Entrevista: conheça Oscar Farinetti, o criador do Eataly
O empresário Oscar Farinetti é um fenômeno. Aos 60 anos, é o criador de uma fórmula original, o Eataly, uma espécie de shopping gastronômico que conjuga a venda de produtos essencialmente italianos (excetuando o que é fresco fora da Itália) e restaurantes temáticos. A primeira loja foi inaugurada em Turim no início de 2007 e, […]
O empresário Oscar Farinetti é um fenômeno. Aos 60 anos, é o criador de uma fórmula original, o Eataly, uma espécie de shopping gastronômico que conjuga a venda de produtos essencialmente italianos (excetuando o que é fresco fora da Itália) e restaurantes temáticos. A primeira loja foi inaugurada em Turim no início de 2007 e, em apenas oito anos, ele transformou o negócio em uma cadeia com 28 lojas em funcionamento em cinco países – treze delas estão em cidades italianas, outras treze espalhadas pelo Japão, duas nos Estados Unidos (Nova York e Chicago), uma em Dubai e uma em Istambul. A vigésima-nona será inaugurada na capital paulista no dia 19 de maio no Itaim como você pode ler em primeira mão em minha matéria para VEJA SÃO PAULO desta semana. Não falta a Farinetti visão empreendedora e capacidade de correr riscos. Um estalo o levou a se desfazer da Unieuro, tradicional cadeia italiana de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, para começar a desenhar o Eataly em 2004. Nesse processo de se tornar um vendedor de comida, contou a ajuda para a seleção de alimentos do amigo Carlo Petrini, fundador do Slow Food (movimento de luta pela qualidade da alimentação, pela preservação de produtos em extinção e pela valorização do pequeno produtor e do meio ambiente surgido em 1986, quando da instalação do primeiro McDonald’s nas escadarias da Piazza d’Spagna). Hoje tem entre os parceiros mais de vinte empresas que produzem ou distribuem itens como águas, bebidas não alcoólicas, queijos, massas e doces. Quando se fala dos demais produtos do mega-empório, o número de fornecedores sobre para cerca de 2.000. Nas estantes do supermercado Eataly brasileiro e também o primeiro da América Latina estão 888 vinhos italianos, muitos deles provenientes das propriedades do próprio Farinetti, hoje um dos maiores produtores do ramo, senão o maior da Itália. São rótulos como o Fontanafredda e o Borgogno. A seguir, a entrevista que fiz por e-mail com o empresário, que se encontrava em Turim :
Foi o senhor quem escolheu vir para o Brasil ou foi o Brasil que o escolheu?
Diria que ambos. São Paulo é uma cidade que sempre me agradou e o Brasil um país que amo. Queríamos abrir um Eataly na América do Sul e imediatamente pensamos que São Paulo era a escolha certa. Mas para nós, o negócio é feito de pessoas e a decisão foi tomada quando conhecemos Victor [Leal] e Bernardo [Ouro Preto]. Tivemos naquele momento o feeling certo. Assim como nós, eles são apaixonados, amam o que fazem. Temos nossos objetivos próprios: ser felizes e fazer lugares onde as pessoas são felizes.
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Conhecia São Paulo? Sim, é uma cidade que visitei várias vezes. Como é possível não ir ao Brasil na vida?
Queríamos abrir um Eataly na América do Sul e imediatamente pensamos que São Paulo era a escolha certa
O que se passou na sua cabeça quando resolveu trocar a venda de eletrodomésticos e produtos eletrônicos para alimentos in natura e comida pronta?
Bem, primeiro de tudo, na vida mudar é belíssimo. Lançar-se ao jogo, fazer uma coisa nova, arriscar-se. Sou um apaixonado por comida desde criança. O mundo da eletrônica não me dava mais o estímulo necessário, o trabalho estava se tornando repetitivo, a poesia estava terminando e tinha intuído que o futuro de quem vendia eletrodomésticos não seria muito rosa. Assim, pensei que o mundo da comida era natural para mim. Vi que tinha muito espaço livre para preencher. As pessoas queriam se alimentar melhor, conhecer melhor aquilo que colocam no próprio corpo e queriam fazê-lo em um ambiente informal. Era um desejo que eu também sentia e mergulhei de cabeça. O mundo da comida é maravilhoso e permite que conheçamos pessoas fantásticas. Provavelmente, sem o mundo da comida eu não voltaria mais a São Paulo. O Eataly para mim é o máximo, uma companhia que produz valores difundindo valores.
Qual a importância do amigo Carlo Petrini para seu negócio?
Carlo sempre foi muito importante para mim, somos amigos desde a juventude. Foi um dos primeiros a conhecer a minha ideia, o meu projeto. O Slow Food me ajudou a selecionar os melhores produtores italianos. Somos naturalmente duas coisas muito diferentes, nós somos uma empresa e eles uma organização não governamental, mas mostramos que nossa colaboração funciona muito bem. Ninguém conhece comida melhor que eles e para nossa companhia a consciência é tudo.
Nova York é o megafone do mundo
Como se associou a Batalli e Bastianich nos Estados Unidos?
Foi Carlo [Petrini] que me apresentou aos Bastianich. Sabia que queríamos a todo custo abrir em Nova York. Não tinha dúvida de que Nova York é o megafone do mundo. Tudo que se faz ali, vale muito. Conhecemos uns aos outros, fomos apresentados. Foi amor à primeira vista. Temos grande competência no varejo e eles fizeram os melhores restaurantes italianos da América. Era uma condição natural trabalharmos juntos. Nós gostamos de trabalhar com parceiros locais. Não pensamos em ser melhores do que os outros e não vamos à casa dos outros ensinar nada. Nos dar prazer criar juntos. O Eataly São Paulo é de São Paulo, feito de italianos e de gente da cidade.
Batali é o chef que melhor define cozinha italiana nos EUA e fora da Itália hoje?
Não conheço todos os restaurantes italianos no exterior, mas Mario é, seguramente, o maior nos Estados Unidos. Ele trabalha com todas as faces da cozinha italiana, da carne ao peixe, do casual à alta gastronomia. Mario é fora de série, mas nós é que somos afortunados porque temos a parceria não no Mario mas com a Lidia [Bastianich], portanto de chef de alto nível temos logo dois.
O vinho é um amor verdadeiro
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Pretende continuar ampliando seus negócios no mundo do vinho?
O vinho é um amor verdadeiro. O Eataly deixei mais com meus filhos [ Francesco e Nicola], mas o vinho quero fazer para sempre. Há uma coisa de mágica na produção de vinho, uma conexão maravilhosa com a terra.
Vender comida e bebida italiana é um negócio lucrativo? Por que outros empresários não descobriram antes com tanto êxito a equação: supermercados + restaurantes?
Porque é extremamente difícil. Como todas as coisas simples, é dificílima de por em prática, requer tanta paixão, tanta consciência e seguramente há outros ambientes onde se pode ganhar mais trabalhando menos. Ainda nós temos um terceiro componente para agregar que é a escola. Nós investimos muito em educação. Quem sabe mais, aprecia mais — o que é lindo — torna o negócio ainda mais complicado.
Minha grande satisfação é exportar os produtos dos pequenos produtores italianos
O senhor já ganhou alguma homenagem do governo de seu país pelo importante trabalho que faz de difusão da culinária e dos vinhos italianos no mundo?
Sou muito sortudo e reconhecido com alguns prêmios importantes. Mas a minha grande satisfação é exportar os produtos dos pequenos produtores italianos e, sobretudo, dar coragem a outros empreendedores italianos a chegarem ao exterior.
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