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Torturas estéticas

Quando minha fiel escudeira, Célia, serviu o jantar, percebi que ela respirava com dificuldade. — Você está bem? — perguntei. — Botei uma cinta modeladora. Olha como estou magrinha. Apertei os olhos. Na minha opinião, continuava igual. Só um pouco azul por falta de ar. — Desista, isso só vai deixar você nervosa. Também pare […]

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 17h48 - Publicado em 1 set 2011, 20h10
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  • Quando minha fiel escudeira, Célia, serviu o jantar, percebi que ela respirava com dificuldade.

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    — Você está bem? — perguntei.

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    — Botei uma cinta modeladora. Olha como estou magrinha.

    Apertei os olhos. Na minha opinião, continuava igual. Só um pouco azul por falta de ar.

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    — Desista, isso só vai deixar você nervosa. Também pare de tomar remédios para emagrecer. Daqui a pouco você vai chorar sem saber por quê.

    Ela concordou. Mesmo porque a cinta já estava apertando demais. Tentei ajudá-la:

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    — Depois dos 50 não tem mais jeito. Conforme-se.

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    Foi aí que ela caiu em lágrimas!

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    Sei o que é viver sob o jugo de uma modeladora! Quando fiz lipoaspiração, tive de usá-la por dois meses. Bem apertada. Nos primeiros dias, tive a impressão de que o coração ia sair pela boca, literalmente. Andava ereto, com o queixo empinado para a frente. Mexia os braços como se estivesse embaixo d’água. Quando ia pegar o avião, os sensores de metais gritavam. Era levado para uma salinha, onde mostrava o colete fechado por ganchos metálicos. Mesmo assim, era esquadrinhado de cima a baixo. Os agentes perguntavam, solidários:

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    — O senhor operou o coração?

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    — Não, foi para perder a barriga — respondia sem jeito.

    A atitude amigável transformava-se em completo desprezo. E pior: durante o voo, minha barriga inchava. Quase morri sufocado várias vezes. O que se faz por vaidade! Uma atriz aceitou o papel de gorda da história numa novela que escrevi há algum tempo. Mal começou a gravar, iniciou o regime. Mandei um aviso:

    — Seu papel é de gorda!

    Ela insistiu com os amigos:

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    — Quero ficar bem, para estourar como estrela.

    Como no íntimo rejeitava o peso, também não incorporou a personagem. Os remédios a deixaram muito nervosa. Ouvi falar de crises de choro nas gravações. O que teria sido uma gratificante estreia transformou-se num sofrimento.

    Dia desses uma amiga apareceu com três manchas de queimadura no rosto.

    — O que houve?

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    — Fiz um procedimento para eliminar marcas de expressão e rejuvenescer a pele. Como você percebeu?

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    Outra amiga lutou contra a celulite com a ajuda de um aparelho que emite algum tipo de raio, enquanto a esteticista dá beliscões bem fortes para queimar as gorduras.

    — Doeu, mas suportei!

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    — Deu resultado?

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    — Ainda não sei, comprei um pacote de dez sessões…

    Gemi por ela!

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    Um personal trainer que conheço é mais radical. A partir de setembro, só se alimenta de clara de ovo e batata-doce.

    — É para estar com o corpo trincado no verão.

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    Para quem não sabe, um abdômen trincado é o mesmo que sarado, tanquinho… e não me perguntem por que essas palavras são sinônimo de beleza. Importa saber que, ao ouvir o personal trainer, entendi do que ele falava. Quer estar no auge para ir de sunga à praia. Explicou:

    — Clara de ovo é proteína pura e não engorda.

    Não sei se as informações procedem. Eu, pessoalmente, jamais iniciaria um regime sem base médica. Mas vale a pena viver de clara de ovo? De que me adiantaria conquistar uma barriga, digamos, “tanquinho” se entraria em crise histérica ao me lembrar de uma lasanha ao forno?

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    Penso muito sobre isso. Qual o motivo de sofrer tanto por meras questões estéticas? (Mesmo porque há outros tratamentos torturantes que não citei.) Terminei a conversa com minha escudeira com um conselho:

    — Sabe, Célia, você não tem de emagrecer. Precisa é de um amor.

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    — Será?

    Fiz que sim. Todo mundo diz que quer ficar bonito. Mas o que falta é amor. Simplesmente, um novo ou antigo, mas um maravilhoso amor.

    E-mail: walcyr@abril.com.br

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