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O leiteiro que salvou o estilo Witbier

Sempre achei curioso como partes da história da cerveja dependem da criatividade – ou apenas de um momento de inspiração – de uma só pessoa. Imagino qual seria a cerveja mais consumida no planeta se Josef Groll não tivesse criado a Pilsner em 1842. Ou como seria a escola alemã se a Lei de Pureza […]

Por VEJA SP
Atualizado em 26 fev 2017, 22h22 - Publicado em 28 mar 2014, 19h18
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  • (Foto: Divulgação)

    Pierre Celis: responsável pela continuidade do estilo Witbier (Foto: Divulgação)

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    Sempre achei curioso como partes da história da cerveja dependem da criatividade – ou apenas de um momento de inspiração – de uma só pessoa. Imagino qual seria a cerveja mais consumida no planeta se Josef Groll não tivesse criado a Pilsner em 1842. Ou como seria a escola alemã se a Lei de Pureza não tivesse sido decretada pelo Duque Guilherme IV da Baviera em 1516. Claro, se eles não tivessem agido em um dado momento, outros poderiam tê-lo feito. Mas o fato é que gravaram seus nomes na linha do tempo da nobre bebida.

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    Na correria dos últimos dias, já ia me esquecendo de falar de outro desses personagens, a quem o estilo Witbier deve sua continuidade: o belga Pierre Celis, que, se ainda estivesse vivo, teria completado 89 anos no último dia 21.

    Antes de falar dele, cabe explicar um pouco sobre a tal “cerveja branca” belga. De coloração amarelada e turva (devido à presença de proteínas e fermento no líquido) e espuma branca e abundante, ela é feita com trigo não malteado; aveia também pode ser usada na receita. Dois outros ingredientes, porém, contribuem de modo decisivo em seu perfil: a presença de sementes de coentro e cascas de laranja, que dão notas condimentadas e cítricas à Wit.

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    O estilo já era produzido na Bélgica muito antes do nascimento de Celis, em 1925 – atribui-se a origem da receita a monges da região onde fica a cidade de Hoegaarden. Mas ele estava em franco declínio, como outras variedades de cerveja, devido ao “boom” das lagers douradas, escreveu no Oxford da Cerveja Keith Villa, criador norte-americano de outra Wit famosa, a Blue Moon.

    Foi Celis, porém, quem ressuscitou o estilo nos anos 1960. Leiteiro, ele havia trabalhado na juventude na Cervejaria Tomsin, uma das últimas produtoras de Wit locais, que fechou as portas nos anos 50. Com base nas próprias memórias e na de moradores da região, ele criou uma Witbier que batizou de Hoegaarden, nome da cidade em que vivia. A cerveja fez sucesso por muitos anos, mas, nos anos 1990, acabou vendida para a Interbrew, hoje parte do grupo AB-Inbev.

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    O belga, então, criou no Texas (Estados Unidos) uma cervejaria e uma nova Wit, a Celis White, ainda no início dos anos 90. O empreendimento, porém, também teve problemas financeiros e acabou vendido. A receita da Celis White, porém, ainda é produzida até hoje; na Bélgica, por exemplo, a Cervejaria Van Steenberge adquiriu os direitos de fabricação. De volta a seu país, Celis ainda criou receitas em parceria com a Cervejaria Saint Bernardus, entre elas uma Witbier que leva seu nome no rótulo.

    O Brasil quase teve uma Witbier criada por Celis. Na segunda metade dos anos 2000, Juliano Mendes, então um dos proprietários da cervejaria catarinense Eisenbahn, de Blumenau (hoje parte do grupo Kirin), convidou o belga para uma produção local do estilo. Já com problemas de saúde, Celis não pode fazer a viagem. Ele faleceu em 9 de abril de 2011.

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    Hoje, o estilo está se popularizando entre pequenos produtores nacionais. No Concurso Brasileiro da Cerveja deste ano, também em Blumenau, havia mais de uma dúzia de Witbiers inscritas. As três cervejas criadas por Celis – algumas já diferentes das produções originais – podem ser compradas no Brasil.

    Hoegaarden

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    Hoegaarden (4,9% 330ml): R$ 7,95 no Zaffari do Shopping Bourbon – É a versão mais fácil de ser encontrada em bares, restaurantes e mercados, e a mais barata. Além das notas cítricas e condimentadas, tem carbonatação elevada e acidez sutil, que a tornam refrescante. A garrafa degustada, com vencimento em junho, porém, já apresentava sinais de desgaste com a viagem ao Brasil e estoque.

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    StBernardusWit

    St. Bernardus Wit (5,5%, 330ml):R$ 18,50 na Cervejoteca Vila Mariana (11 5084-6047) – Mais interessante do trio. Acidez mais presente do que na Hoegaarden e corpo ligeiramente mais leve.

    CelisWhite

    Celis White (5%, 250ml): R$ 16 no Empório Alto dos Pinheiros (11 3031-4328) – Notas de laranja aparecem potentes no aroma e sabor. Em alguns momentos dá a sensação de estar tomando um suco da fruta. Outros elementos,como coentro, poderiam estar mais destacados.

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