Cuidado para seu filho não se tornar obeso
Por Luiz Henrique Ligabue, pai de Maria Isabel, de 6 anos, Alice, de 4, e repórter de VEJA SÃO PAULO Chocolate, brigadeiro, doces, batatinha, refrigerante… Tentações que fazem os olhos do seu filho, que anda meio fofinho, brilharem. Não raro, ele devora tudo de uma só vez. Ou tenta, até ser detido pela voz da razão de […]
Por Luiz Henrique Ligabue,
pai de Maria Isabel, de 6 anos, Alice, de 4,
e repórter de VEJA SÃO PAULO
Chocolate, brigadeiro, doces, batatinha, refrigerante… Tentações que fazem os olhos do seu filho, que anda meio fofinho, brilharem. Não raro, ele devora tudo de uma só vez. Ou tenta, até ser detido pela voz da razão de algum adulto. A obesidade infantil chegou faz tempo e, para alguns especialistas, já se transformou em pandemia global, responsável por milhares de mortes mundo afora e Brasil adentro. Na cidade de São Paulo, uma pesquisa realizada com 476 crianças em escolas públicas, estações de metrô e parques pelo programa Meu Pratinho Saudável, uma parceria do InCor e LatinMed Editora em Saúde, apontou que 26% delas são obesas – o equivalente a uma a cada quatro crianças. O número sobe para 45% se for considerado também o sobrepeso.
Chocante, porém muito esclarecedor, é o documentário Muito Além do Peso, dirigido por Estela Renner e patrocinado pela Fundação Alana, uma ONG que busca fomentar boas práticas para vivência infantil. O filme, que estreou nos cinemas em novembro, agora faz barulho na internet (está disponível em www.muitoalemdopeso.com.br)
Entre cenas de crianças de todas as idades muito bem recheadas de gordura e doenças que normalmente acometem senhores com seus mais de 60 anos, descobrimos algumas verdades amargas:
– No Brasil, 33,5% das crianças sofrem de sobrepeso ou obesidade.
– Uma latinha de refrigerante contém 7 saches de 5g de açúcar. O consumo de uma latinha de refrigerante por dia, durante um mês, implica na ingestão de 1,115kg de açúcar.
– Um pacote de batata frita contém 77g de óleo, um terço de um copo alto.
– Um suco em caixinha “natural” contém 6 saches de 5g de açúcar.
– Por dia, as crianças brasileiras passam em média 3h na escola e 5h em frente à TV.
– O consumo excessivo de açúcar contribui para a morte de 35 milhões de pessoas por ano no mundo, o que equivale mais ou menos à população do Canadá.
– 56% dos bebês tomam refrigerante frequentemente antes do primeiro ano de vida.
Mais do que enumerar absurdos alimentares, o documentário propõe uma reflexão sobre como as relações de consumo, a TV e a industrialização da comida estão piorando e encurtando a vida dos seres humanos.
Abaixo, uma entrevista da repórter Bruna Ribeiro com Márcio Mancini, endocrinologista e chefe da Liga de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas, e Nabil Ghorayeb , cardiologista e Diretor Científico do Departamento de Exercícios e Esportes da Sociedade Brasileira de Cardiologia, nos ajuda a entender melhor a questão.
Como os senhores avaliam a alimentação das crianças em São Paulo? Está crescendo o número de crianças obesas?
Márcio Mancini: Sim. No Brasil e particularmente em ambientes urbanos modernos, como São Paulo. O poder de compra conquistado pelas classes menos favorecidas não é bem administrado. Como as pessoas não podiam comer algo diferente, elas erram na quantidade e vão muito a lanchonetes ou compram guloseimas em excesso. Isso cria hábitos difíceis de tirar. É preciso comer frutas todos os dias e colocar alimentos saudáveis na alimentação rotineira.
Nabil Ghorayeb: Com maior rapidez do que a gente esperava. As crianças obesas normalmente têm pais, no mínimo, com sobrepeso. Não existe pai magro, com filhos obesos. Geralmente, em um grupo de dez crianças, apenas uma come frutas e verduras. Isso é muito visto nas escolas infantis e demonstra uma alimentação completamente errada. A consciência começa na lancheira que a mãe prepara. Em geral, são escolhidos produtos industrializados, por causa da pressa e da facilidade de montá-la com produtos prontos, como bolinhos e bolachas recheadas.
Quais são os possíveis tratamentos para uma criança obesa?
Márcio Mancini: Em um primeiro momento, sempre envolve a mudança de hábito — tanto na parte de alimentação, como na parte de atividade física. Quando há irmãos mais magros, eles também devem participar da reeducação alimentar. A família toda deve ter hábitos saudáveis. Depois, se a criança tiver realmente um quadro de obesidade, podemos pensar no uso de medicamentos. Em casos ainda mais graves, quando a mudança de hábito e tratamento medicamentoso não surtem efeito, é possível pensar em cirurgia, a partir de 16 anos. Hoje, há algumas doenças associadas à obesidade, como o desenvolvimento de Diabetes tipo 2.
Nabil Ghorayeb: As crianças de hoje são mais sedentárias. Elas brincam muito mais nos tablets e nos joguinhos eletrônicos. Eles ajudam a manter a criança ocupada, mas é uma ocupação que a gente não considera saudável, porque ela fica parada. Na própria televisão a cabo, há muitas opções de desenhos sensacionais, que empolgam até adultos. Os hábitos da vida moderna criam uma tendência à preguiça.
Como colocar a criança no trilho da alimentação saudável?
Márcio Mancini: Dando o exemplo. As crianças têm uma alimentação errada porque os pais têm alimentação errada. A dica é: comecem a comer alimentos saudáveis, porque as crianças vão imitar os pais. É muito difícil você modificar o hábito de um adolescente de 15 anos, mas é mais fácil mudar o de uma criança de 4 ou 5. Começar a consumir frutas no café da manhã é uma opção. É o hábito familiar que faz o hábito da criança.
Nabil Ghorayeb: O costume alimentar da criança é dado pelos pais. Se os pais não se imporem, a criança não vai mudar. Vai ser uma criança que não come salada e não gosta de frutas. É assim que surgem os obesos. Como incentivar crianças a praticarem esportes? Dando exemplo e a levando para brincar. Não adianta brigar com o filho. É preciso pedir que o pediatra explique se a criança está dentro do peso ou não. Se estiver fora, tem de corrigir cedo. Crianças gordas vão ser adultos gordos, porque as células de gordura são maiores que o normal. Para manter as células, a pessoa precisa comer mais e engorda.
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