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Filmes e Séries - Por Mattheus Goto

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Lee Pace descreve ‘The Fall’ como ‘experiência única’ em sua carreira

Ator americano fala com exclusividade sobre gravações do filme do Tarsem, relançado em 4K na Mubi, e seus cineastas e atores favoritos atualmente

Por Mattheus Goto
19 out 2024, 09h00
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Lee Pace interpreta Roy em 'The Fall' (2006) (MUBI/Divulgação)
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Clássico cult do indiano Tarsem Singh, The Fall (Dublê de Anjo, 2006), foi adquirido pela Mubi, restaurado e relançado em 4K na plataforma.

O filme acompanha o florescer emocionante de uma amizade entre um homem acidentado e uma criança imigrante em um hospital em Los Angeles, nos anos 1920. Roy (Lee Pace) e Alexandria (Catinca Untaru) recuperam-se de fraturas e buscam um no outro uma válvula de escape da realidade.

Para entretê-la, ele conta uma história fantasiosa de cinco heróis que unem forças para derrubar um governador tirano na Índia. Nessa odisseia, passam por paisagens exuberantes e aventuras ousadas. Até que as fronteiras entre imaginação e realidade começam a desaparecer.

As gravações duraram mais de quatro anos e aconteceram em vinte locais em diferentes países. Lee Pace e Catinca Untaru formam uma dupla perfeita, em suas performances cativantes e envolventes. O ator americano de 45 anos, que também estrelou filmes de O Hobbit, guarda o projeto em um lugar especial. Leia a seguir a entrevista exclusiva do ator para Vejinha.

Como é revisitar The Fall e ver o “renascimento” do filme?

Que privilégio viver esse momento. Tem sido tão difícil conseguir uma cópia, mas o tempo todo, quando estou divulgando outros trabalhos ou quando algum fã me para na rua, The Fall é o filme que as pessoas mais lembram. Eles chegam a mim com o maior entusiasmo e paixão pelo impacto que o filme gerou para elas. Fico sempre maravilhado que elas viram ou conseguiram encontrar. Sei que algumas compraram DVDs no e-Bay ou encontraram em sites ilegais de streaming. Mas era difícil encontrar por tanto tempo. É uma audiência que conquistamos.

Na sua percepção, como o filme atingiu esse status de clássico cult?

Não existia uma “máquina” por trás quando foi lançado. Não havia uma indústria criando uma percepção sobre o projeto ou uma imprensa criando uma narrativa. Então, a narrativa, na minha opinião, é que as pessoas se conectaram, que esse filme profundamente pessoal tocou as pessoas. Os visuais, as performances. E assim, recomendaram para outras pessoas. E é incrível, 20 anos depois, poder sentir esse entusiasmo. Estou muito feliz pelo Tarsem, por ele estar vivendo esse momento, porque ele merece.

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Fotografia, figurino e design de produção: visual deslumbrante de ‘The Fall’ (2006) (Mubi/Divulgação)

Tem alguma cena ou momento específico da gravação que você lembra até hoje?

A experiência desse filme foi diferente de tudo que eu fiz. Eu era muito jovem na época, então não tinha muita experiência. Não sabia muito sobre atuar na frente da câmera, então aprendi tanto todo dia. Todo dia eu estava cercado por essas pessoas incrivelmente inspiradoras. Ged Clarke, Catinca, Tarsem, claro. Tudo me surpreendeu. Todo dia tinha uma história.

Lembro de quando estávamos gravando no Forte de Mehrangarh, em Jodhpur (Índia). Eles montavam grandes equipamentos de acrobacias em torres de 500 anos. Estava muito quente, 43°C. Ficávamos correndo e era muito desafiador, mas também emocionante, fazer parte daquilo. Eu lembro de estar sentado na sombra com o Tarsem e ele virou e disse: “Você sabe que nunca vai acontecer de novo, né? Na vida, você só consegue uma oportunidade como essa”. Na época, achava que todos os diretores diziam aquilo, mas ele estava certo. Tinha alguma coisa sobre aquele momento e aquele lugar que nos encontrou em um período especial da nossa vida e nós fomos capazes de trabalhar em um jeito artístico que fizesse acontecer. Cada um tinha seu papel e o Tarsem foi o grande condutor, a grande inspiração para todos nós. Eu agradeço profundamente.

