Em ‘Vermelho Monet’, Halder Gomes faz mergulho no mundo da arte
Drama traz Maria Fernanda Cândido e Chico Díaz como personagens complexos que levantam discussão sobre a pintura como mercadoria
✪✪✪✪ Diferente das comédias já lançadas pelo diretor Halder Gomes (Cine Holliúdy e Os Parças), Vermelho Monet, em cartaz nos cinemas, discute a arte enquanto sentimento e sua transformação em mercadoria. O pintor Johannes Van Almeida (Chico Díaz) nunca recebeu a aceitação do mercado e está perdendo a visão em cores. O único tom que lhe guia é o ruivo dos cabelos de sua amada Adele (Gracinda Nave), já doente e pouco responsiva, que reaparece nos cabelos da atriz Florence Lizz (Samantha Müller), sua nova musa inspiradora.
Johannes busca criar uma obra-prima sob a pressão da influente marchand Antoinette Lefèvre (Maria Fernanda Cândido). Velha parceira do pintor, ela tem um papel-chave na trama, que se passa em Portugal e envolve grandes leilões de arte e o debate sobre falsificações.
Antoinette quer conquistar o topo do mundo das artes plásticas, mesmo que seja preciso cometer fraudes para chegar lá. “Antoinette vive o dilema de ser uma apaixonada pela arte e, ao mesmo tempo, estar seduzida pelos jogos de poder”, diz Maria Fernanda, em entrevista a Vejinha.
Recentemente em cartaz com A Paixão Segundo G.H., a atriz vive um período de grandes personagens no cinema e entrega uma ótima performance. Ela também acaba de ser anunciada no novo longa de Kleber Mendonça Filho, O Agente Secreto, protagonizado por Wagner Moura, ainda sem data de estreia.
Pano de fundo do longa de Halder Gomes, a pintura é uma paixão compartilhada pelo diretor e por Chico Díaz. “Sou apaixonado por desenho e pintura desde a infância. Passo grande parte do meu tempo desenhando, pintando, lendo sobre pintores ou viajando para ver museus. Chegou o momento em que, depois de acumular tanta coisa, veio o desejo de transformar isso em filme”, afirma Gomes.
Também pintor, Chico Díaz entrega toda a complexidade de Johannes em cena. “É um privilégio pegar um personagem com tamanha densidade e dimensão humana, artística e estética”, reflete.
Com fotografia de Carina Sanginitto e direção de arte de Juliana Ribeiro, o longa dança na tela, com passos que até olhos menos acostumados a filmes de arte conseguem acompanhar. É o primeiro de uma trilogia planejada por Gomes, e o próximo deverá ser Azul Vermeer. A arte latente e a profundidade dos personagens fazem de Vermelho Monet um filme para lembrar.
Publicado em VEJA São Paulo de 10 de maio de 2024, edição nº 2892