Os primeiros vídeogames vendidos no Brasil
Confira os primeiros aparelhos a surgirem no mercado, a partir dos anos 70
Presente em nossas vidas desde o início dos anos 80, o vídeogame se tornou tão importante numa casa quanto a televisão ou o computador. Mas foi um longo caminho até aqui, e os primeiros aparelhos que faziam a gente interagir com a televisão, e não apenas assisti-la, chegaram ao mercado ainda nos anos 70, com pouquíssimos recursos, mas o suficiente para fazer história. Veja aqui os pioneiros, mas não jogue por muito tempo, senão estraga a televisão e os seus olhos!
- Telejogo
Em 1977 chegou ao mercado uma nova maneira de ver televisão, e, pela primeira vez, de interagir com ela. O Telejogo da Philco-Ford era um aprimoramento do Telegame americano da Atari, que só tinha o jogo Pong. No nosso Telejogo, foram feitas três variações do Pong, que chamamos de Futebol, Tenis e Paredão. Os joysticks ainda não existiam, e os controles ficavam no próprio gabinete do jogo. Apesar das dificuldades em jogar com conforto, o Telejogo foi um sucesso absoluto, e abriu o mercado para um novo segmento: os vídeo-jogos.
- Telejogo II
Um ano e meio depois, em 1979, a Philco-Ford lançou a segunda geração do Telejogo, agora com dez jogos e joysticks separados do console, o que facilitava muito o manuseio. O acabamento também ficou mais requintado, com madeira mais clara e alumínio. O game ainda não aceitava jogos externos, o consumidor estava restrito aos jogos que vinham na memória.
- TV-Jogos
Com o sucesso dos Telejogos da Philco-Ford, outras empresas brasileiras criaram suas próprias versões de telejogos, alguns com jogos semelhantes aos que já existiam no modelo que estava no mercado há mais de dois anos, e outros com um novo desafio: corridas. A Superkit lançou o TV-Jogo em quatro versões, sendo que uma delas era TV-Jogo Fórmula 1, e o outro TV-Jogo Motocross, e os outros dois com os mesmos jogos do Telejogo Philco. A definição das imagens digitais anda era muito rudimentar, mas a variedade de jogos começava a ganhar o mercado.
- Odyssey
Os vídeogames já existiam nos Estados Unidos desde meados dos anos 70, então alguns poucos afortunados brasileiros já possuíam esses aparelhos, quando a mania começou por aqui. A Philips/Magnavox já tinha lançado o Odyssey por lá, mas era um game bem simples. No final dos anos 70, lançaram o Odyssey 2, e foi este que conhecemos no Brasil. Ele tinha teclado alfanumérico, o que era um diferencial dos games mais comuns daquela época, porque a Philips queria que ele parecesse um computador. Como este foi o primeiro Odyssey lançado por aqui, não fazia sentido chamá-lo pelo mesmo nome do americano, que trazia o número 2, indicando segunda versão. Por isso, ele ficou conhecido aqui apenas como Odyssey. Foi o primeiro vídeogame lançado por uma grande empresa no mercado nacional baseado em cartuchos, que a gente podia trocar para jogar outro jogo. Foi um sucesso inesperado, mesmo pela Philips, e venderam tudo que tinham em estoque naquele ano de 1983.
- Dactari, Dynavision, VJ9000
O Atari era o vídeogame mais conhecido do mundo, e até nós, brasileiros cercados por uma reserva de mercado sem sentido, já tínhamos ouvido falar deles. Com a popularização dos games, era mais comum encontrar quem tinha um Atari, geralmente trazido do Paraguai por aquele tio que ia sempre pra lá. Nessa onda, pequenas empresas brasileiras começaram a fabricar cartuchos para o Atari, pra suprir a sede de jogos que os novos consumidores tinham. Elas cresceram muito, e algumas empresas até começaram a fabricar clones do Atari para vender legalmente no Brasil. Foi aí que surgiram o Dactari, o Dynavision (da Dynacom) e o VJ9000 (da Dismac), todos compatíveis com o Atari 2600 e com todos os cartuchos que estavam sendo fabricados no Brasil. Ficava mais fácil ter um “Atari”.
- Atari da Atari
Depois de uma longa negociação, a Gradiente finalmente conseguiu os direitos para lançar oficialmente o vídeogame Atari original no Brasil. Por meio de sua subsidiária Polyvox, os consoles e cartuchos originais Atari chegaram ao mercado brasileiro em setembro de 1983, para aproveitar o Dia da Criança e o Natal. A campanha de marketing, caríssima e sem precedentes na época, frisava que aquele sim era o vídeogame da Atari, pondo de uma vez por todas na cabeça do consumidor que todos os outros lançados antes eram mera imitação. Até o slogan da campanha foi contundente: “O Atari da Atari”. A Polyvox colocou dezenas de jogos à disposição no mercado, e ainda com a vantagem de o seu aparelho aceitar todos os outros cartuchos compatíveis com Atari 2600 que eram fabricados por terceiros, o que elevava a quantidade de jogos disponíveis às centenas.
- Intellivision
A Sharp entrou nesse mercado por meio da Digimed, mais tarde Digiplay, esperando alcançar uma parcela menor dos novos gamers, mas aqueles mais exigentes e com maior poder aquisitivo. Seu vídeogame Intellivision era mais caro, mas tinha imagens mais definidas, áudio melhor e controles bem mais completos. Seus cartuchos vinham em embalagens caprichadas com livro descritivo colorido em papel de ótima qualidade, o que superava até o original americano da Mattel. Um ano depois, o console ficou menor, mais leve e com alguns itens melhorados, e foi chamado de Intellivision II.
- Splice Vision
Uma pequena empresa de Sorocaba, a Splice, foi responsável por lançar no mercado brasileiro o videogame mais avançado da época, baseado no Coleco americano. Com chips mais avançados e mais memória, as imagens tinham muito mais definição do que os concorrentes, e a bola era “redonda, não arredondada”, como dizia sua propaganda na época. Infelizmente, tanta tecnologia encarecia muito o produto. A empresa tentou baixar os custos ao máximo, inclusive usando uma caixa plástica padrão para acomodar seu console, mas o produto ainda era caro demais, e relativamente feio em relação aos outros. Assim, só fez sucesso entre os entusiastas de tecnologia, o que significava menos de 5% do mercado, o que não foi suficiente para mantê-lo por muito tempo. Hoje em dia, é um dos games mais raros de se encontrar.
Esses foram os pioneiros…. e todos eles ainda podem ser encontrados à venda em sites especializados, sempre com preços exorbitantes, pagos com alegria por colecionadores e saudosistas. Trazer um pedaço da infância de volta realmente não tem preço.
No decorrer dos anos 80, e principalmente nos anos 90, o vídeogame ganhou mercado, novos fabricantes, consoles mais potentes, e jogos bem mais legais. Do Nintendinho ao Mega Drive, do Game Cube ao Playstation, todos ajudaram a tornar o mercado de games mais lucrativo que o de filmes. Mas isso é assunto pra um outro dia!
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