‘Todo Dia a Mesma Noite’ transporta para a tela a dor da impunidade
Minissérie da Netflix inspirada nos fatos envolvendo o incêndio da Boate Kiss já está disponível
✪✪✪✪ Todo Dia a Mesma Noite, minissérie inspirada nos fatos envolvendo o incêndio da Boate Kiss, que ocorreu em 2013 no Rio Grande do Sul, está disponível na Netflix. Os cinco episódios são densos e dolorosos, pois centralizam o caso (que ainda não julgou os responsáveis de forma efetiva) nos pais da vítimas.
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O elenco traz nomes como Thelmo Fernandes, Bel Kowarick, Debora Lamm, Paulo Gorgulho e Leonardo Medeiros na pele de pessoas incansáveis que buscam pelo mínimo de justiça.
A direção geral de Julia Rezende, o roteiro de Gustavo Lipsztein e toda a base tirada do livro homônimo de Daniela Arbex (que ainda atua como consultora criativa) resultam em uma obra sensível e ao mesmo poderosa, que talvez não tivesse o mesmo impacto caso fosse adaptada como uma série totalmente documental.
Ainda assim, é preciso ter fôlego para encarar uma maratona: a cena do incêndio em si é bastante incômoda, mas o luto que nasce a partir dele é tão devastador quanto.
À Vejinha, Julia Rezende afirma que o objetivo é criar reflexão sobre impunidade. “As famílias continuam brigando. Queremos gerar empatia pelas vítimas, afinal, elas não são apenas um número. São 242 sonhos perdidos.” Daniela Arbex completa que é preciso refletir sobre o sistema de justiça no Brasil.
“A cultura de prevenção é necessária. Quando a gente revisita o passado, não é para apenas contar uma história: é para que isso não se repita no futuro”, diz. O roteirista Gustavo Lipsztein, que selecionou um recorte mais íntimo na vida dos pais, reforça que já são dez anos sem consequências para os responsáveis: “os familiares estão esperando esse tempo todo.”
Thelmo Fernandes, Debora Lamm e Leonardo Medeiros refletem que Todo Dia a Mesma Noite pode ter o poder de acelerar o caso. “O processo contra os pais, que narramos na série, é revoltante”, pontua Fernandes. Medeiros afirma que a imprensa ajudou a manter o caso em alta. “Se não fosse a imprensa, provavelmente tudo seria resolvido ‘daquele jeitinho’. E os pais teriam sido presos.”
Débora relembra a afetuosidade existente no set e completa: “a forma como se fala dentro dos tribunais afasta as pessoas também. Parece que é outra língua, mas a série ajuda a esclarecer.”
Paola Antonini e Luan Vieira, a Grazi e o Guilherme na minissérie, elogiam a forma como a história é dirigida. “A série une muito bem o aspecto emocional com o técnico. Eram emoções delicadas no set de filmagem. Por isso, acabamos nos abrindo um com o outro”, conta Vieira, que vive uma das vítimas do incêndio.
Paola, que não entrou em contato com a sobrevivente que interpreta, relembra que houve bastante troca entre os atores mais jovens. “A gente falava muito sobre o acontecimento e criamos um grupo forte justamente por causa dele. Foi difícil gravar a cena da boate em si, pois sabíamos o que iria acontecer dali a alguns minutos.”
Publicado em VEJA São Paulo de 1 de fevereiro de 2023, edição nº 2826
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