Veja as falas que levaram o humorista Leo Lins a ser condenado pela justiça
Comediante foi condenado a oito anos de prisão e deve pagar indenização de R$ 303 600

O humorista Leo Lins foi condenado pela Justiça Federal de São Paulo a cumprir uma pena de oito anos e três meses de prisão em regime fechado, por crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, e pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência.
Além do tempo de prisão, Leo também deverá pagar uma multa que corresponde a 1.170 salários mínimos e uma indenização de R$ 303 600 mil por danos morais coletivos. A condenação ainda está sujeita a recurso.
O Youtuber foi denunciado pelo Ministério Público em 31 de julho de 2023 após publicar vídeos com conteúdo tido como preconceituoso e discriminatório contra minorias. A sentença cita o vídeo da apresentação do stand-up “Léo Lins – Perturbador”, em que reproduziu “discursos e estereótipos que incentivam a perseguição religiosa, a exclusão das minorias e discriminação contra pessoas com deficiência”.
No interrogatório, Leo afirmou tratar-se de um personagem que interpreta no palco. Ele disse que não considera que suas declarações são depreciativas e que nunca teve notícias de que alguém tenha sido incentivado a cometer ato preconceituoso após ver o seu show. Segundo o humorista, muitos PCDs, autistas, cadeirantes, pessoas que sofreram AVC frequentam o seu show.
Os alvos das falas discriminatórias incluem negros, judeus, indígenas, surdos, cadeirantes, idosos, pessoas LGBTQIA+ e obesos. Confira alguns dos trechos citados pelo Ministério Público na sentença:
“Se o velho falar: ‘Ai, eu não gostei dessa piada’. Ah, é mesmo? F***-**! Cê já tá quase morrendo, reclama direto com Deus!
“Sou gordo, adoro comer e não gosto de fazer exercício. Como vou emagrecer? Pegando AIDS! Cê não adora comer de tudo? Sai comendo gay sem camisinha, uma hora dá certo! Essa piada pode parecer um pouco preconceituosa. Porque é”
“O rico tenta ter filho e não consegue. Vai pro médico, faz inseminação artificial, vai pra África buscar um. Lá tem plantação. Lá você escolhe no pé! (…) Esse tá bem escurinho, vai dar like no insta!”.
“Tem gente que fala: ‘O negro não consegue arrumar emprego!’. Mas na época da escravidão já nascia empregado e também achava ruim! Aí difícil ajudar!”. “Aliás, se o Dia da Consciência Negra é feriado pelos negros, Quarta-Feira de Cinzas devia ser judeu!
“Eu acho, de verdade, que o tipo de humor que eu faço é o mais inclusivo de todos. Eu faço piada de tudo e de todos. Quer show mais inclusivo do que esse? Eu já cheguei a contratar intérprete de libras, só pra ofender surdo-mudo. Não adianta fingir que não tá ouvindo não…”. Em seguida, emite sons “imitando” pessoas mudas: “Ahn, ahn, ahn” e diz: “Sinal você entende. Entende esse aqui?” (e faz um gesto obsceno, levantando o dedo médio).
“Se tiver algum anão aqui, no final do show a gente estoura. Mais um processo! Pelo menos vai ser pequenas causas
“Pra encerrar, quero deixar bem claro que eu sou completamente contra o preconceito. Preconceito, pra mim, é uma coisa primitiva que não devia mais existir. Que nem o índio! Chega, não precisa mais!”.
O advogado de Leo Lins afirmou em nota: “Trata-se de um triste capítulo para a liberdade de expressão no Brasil, diante dessa condenação equiparada à censura. Ver um humorista condenado a sanções equivalentes às aplicadas a crimes como tráfico de drogas, corrupção ou homicídio por supostas piadas contadas em palco, causa-nos profunda preocupação. Apesar desse episódio, mantemos plena confiança no Poder Judiciário nacional, que tantas vezes tem sido acionado para garantir direitos e liberdades individuais”.
A defesa também afirmou que entrará com recurso e espera que a injustiça seja reparada na segunda instância.