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Há 102 anos, gripe espanhola causava pânico em São Paulo

A gripe era conhecida pela sua alta letalidade e rapidez; o reeleito Rodrigues Alves foi uma das vítimas

Por Humberto Abdo
Atualizado em 17 jan 2023, 22h14 - Publicado em 17 abr 2020, 06h02
Hospital provisório no Club Athletico Paulistano, em 1918 (Acervo Club Athletico Paulistano/Divulgação)
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Ruas desertas, cidade vazia. Quem pôde escapou para o interior. Era esse o cenário no auge da gripe espanhola em São Paulo, doença que, há 102 anos, deixou mais de 50 milhões de mortos no mundo. Em outubro de 1918, jornais anunciavam o surto em Salvador, Rio de Janeiro e Recife.

“São Paulo não foi a cidade mais atingida porque ainda não era a maior do Brasil”, explica Peter Moon, historiador e jornalista científico. Estima-se que entre 5 000 e 14 000 pessoas tenham morrido entre outubro e dezembro.

“O número é especulativo, mas com certeza foram dezenas ou centenas de milhares”, acredita. Na segunda semana de outubro, famílias dos “barões do café” abandonaram as mansões da Avenida Paulista para se isolar em suas fazendas. Os que ficaram tiveram de enfrentar o caos provocado pelo vírus influenza.

“Os imigrantes eram a força de trabalho e foram os mais atingidos, assim como pobres e descendentes de escravos”, afirma Moon. Os sintomas iniciais incluíam dor de cabeça, cansaço e tosse seca, além de perda de apetite e problemas de estômago. Entre os que contraíram a gripe estava Francisco de Paula Rodrigues Alves, presidente da República eleito pela segunda vez e que morreu em janeiro de 1919 por complicações da doença.

Conselhos ao Povo, com orientações de prevenção do surto da gripe publicadas no jornal O Estado de S.Paulo (Acervo Estadão-Reprodução_ 18 out. 1918).png

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Desabastecimentos, saques e pilhas de cadáveres que aguardavam sepultamento fizeram parte da paisagem paulistana. Anúncios de remédios supostamente milagrosos foram destaque nos jornais, com sugestões como xaropes e até quinino.

O período rendeu uma das teorias sobre a origem da caipirinha, que teria sido criada no interior paulista como remédio popular. O álcool, diziam, era usado para acelerar o processo terapêutico. As precauções para evitar o contágio foram parecidas com as orientações atuais para a pandemia do novo coronavírus: na época, o governo determinou a publicação de “conselhos ao povo”, que incluíam evitar aglomerações, não fazer visitas e “tomar cuidados higiênicos com o nariz e a garganta”.

Comércios foram fechados, autoridades proibiram eventos grandes e desaconselharam visitas a missas ou enterros. Hospitais provisórios foram instalados em escolas e clubes da capital, entre eles o Club Athletico Paulistano. Assim como hoje, enterros foram simplificados e feitos de maneira isolada.

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Em dezembro, já eram mais raros os casos de contágio e a cidade retomava seu ritmo normal. O jornal A Gazeta, como conta o autor José Roberto Walker no romance histórico Neve na Manhã de São Paulo, dizia que “a cidade tinha um clima festivo”. Com a mesma rapidez que chegou, o vírus desapareceu poucas semanas depois.

Para mais novidades e destaques paulistanos, siga Humberto Abdo no Instagram e no Twitter.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 22 de abril de 2020, edição nº 2683.

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