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23. Conheça a história de Dener Pamplona e Caio de Alcantara Machado

Ambos assumiram papéis de pioneirismo num momento de divisão de águas na história de São Paulo

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 5 dez 2016, 18h32 - Publicado em 22 out 2010, 21h32
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  • Dois brasileiros de origem diversa, diferentes ramos de atividade e perfis opostos, um nascido em Belém do Pará, em 1936, o outro em São Paulo, em 1926, têm como ponto comum o fato de poderem considerar 1958 como seu ano zero. O primeiro é o costureiro Dener Pamplona de Abreu. O segundo, o radialista e publicitário Caio de Alcantara Machado. Em 1958, Dener Pamplona muda seu ateliê, aberto no ano anterior na Praça da República, para a Avenida Paulista. Era sinal de que sua reputação já lhe permitia voos altos. No mesmo ano, Caio de Alcantara Machado abre a Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit), a primeira de seu rosário de feiras industriais. A Fenit foi montada no Parque do Ibirapuera e teve o presidente Juscelino Kubitschek na inauguração.

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    Nem Dener nem Caio de Alcantara Machado teriam consciência disso, mas assumiam papéis de pioneirismo num momento de divisão de águas na história de São Paulo. A capital industrial começava a ceder lugar a outro tipo de especialização. O novo ímpeto de industrialização trazido pelos anos JK vai sediar as fábricas não mais na Mooca ou no Brás, mas no cordão de municípios ao redor da capital. À cidade de São Paulo caberá a função de sede de eventos e mostruário da produção desenvolvida em outras partes. É esse papel de pioneiros de uma nova vocação da urbe que aproxima Dener Pamplona de Caio de Alcantara Machado.

    Ao chegar a São Paulo, em 1954, Dener ostentava, entre outros troféus, o de ter feito o desfile de debutante de Danuza Leão. Nos três primeiros anos, trabalhou para os outros. No quarto, instalou oficina própria e virou uma estrela. Foi o primeiro profissional do ramo a revelar-se um ás da autopromoção. Firmou-se como polo aglutinador do que então se chamava de “alta sociedade” e como árbitro do gosto. O bem-composto tipo de dândi, romântico até o limite do enfermiço, reminiscente de um Oscar Wilde mal acomodado nos trópicos, ajudava. Mais ainda ajudavam os trejeitos. Por fim, claro, havia o talento em que tudo o mais se assentava.

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    Caio de Alcantara Machado era ao contrário: careca e vestia ternos comuns. Seu conceito de promoção prescindia da própria pessoa. O pai era dono das Lojas Assunção, que vendiam rádios e vitrolas. Caio criou um programa de rádio, ‘Parada de Sucessos’, que, patrocinado pelas Lojas Assunção, arrebatou a cidade. Mas foi numa viagem a Nova York que se deu o grande estalo. Um amigo americano lhe falou das feiras industriais e sugeriu que as introduzisse no Brasil. Era arriscado, tanto que a primeira Fenit lhe causou prejuízo. Mas o tempo iria provar que fez o certo no lugar certo. O Salão do Automóvel acompanhou a indústria automobilística desde o nascedouro. Outro marco foi a Feira de Utilidades Domésticas (UD).

    Dener morreu precocemente, em 1978. Longe iam os tempos em que vestia a primeira-dama Maria Teresa Goulart e em que seu casamento, com a modelo Maria Stella Splendore, foi o acontecimento do ano na cidade. Estava pessoalmente decadente e profissionalmente esgotado. Caio morreu em 2003. Dois anos antes, mereceu o que o hall da fama brasileira tem de mais característico, equivalente, sem ironia, ao arco do triunfo sob o qual desfilavam os generais romanos: foi enredo de escola de samba. No caso, da escola Rosas de Ouro, que o homenageou sob o título ‘Quem Plantou o Palco Hoje É o Espetáculo’. As figuras de Dener e Caio de Alcantara Machado hoje caminham para o esquecimento. No entanto, eles deixaram um legado que contribui para dar uma cara à cidade. Mereceriam ser reverenciados a cada São Paulo Fashion Week e a cada feira do Anhembi.

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