Os bastidores dos looks de Fernanda Torres em festivais e prêmios
Stylist Antonio Frajado revela que atriz já tem planos para o Oscar e dá uma dica do que esperar, de acordo com a estratégia estética da dupla

A vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro fez o Brasil vibrar e se emocionar. A atriz tornou-se a primeira brasileira a ser reconhecida com o prêmio.
Mas não foi só sua performance no papel de Eunice Paiva, no filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que
ganhou destaque. O visual da artista também chamou atenção no tapete vermelho e no palco da premiação, ao receber a estatueta.
Para a ocasião, ela optou por um vestido de alta-costura do estilista belga Olivier Theyskens e peças do joalheiro brasileiro Fernando Jorge. O look dá continuidade a uma trajetória estética estratégica, que começou no Festival de Veneza.
Quem está ao lado da atriz na criação dos figurinos é o stylist Antonio Frajado, 42, com quem trabalha há quase quinze anos. “A gente tem como base um filme, que é o Ainda Estou Aqui, que retrata uma tragédia que o país viveu, o horror da ditadura. É um filme denso, muito triste”, comenta Frajado.
“A personagem central, Eunice Paiva, precisava estar no cálculo desse imagético todo que íamos construir. A memória dela e o que ela representa era uma referência para nós, de atitude, de tom, uma mulher chique em todas as esferas.” O longa conta a história real de Eunice Paiva, que se tornou um símbolo dos direitos humanos e da luta contra o regime militar após o desaparecimento e assassinato do marido, Rubens (vivido por Selton Mello).
Foi assim que eles chegaram a roupas mais sóbrias, com uma paleta mais neutra e sem exageros. “Não daria para falar de uma tragédia usando um vestido volumoso, rodado e com manga, não combina. A moda nunca estaria acima do filme, da Eunice, nem da Fernanda.” Frajado explica que um visual “de princesa”, comum nesses eventos, não funcionaria. “Não é nem um pouco a cara da Fernanda e do que a gente planejou de narrativa.”
Por isso, seguiram uma linha mais elegante e “intelectual”. A predominância do preto uniu o útil ao agradável. Além do alinhamento ao tema, a cor atende ao gosto dos dois. “Costumo usar pouca cor e a Nanda não tem uma preferência enorme, mas gosta muito de preto”, diz.

A dupla já selecionou peças de grifes como Bottega Veneta, Dior, Reinaldo Lourenço e Alexandre Herchcovitch, que assina o modelo em cetim duchess de seda pura azul-marinho usado em Veneza.
Um dos favoritos do profissional é o do Globo de Ouro. “A decisão pela roupa, inteira de seda, com aquelas costas e aquele movimento, foi muito feliz.”
Para ele, o motivo pelo qual o visual tem sido ressaltado é o fator surpresa. “É inesperada a escolha de um vestido tão simples, mas tão lindo. A simplicidade no tecido e na forma é muito arrojada. Um golaço”, diz.
Uma pessoa fundamental, segundo ele, nesse processo foi Alexia Niedzielski, fashionista e amiga da atriz, que os apresentou ao mercado internacional de moda e ajudou a encontrar o modelo para a premiação, em menos de duas semanas.
Frajado afirma apreciar a convivência com Fernanda. “Eu amo, é muito gratificante. Ela é superenvolvida e decidida. Uma pessoa com consciência de si própria.”
Já há planos para o Oscar: “Podem esperar o inesperado”, promete.
Publicado em VEJA São Paulo de 10 de janeiro de 2025, edição nº 2926