Exposição traz cenas do cotidiano indígena impressas em tecido
“Terceira Margem”, de Rochelle Costi, mostra os Huni Kuin, no Acre
Terceira Margem, o título de um conto de Guimarães Rosa no qual o personagem empreende uma jornada solitária de barco em um rio, serve de inspiração para Rochelle Costi. A artista não faz menção a Rosa no texto da mostra, pelo menos não de forma evidente. As doze fotos de sua autoria foram impressas em tecido e são organizadas em três espécies de biombo, que trazem um pouco do cotidiano dos indígenas Huni Kuin, no Acre. A relação mais familiar com a natureza parece sinalizar que aquela etnia não acredita que morada é apenas uma construção, seja de madeira ou alvenaria. Não se leve, porém, essa afirmação para uma visão simplista dos povos originários do Brasil. Vendo as imagens, tem-se a impressão de que o que o mundo ocidental chama de nova forma de viver, mais consciente e menos predatória, é só uma reprodução do que já pensavam essas comunidades ancestrais. E que a ideia de “pureza indígena” — “ah, agora eles têm celular”, ouvida por aí — se revela problemática. O que parece ter havido, na assimilação de costumes de fora, é uma sobreposição de camadas, consequência da história construída pelo uso da força. E outra: se europeus imergirem em outros imaginários, caso do fotógrafo Pierre Verger (em cartaz no Instituto Tomie Ohtake), por que aos indígenas é negado esse movimento?
> Oficina Cultural Oswald de Andrade. Rua Três Rios, 363, Bom Retiro, ☎ 3222-2662. Segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, 11h às 18h. Grátis. Até dia 30.
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Publicado em VEJA São Paulo de 20 de outubro de 2021, edição nº 2760