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Saúde, bem estar e alegria para os paulistanos

“Trocamos o prazer de viver pelo prazer de ser visto vivendo”

Flavia Melissa, educadora emocional, psicóloga e escritora à frente do Portal Despertar, faz uma pergunta direta: "Você está vivo?"

Por Flavia Melissa
Atualizado em 11 set 2019, 15h45 - Publicado em 6 set 2019, 06h00
Você está vivo? (George Peters/Getty Images)
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Disse o poeta: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Eu arremato: a vida é a arte das certezas, embora haja tantas incertezas por aí. A certeza de que o sol vai nascer todas as manhãs. De que a terra vai germinar as sementes. De que, uma após a outra, as estações do ano vão se suceder no horizonte. E a certeza maior de todas: nós vamos morrer um dia.

Eu tenho cá pra mim que é na consciência sobre a inevitabilidade da morte que reside a origem de toda neurose. Como acordar todos os dias e suar a camisa atrás dos sonhos estando presente a certeza de que tudo vai acabar um dia? Na tentativa de burlar as leis naturais que nos conduzem à inexistência, desenvolvemos subterfúgios que visam a evitar não a morte física — inevitável que só ela —, mas a morte simbólica.

Não se encaixar no padrão de beleza. Não encontrar um par romântico. Não ser bem-sucedido na profissão — são tantas as mortes sociais. A cada nova frustração, a retomada de contato com a inevitável frustração de perceber que muito pouca coisa muda na história da humanidade com a nossa ausência. O sol vai continuar nascendo todas as manhãs. A terra bem cuidada continuará germinando sementes e, uma a uma, as estações do ano vão se revezar nos céus.

O grande paradigma é que, em vez de a certeza de um dia não estarmos mais aqui nos mover e inspirar a viver cada instante como se fosse o último (porque pode ser, convenhamos), essa certeza nos paralisa. Não para as neuroses da vida cotidiana, e sim para a busca autêntica da felicidade. Sabemos que o padrão de beleza não serve para nada, mas continuamos nos comparando com a digital influencer photoshopada nas fotos. Repetimos que ficar só é melhor do que mal acompanhado, mas aceitamos qualquer coisa — qualquer coisa — para nos encaixar. E, se o que aceitamos vem junto com abuso, ainda tomamos a culpa por nossa. “Se eu fosse mais isso, ou mais aquilo”, aí sim eu teria o que quero, me sentiria como quero me sentir e saberia que sou especial, porque ser especial é o oposto de ser qualquer coisa que um dia simplesmente não vai ser mais nada.

Querendo ser especiais e nos encaixar, nós nos transformamos em robôs da produtividade, trocando o prazer de viver pelo prazer de ser visto vivendo, sendo redessocialmente aceitáveis enquanto esperamos o fim de semana chegar, mesmo sabendo que talvez não chegue. E existem instantes de iluminação.

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Todo mundo já se pegou, do nada, sendo invadido por um contentamento súbito e inexplicável. Uma alegria repentina, a vida parece mais colorida e, de repente, você sabe que, se morresse naquele instante, tudo teria valido a pena. Esses são os momentos em que você se dá conta da morte. Quando você percebe que ESTÁ VIVO. Quando estamos presentes no momento presente, somos invadidos de confiança e coragem para lidar com os problemas — que, então, percebemos que nem são tão grandes assim. Está tudo bem, e você está presente e está vivo e ciente da certeza da sua morte de uma forma tão pura e sutil que tudo bem morrer. Você está presente, e está vivo — e isso, acima de qualquer certeza, é a única coisa que importa.

Flavia Melissa
(Divulgação/Divulgação)

Flavia Melissa (@flaviamelissa) é educadora emocional, psicóloga e escritora à frente do Portal Despertar. Ela sabe que, se você ainda está vivo, ainda dá tempo de escolher se conectar com o que realmente importa: as pessoas.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 11 de setembro de 2019, edição nº 2651.

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