“O Brasil é resistente às diferenças”, diz Rosana Paulino em livro
A artista participa a obra do curador Hans Ulrich Obrist, que lança em abril mais um compilado de depoimentos coletados no Brasil
Recém-lançado online, o livro Hans Ulrich Obrist: Entrevistas Brasileiras Volume 2 (Cobogó; R$ 80,00, 430 p.). A publicação traz conversas entre o renomado curador suíço, que é diretor artístico da Serpentine Galleries, em Londres, com trinta nomes da cultura brasileira. Uma das entrevistadas é a artista paulistana Rosana Paulino. No bate-papo, ela comenta sua produção e a presença de negros e negras no circuito de artes visuais.
Em dado momento, Obrist pergunta à Rosana o motivo de uma exposição, como Diálogos Ausentes, realizada no Itaú Cultural em 2016, ter demorado tanto tempo para acontecer. A mostra, organizada pela artista e pela curadora Diane Lima, partia de uma perspectiva mais inclusiva, o que por conseguinte levava a uma discussão sobre a participação de afrodescendentes na história da arte e na cena contemporânea brasileiras.
“Demorou tanto, porque o Brasil é um país extremamente resistente às diferenças, é um país que se quer ocidental. O Brasil é uma país que tem uma presença negra muito forte e bastante variada, mas o circuito das artes visuais tem sido durante muitos anos um circuito completamente branco, eurocêntrico e não se reconhece como tal. A elite brasileira, seja ela financeira, seja ela intelectual, tem muita dificuldade em enxergar o país como, de fato, ele é”, disse em tom de crítica a artista em um dos trechos da resposta.
No time de entrevistados do livro, Rosana tem a companhia de colegas como o mineiro Paulo Nazareth e os cariocas Adriana Varejão, Denise Ferreira da Silva, Ernesto Neto, Luiz Zerbini e Maxwell Alexandre. Houve ainda conversas com o rapper Emicida e os cineastas Eryk Rocha e Karim Aïnouz. Os bate-papos começaram a serem realizados em 2014 e seguiram até o ano de 2020. Devido à pandemia, tiveram que ser feitos de modo online, pela plataforma Zoom.
Em entrevista ao diário Folha de S. Paulo, Obrist disse que as conversas virtuais permitem que ele vá além dos artistas que vivem nos grandes centros. Esse momento “fora do eixo” parece, de fato, ser um próximo passo, já que nesta publicação quase todos os entrevistados estão concentrados em capitais como Rio de Janeiro e São Paulo, dupla de cidades onde residem 22 deles.
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