O que você aprendeu nesse filme e levou para outros projetos?

Você sempre aprende no set. Eu sou um ator, então estou nas mãos do diretor e quero ajudá-lo a fazer o filme. Quero aprender o que querem fazer. Você aprende coisas boas que te ajudam, coisas ruins que te distraem. A maioria dos diretores com quem eu trabalhei, em algum momento, vêm até mim e dizem: The Fall, como ele fez aquilo? Eles apreciam como é complicado produzir um filme e dirigir algo.

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Eu acredito que o que o Tarsem conseguiu construir é intrigante para outros diretores. Como ele conseguiu? Como ele criou um realismo tão hipnotizante entre Roy e Alexandria naquele hospital? E o surrealismo da imaginação dela? Como foi capaz de realizar tudo aquilo, tecnicamente, artisticamente? Eu era tão jovem, estava nas mãos dele. Estava ansioso para agradá-lo, para aprender com ele.

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‘Experiência única’: Lee Pace em ‘Dublê de Anjo’ (Mubi/Divulgação)

A sua abordagem na atuação mudou desde aquela época?

De muitas formas, me ensinou a fazer o que eu faço. Certamente, desempenhou um papel importante, porque foi uma experiência tão grande e eu era tão jovem. Ao longo dos anos, fiz muitas coisas diferentes, filmes grandes e pequenos, papéis grandes e pequenos na Broadway, programas de TV grandes e pequenos. Cada um é diferente, o diretor, a química no elenco. É sempre muito diferente.

Quando estou focado, lembro que meu trabalho é interpretar o personagem, deixar de mim e me entregar à ficção com os outros atores. Nunca na minha carreira pude me entregar tão puramente quanto com Catinca (que tinha 8 anos na época). E isso é um mérito dela. Ela não tinha nada segurando-a de se render. Ela acreditava que era Alexandria. Era fácil dar um salto e criar coisas. Ela não sabia que tinha que “fazer certo”. Ela só fazia. Nós, atores, fazemos as coisas serem mais difíceis do que realmente são. É difícil, mas é muito fácil se você conseguir encontrar um jeito de relaxar e se entregar.

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Atualmente, o que tem manifestado o seu interesse no cinema?

Amo muitas coisas na Mubi, por isso fiquei tão feliz quando compraram The Fall. É o lugar perfeito para The Fall. Eu descobri a plataforma há alguns anos atrás quando estava interessado no ator Franz Rogowski. Assisti a todos os seus filmes. Ele é um ator extraordinário, tão interessante de assistir. Amo Justine Triet, que também tem alguns filmes na Mubi. Amo o que ela fez com Anatomia de Uma Queda. Amo o que Jonathan Glazer fez com Zona de Interesse.

Especialmente com Zona de Interesse, o que amei tanto é que nunca tinha visto antes. Ele fez escolhas tão ousadas para visuais e som. Foi surpreendente. Nós todos consumimos tanta mídia e filmes. É fácil se perder. Podemos começar a assistir um filme incrível, e se não nos agradar, podemos pausar e começar outro. Nós estamos inundados com referências e o trabalho de outras pessoas. Quando assisto a um cineasta com uma visão singular e capaz de te surpreender, acho fascinante.

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Catinca Untaru no papel de Alexandria em ‘Dublê de Anjo’ (Mubi/Divulgação)

Em que projetos tem trabalhado?

A série Fundação, na Apple TV+, toma boa parte do meu tempo. Nós gravamos por um longo tempo. Finalizamos a terceira temporada recentemente. Vou começar a trabalhar em um novo projeto pelo qual estou ansioso, esperando o diretor fazer o anúncio para poder falar mais.

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Você tem algum plano ou desejo específico para o futuro?

Eu amo um desafio. E encontro um desafio onde quer que eu for escalado. Eu tenho ideias do que quero fazer, mas elas não importam de verdade. Sou um ator, interpreto o que o diretor quer, e isso já é difícil o suficiente. Estou mais interessado em alguém estar familiarizado com o meu trabalho e do que sou capaz, e então me convidar. Por causa disso, consigo papéis insanos. Nunca imaginei que interpretaria o Rei Elfo. É surreal para mim. Aos 45 anos, vejo que esse é o caminho. Gosto assim.

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