Arte ao Redor Uma curadoria de exposições, cursos e novidades dos museus, galerias e institutos culturais de São Paulo. Por Mattheus Goto
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Instalação traz lanças para fazer crítica social à realidade brasileira

Posicionamentos políticos, alimentos e livros são atravessados pelas ferramentas como metonímia; em consonância, coletivo fez performance na instalação

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
29 out 2021, 06h00
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  • A instalação do artista André Komatsu Noite Longa, na Pinacoteca, é o nosso ponto de partida. Por lá, vemos 51 lanças de ferro, com 4 metros de altura. A distância entre elas é de 1,5 metro, o que limita os movimentos dos visitantes. Até aí, pode parecer que essa é só uma forma de ordenar o espaço, mas olhe para o alto. As extremidades pontiagudas sugerem que a violência é uma ferramenta ali (e em outros muitos lugares), justificativa de uma já alardeada necessidade de organização. Nessa sanha, parece sussurrar o artista, posicionamentos políticos são censurados. Mas há ainda outros itens vetados, que aparecem ali atravessados e perfurados pelas estruturas longilíneas. São alimentos, como arroz e feijão, que devido ao alto preço que passam a ter em uma crise econômica saem do prato da população e quase viram artigo de luxo. São livros, também distantes, por seus valores tidos como proibitivos, mas ditos perigosos por temas chamados de subversivos. Vem, vale dizer, à mente com essas lanças a cena de inimigos do período colonial brasileiro, exibidos esquartejados em “espetos” em praça pública. Um aviso aos próximos que desejavam desafiar o governo.

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    Voltando à limitação do trajeto, Komatsu, de novo, parece murmurar a quem passa por lá que o cerco vai se fechando e você não sabe identificar o que te asfixia. Como em um campo minado, literal, as armas não são evidentes. Alguns, mais chegados à teoria, dirão que é preciso dar um passo atrás e ler a conjuntura. Mas como fazer isso se, às vezes, é preciso continuar naquele lugar, por uma necessidade maior, a sobrevivência? Uma outra resposta é delineada com a performance dos integrantes do coletivo Arte Livre itinerante (Ali), realizada na obra no último dia 9. Na ocasião, os artistas Tóquio, Tom Guerra, Guê Santos e Euller Fernandes, entre outros, declamavam o que era para cada um democracia. Junto às vozes, notavam-se impactos dos passos de cada um pelo lugar. Eles moviam as lanças ao caminhar. Uma trepidação que parecia sinalizar que a coerção não era tão imperturbável quanto aparentava.

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    > Pinacoteca. Praça da Luz, 2, ☎ 3324-1000. Quarta a segunda, 10h às 17h30. R$ 20,00. Grátis aos sábados. Agendamento de visitas em: tinyurl.com/5vwhkk8x. Até 8 de novembro.

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    Publicado em VEJA São Paulo de 3 de novembro de 2021, edição nº 2762

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