegada de um bebê. À medida que a tensão cresce, o espectador deixa de acompanhar as projeções presentes o tempo inteiro e centra o interesse no conflito do casal. O texto, que parece à primeira vista pretexto, se justifica plenamente. O tom extremamente naturalista das cenas reforça a atualidade da dramaturgia, mas é a afinação de Damigo e Guta que torna-se a principal responsável pelo envolvimento da plateia.