Funerária tem aromaterapia, urnas feitas a mão e até transmissão ao vivo
Paulistana que comanda o serviço diz que tem o objetivo de diminuir o sofrimento dos familiares no momento de despedida
“Espaço de homenagens póstumas” foi o termo escolhido por Adriane Lupetti para descrever seu novo negócio: um serviço funerário moderno e sustentável com a promessa de diminuir o sofrimento (e as dores de cabeça) ao organizar o velório de um parente. Em um terreno de 6 000 metros quadrados, ela investiu 13 milhões de reais para construir o edifício de três andares que, desde janeiro, recebe cerimônias de despedida e cremações em formato inspirado nos funerais americanos. “E baseado nas pesquisas sobre cemitérios que escolhi fazer na minha pós-graduação de perícias em engenharia”, completa a arquiteta, que também projetou a construção. “Muitas pessoas reclamam do atendimento do setor funerário e do quanto são mal tratadas nesse processo. Assim nasceu minha ideia.”
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O primeiro passo foi decidir a localização do empreendimento, próximo à capital paulista e perto de uma via expressa. “Lotei as paredes do meu escritório com mapas e fui de carro conhecer as áreas onde o poder público permite abrir instituições dessa categoria. Na maioria das vezes, esses pontos ficavam próximos a lixões ou tinham caminhos com estrada de terra.” Após um ano e meio de procura, ela escolheu uma ampla área verde em Santana de Parnaíba para criar o Memorial Jardim da Vida.
Pensando em amenizar a experiência de luto, Adriane selecionou detalhes como a essência que perfuma as salas e a música de fundo feita com a barra de access, uma técnica terapêutica que promete bloquear pensamentos negativos. “Tudo é preparado nos bastidores, como a documentação e o preparo do buffet com direito a suquinho e doces para dar uma sensação de prazer”, diz. “Quem prepara casamentos tem meses de antecedência, enquanto nós temos apenas doze horas para montar uma cerimônia de despedida tão importante quanto essa. Não pode ser de qualquer jeito.”
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Uma das tarefas da cerimonialista da equipe é entrevistar a família para conhecer a história do falecido e preparar um texto de homenagem. Durante a despedida, um telão exibe fotos e mensagens de condolências enviadas por um aplicativo próprio e uma câmera de transmissão ao vivo conecta aqueles que não puderam comparecer presencialmente. “Esse ritual é importante para processar o luto e pensei muito naqueles que não podem vir por causa da Covid.”
Além da estrutura para a cremação, o espaço fornece modelos de urnas feitas a mão por um ceramista e uma versão biodegradável que pode ser enterrada ou jogada no mar, onde se dissolve aos poucos. E um florista cuida dos arranjos. “Não tem ‘coroa de flores’, tem flower box, tem uma cruz linda de sisal ou orquídeas. O que for possível para uma despedida honrosa.”
Essa versão luxuosa e humanizada custa a partir de 5 600 reais e pode chegar a 24 000 reais, dependendo dos pedidos do cliente, que tem até a opção de contratar a apresentação de um pianista ou violinista por 450 reais. O grande gramado do memorial ficará reservado a um dos serviços mais especiais, cobrado à parte: a plantação de uma muda de árvore junto com as cinzas da pessoa falecida. Por 10 535 reais, os familiares escolhem qualquer espécie da Mata Atlântica e a equipe de jardinagem fica responsável por manter os cuidados diários. “Eu escolheria o jacarandá, mas pode ser a sibipiruna amarela, o pau-brasil ou frutíferas como a pitangueira”, conta. “Espero transformar isso num parque, um bosque onde possam vir passear e fazer piquenique. Espero que troquem cada vez mais as sepulturas por árvores.”
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Um dos sócios da empresa é o irmão de Adriane, Arthur Lupetti, que levou um ano para ter coragem de trabalhar nesse setor. “Ele morre de medo, até evita ir em velórios, mas acabou largando o emprego para se dedicar 100% ao projeto.” Falecida no ano passado, sua mãe foi uma das pessoas que mais apoiaram a empreitada. “Com as cinzas e uma cerimônia, a primeira árvore que vou plantar aqui será a dela.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 23 de fevereiro de 2022, edição nº 2777