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Memória

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Uma viagem no tempo às décadas passadas por meio de suas histórias, costumes e curiosidades.
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Como foi a vida nos últimos cinquenta anos

O avanço digital mudou tudo

Por Roosevelt Garcia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
20 ago 2018, 12h47
 (Reprodução/Veja SP)
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Antigamente um ser humano normal vivia uma vida inteira sem que o mundo tivesse nenhuma mudança significativa. Isso mudou muito, principalmente para quem já tem 50 e poucos anos de idade. Vivemos numa era que nos propiciou o testemunho de fatos marcantes, uma época de mudanças.

Eu vi ao vivo o primeiro passo do homem na lua, eu vi o tri do Brasil no México e me lembro do céu cheio de balões para comemorar. Eu me lembro das Olimpíadas de 72, de 76, e vi o ursinho Misha chorar no final das Olimpíadas de Moscou em 80. Eu vi a explosão da Challenger e a queda das torres gêmeas ao vivo.

Eu assisti a todos os filmes de Guerra nas Estrelas no cinema, bem como todos os Jornada nas Estrelas, os quatro Indiana Jones e os três De Volta Para o Futuro. Eu frequentei o Cine Comodoro, o Cinespacial, o Cine Copan, o Metro e o Ritz. Eu fui assistir O Império dos Sentidos apenas dois dias depois de fazer 18 anos.

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A explosão do ônibus espacial Challenger, em 1986 (Reprodução/Veja SP)

Eu comprei Wish You Were Here, e o Animals, do Pink Floyd na época do lançamento, e encomendei o The Wall na loja de discos perto da minha casa dois meses antes de ser lançado no Brasil. Eu ouço Kraftwerk desde os anos 70! Eu ouvia a Difusora AM e a Excelsior, a Máquina do Som. Eu tive uma vitrola portátil, e um três-em-um da marca Himitsu.

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Eu vi nascerem as grandes bandas de rock nacional. Eu assisti Perdidos Na Noite na Gazeta, na Record e na Bandeirantes, eu assistia a Som Pop e Fábrica do Som na Cultura, e me lembro quando o Raul cantou Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás no Chacrinha e esqueceu completamente a letra. Eu assisti ao programa de rock Hallellujah na Tupi apresentado pelo Fábio Júnior e pelo Sílvio Brito, antes deles serem famosos. Vi nascerem o Premeditando o Breque e o Língua de Trapo, e também Os Mulheres Negras e os Mamonas Assassinas. Eu lembro quando a Tupi fechou, e também quando a Manchete fechou… (mas não me lembro quando a Excelsior fechou).

Eu tinha uma folha de acetato colorido para colocar na frente da TV preto e branco, para fingir que era colorida. Eu me lembro quando meu pai chegou em casa com nossa primeira TV colorida, e a primeira coisa que vi em cores de verdade foi o desenho Devlin o Motoqueiro. Me lembro do lançamento da TV Stereo, me lembro dos primeiros comerciais do lançamento da TV a cabo no Brasil, me lembro do primeiro TV de plasma, com uma tela pequena, de resolução ridícula de tão ruim, e que custava o mesmo que um carro de luxo.

Eu fui no lançamento do Compact Disc (CD) da Philips, na UD de São Paulo, em 1983. Eles colocaram um canhão de laser na Paulista e outro no Anhembi, e ficavam brincando de atirar um no outro, isso quando laser era coisa do outro mundo. Me lembro quando o CD era chamado de DAD. Eu tive (e ainda tenho) laserDiscs. Eu comprei CDs a prestação, porque era muito caro. E por apenas um dia, eu tive 25% de todos os DVDs lançados no mundo!

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Eu colecionei a SomTrês e a Saber Eletrônica. Eu tenho até hoje os únicos seis volumes que saíram da revista Vruuuum. Eu colecionei os Disney Especial desde o número 11 (depois consegui os anteriores), e tive o Manual do Escoteiro Mirim, primeira edição.

Eu fiz um curso de programação do 8085, o mais rápido processador da época. Eu trabalhei com hard disks de 5 MB e 12 polegadas de diâmetro. Trabalhei com diskettes de 8 polegadas, depois de 5 1/4, e depois de 3,5″. Me lembro do MSX e do CP200. Eu já gravei softwares em fita K-7. Eu tive um PC de 4.77 MHz, com impressora matricial e monitor verde. Eu fiz um vídeo institucional da empresa em que eu trabalhava de resolução 160×120, que era a única possível na época, editado totalmente numa Silicon Graphics, o computador mais rápido daqueles dias.

altavista
Buscador Alta Vista, final da década de 90 (Reprodução/Veja SP)
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Eu tive um celular tijolão da operadora BCP. Eu tinha uma conta de email na Compuserve, e tinha que conectar na internet por um número 0800, porque não existia acesso no Brasil. Eu cheguei a procurar coisas no AltaVista (não existia o Google), e nunca encontrava o que queria, porque na rede não tinha quase nada. Eu lembro quando a internet se resumia a BBSs. Eu vi surgir o MP3, e baixei músicas do Napster, quando uma música de três minutos levava duas horas pra baixar. Vi as empresas pontocom se multiplicarem, e vi muitas fecharem também. Eu vi a forma como a internet mudou o mundo, porque conheci o mundo sem ela.

Eu nasci nos anos 60… vi as coisas importantes acontecerem diante dos meus olhos, vi mudanças na vida das pessoas que alteraram o mundo pra sempre. E vi coisas que podem parecer banais, mas que foram importantes pra mim, e com certeza para toda a humanidade.

 

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