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Filmes e Séries - Por Mattheus Goto

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‘Zona de Interesse’ faz retrato obscuro e perturbador do Holocausto

Novo filme de Jonathan Glazer, que acaba de chegar aos cinemas, apresenta família alemã ao som dos gritos de terror em Auschwitz

Por Mattheus Goto
Atualizado em 17 fev 2024, 03h10 - Publicado em 16 fev 2024, 06h00
Fora do quadro em 'Zona de Interesse': campo de concentração não é mostrado
Fora do quadro em 'Zona de Interesse': campo de concentração não é mostrado (Diamond Films/Divulgação)
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✪✪✪✪ Há um turbilhão de pensamentos que passa pela mente ao assistir Zona de Interesse. O novo filme do diretor Jonathan Glazer não é nada frugal, por uma série de motivos. Para começar, a primeira cena confronta o espectador consigo mesmo, ao deixá-lo perante uma tela totalmente preta, com sons indistinguíveis, mas perturbadores. O breu abre espaço para a imaginação.

Em seguida, somos apresentados a uma família fazendo um piquenique à beira de um rio. O longa acompanha Rudolf Höss (Christian Friedel) e sua esposa, Hedwig (Sandra Hüller), até sua casa, vizinha a Auschwitz. Ele é comandante do campo de concentração e está comemorando seu aniversário. Os acontecimentos seguintes incluem uma festa, sua transferência para outra cidade e um caso de traição. Mas o filme vai muito além da narrativa apresentada na tela. É o som e a estrutura que arrasam o espectador.

Por trás da serenidade na rotina da família alemã, estão os gritos de terror e a morte violenta de milhares de pessoas fora de cena, no campo de concentração. Você não vai ver nenhuma cena de violência, mas vai ouvir. Tudo isso enquanto a família se diverte em um dia de sol no quintal com piscina. A linha do horizonte, inclusive, mal atravessa os muros da casa. Nos resta conviver com essa família e, assim como ela, banalizar a crueldade.

Sandra Hüller no papel de Hedwig, em 'Zona de Interesse'
Sandra Hüller no papel de Hedwig, em ‘Zona de Interesse’ (Diamond Films/Divulgação)

Outra escolha do diretor, que obriga o espectador a pensar, é a de enquadramentos estáveis e distantes. São poucos os momentos em que há movimentos das câmeras. Em vez de um convite caloroso a conhecer seus personagens, o longa repele, colocando-nos no posto de meros observadores. Isso gera a sensação de frieza e falta de proximidade com os personagens — deixando claro, também, a visão política do diretor sobre a situação histórica.

Para completar, Glazer emprega uma sequência de cortes abruptos, que apresentam uma menina em uma realidade paralela. Em um contraste com todo o restante do filme — não só pelo uso de visão noturna —, as situações fictícias e fabulosas fazem refletir sobre a vida, a guerra e a juventude.

Zona de Interesse é um filme que disseca o Holocausto sem tocar. A abordagem de Glazer ao tema da Segunda Guerra Mundial, tão revirado em Hollywood, se mostra surpreendente e necessária. E, de fininho, tem grandes chances de levar mais de uma estatueta do Oscar para casa (está indicado em cinco categorias).

Além dos acontecimentos: força de 'Zona de Interesse' está na estrutura
Além dos acontecimentos: força de ‘Zona de Interesse’ está na estrutura (Diamond Films/Divulgação)

Publicado em VEJA São Paulo de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880

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