“Ele dirigiu por 16 horas para me buscar na Eslovênia na pandemia”
Camila Trama fala sobre as dificuldades que enfrentaram para manter o relacionamento estando em países diferentes durante a crise de Covid-19
“Conheci Armand em uma happy hour em 2019, mas não conversamos. Ele tinha acabado de sair de Paris e moraria em São Paulo por dois anos a trabalho, sem saber nada em português. No ano seguinte, achei ele no Tinder e demos match. Era fevereiro de 2020. Armand já falava a língua superbem.
Eu o encontrei no bar Toca da Capivara, na Bela Vista, com outros amigos, ao som de um sambinha. Não deu tempo de termos um segundo encontro porque a pandemia começou e tudo fechou. Nós tínhamos gostado um do outro, mas não tivemos a oportunidade de evoluir a relação. Ficamos apenas conversando a distância por três meses até nos vermos novamente.
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Saímos algumas vezes e, em um dos dates, bebi um pouco demais e acabei chorando e me declarando a ele. Disse que o amava e queria que ele fosse meu namorado. Armand ficou até assustado, coitado. Mas, para ele, já éramos namorados.
A data da partida dele para a França ia se aproximando e nós não sabíamos o que fazer. Ele não queria passar mais tempo no Brasil, sentia saudades da família. Eu, por outro lado, estava engajada em uma empresa que tinha acabado de abrir.
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A quarentena se flexibilizou e combinei de visitá-lo em Paris. Assim que ele foi embora, a segunda onda de casos e mortes por Covid-19 se instalava. As fronteiras foram fechadas e os brasileiros não entravam mais em lugar algum. Os meses passavam e nada melhorava. Namorar a distância já era difícil e ficava pior ainda pelo fuso horário.
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Pesquisei os únicos países que eu poderia entrar apenas com teste PCR negativo (ainda não tinha chegado a minha vez de me vacinar) e comprei passagem para a Eslovênia. Armand teve de dirigir por dezesseis horas para me buscar, já eu não poderia viajar da Eslovênia até a França de trem ou avião porque pediriam minha documentação. Ficamos de quarentena juntos por uma semana antes de fazer o trajeto até a França, fazendo uma parada na Itália. Um agente da imigração parou nosso carro no caminho e eu fingi que estava dormindo para que ele não descobrisse que eu não era francesa.
Eu não sabia nem falar ‘bonjour’. Deveríamos ter feito um novo teste PCR antes de entrar na França, mas nos deixaram passar porque Armand explicou que só estava voltando para casa. Durante meus dois meses lá, percebemos que faríamos qualquer coisa para continuar juntos. Ambos estavam felizes com suas carreiras, mas um de nós tinha de abrir mão disso. Fui eu quem decidiu começar uma vida nova na França. Deixei minha empresa e comecei a aprender francês. Armand veio com a mãe para São Paulo e fizemos um encontro entre famílias. Eles entenderam que íamos nos casar. Minha mãe também é casada com um francês, mas juro que isso não é uma tradição nossa.
Antes de Armand ir embora, corremos até um shopping e compramos alianças um para o outro no impulso. Elas nem sequer são do mesmo par.
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Quando me preparava para morar com Armand, tive problemas para viajar novamente. Eu fui vacinada com CoronaVac, que até então não era aceita na França. Comprei passagem para Barcelona, na Espanha, e Armand dirigiu dez horas para me buscar. Brinco que esse relacionamento precisou de muita gasolina.
Demos entrada no registro da nossa união na França e a cerimônia será em março. O plano é aplicar para o visto de longa duração, começar uma pós-graduação e achar um emprego aqui. Está sendo incrível conhecer a cidade pelos olhos dele. Se algo dessa aventura não der certo, pelo menos vivemos momentos lindos juntos.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 9 de fevereiro de 2022, edição nº 2775