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Conheça as novas tecnologias para fazer o bem

As histórias dos paulistanos que utilizam recursos da internet, como sites, aplicativos e redes sociais, para procurar ajuda ou colaborar com o próximo

Por Ana Carolina Soares
Atualizado em 1 jun 2017, 16h26 - Publicado em 18 dez 2015, 23h00

Mesmo em tempos de delicada situação econômica, milhares de paulistanos continuam se dispondo a contribuir, financeiramente ou não, para melhorar a vida do próximo. E, graças à proliferação de sites, aplicativos e redes sociais que recolhem as contribuições pela internet ou funcionam como agregadores de diferentes instituições assistenciais, a missão nunca foi tão simples.

A consequência dessa recente praticidade é que algumas das plataformas do tipo estão encerrando o ano com um ótimo resultado. “Entre 2012 e 2014, nossa arrecadação total foi de 1,7 milhão de reais”, comemora Ariel Tomaspolski, gestor do Juntos.com.vc, site de vaquinha virtual focado apenas em projetos filantrópicos. “Somente em 2015, conseguimos fazer esse volume crescer mais de 150%”, completa.

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Os números positivos estão levando até associações tradicionais no ramo a migrar para o formato digital. Com dezoito anos de atuação, o Centro de Voluntariado de São Paulo pretende lançar em 2016 um aplicativo de relacionamento. No sistema, o aspirante a colaborador poderá procurar uma organização não governamental (ONG) entre as várias disponíveis no catálogo. “Esse recurso já existe no site, mas se tornará ainda mais fácil com o uso de celulares”, conta a coordenadora Silvia Naccache.

Com o novo modelo, a entidade pretende acelerar o ritmo de capacitação de interessados em trabalhar em locais como hospitais e creches — foram 11 140 pessoas em 2015, 10% a mais em relação ao ano anterior. Nas próximas páginas, conheça algumas dessas redes do bem e as histórias de pessoas que colaboram ou recebem ajuda por meio do computador, do celular ou do tablet.

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redes do bem daniela wahba Espaço Mais
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CLIQUES PROVIDENCIAIS

A aba do site Juntos.com.vc surge na tela de abertura assim que a consultora Daniela Wahba liga o computador de casa. Primeiro, ela dá uma olhada nos projetos sociais. Casoencontre algum destinado a crianças, faz uma doação em três cliques, em menos de cinco minutos. Mãe de três flhos, costuma separar entre 500 e 1 000 reais por mês para isso. “É rápido, prático e sei que funciona”, diz. As campanhas disponíveis no menu do site da entidade não são a única opção para os colaboradores — eles também podem entrar na rede propondo novas ações.

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Daniela conheceu o endereço em outubro do ano passado, quando uma prima realizou uma campanha para uma associação que distribui alimentos a entidades benefcentes. Inspirada por essa iniciativa, a consultora promoveu no começo de 2015 uma vaquinha que arrecadou 16 000 reais. Com o dinheiro, montou uma brinquedoteca no Espaço Mais, um abrigo na Vila Guilhermina para sessenta menores abandonados. “O ambiente fcou lindo e a turma adorou”, diz Daniela. Criado em 2012, o Juntos.com.vc aceita contribuições a partir de 5 reais. Já arrecadou mais de 4,3 milhões de reais para 214 projetos no país — cerca de 60% deles estão na capital.

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Ao contrário do que se pratica em sites tradicionais de crowdfunding, não há cobrança de taxas administrativas. “O orçamento anual de 250 000 reais é custeado com a prestação de consultorias a empresas”, conta Ariel Tomaspolski, criadordo negócio, sediado no Bom Retiro.

rede do bem kickante
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UMA MÃOZINHA PARA MANU

“Mamãe, quando minha mão vai nascer?”, perguntou Manuela Vicenzi Gaiolla ao completar 3 anos, em 2014. A médica Paula Vincenzi Gaiolla emudeceu por instantes e lembrou-se do ultrassom que fzera com doze semanas de gravidez. O exame havia detectado um problema congênito de formação no braço direito da bebê. O diagnóstico: a flha teria de viver semparte do membro pelo resto da vida. “Mão não nasce, meu amor, mas você vai conseguir viver bem sem ela”, respondeu a mãe. A menina baixou a cabeça. Meses depois, navegandosem pretensões pela internet, Paula e o marido, o fsioterapeuta Paulo Gaiolla, leram a notícia de que um laboratório em Filadélfa, nos Estados Unidos, desenvolvera uma prótesecapaz de proporcionar uma vida praticamente sem limitações.

Viajaram para lá, encantaram-se com a tecnologia, mas veio outro choque: o custo inicial seria de 50 000 dólares, umafortuna em época de alta da moeda americana (hoje seriam quase 200 000 reais). Além disso, até a adolescência da menina, eles precisariam voltar à cidade a cada ano para ajustar a peça. Fizeram as contas e desistiram do plano. No entanto, um casal de amigos, Patricia e Leonardo Miana, não se conformou. Os dois conheciam sistemas de crowdfunding e se propuseram a realizar uma vaquinha virtual para ajudar.

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Lançada em março, a campanha Dê uma Mãozinha para Manu fez sucesso no site Kickante. Em um período de dois meses,a família conseguiu arrecadar 158 700 reais. Em julho, a garota colocou a prótese. Sua primeira diversão foi decorá-la com desenhos da Minnie, personagem da Disney. Tambémaprendeu a escalar brinquedos no playground, equilibrar-se na bicicleta e realizar movimentos que até então eram impossíveis.

Depois disso, seus pais passaram a engajar-se em várias causas em prol dos defcientes, sempre pela internet. “Tudo na vida tem um propósito, e Manu nasceu assim para ajudarmos a espalhar o amor”, diz Paula. Criado em 2013, o Kickante já acumula 16 milhões de reais, amealhados em cerca de 16 000 iniciativas dos mais variados gêneros. Algumas são voltadas para áreas como cultura (patrocínio a peças deteatro, por exemplo) ou empreendedorismo (como startups), mas cerca de 30% envolvem projetos flantrópicos.

redes do bem atados
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NOVA RAZÃO DE VIVER

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Em meados de 2010, a advogada Patrícia Zacarias (acima, à esq.) sofreu um aborto espontâneo daquela que seria sua segunda flha. Estava tentando engravidar havia uma década efcou muito abalada com o problema. Foi um longo período de luto, com crises de depressão e todo tipo de questionamento. Em 2014, navegando pela internet, ela descobriu a Atados, uma plataforma social gratuita que conecta pessoas e organizações assistenciais. “Resolvi pôr em prática minha vontad e de trabalhar para a sociedade e ajudar o próximo”, conta.

Criada em 2012 e sediada em Pinheiros, a entidade reúne 40 000 voluntários no país, sendo 65% na capital. Para sustentarem a plataforma, os sócios captam até 60 000 reais por mês em consultorias a empresas. Entre as 430 ONGs inscritas e mais de 230 oportunidades de voluntariado, Patricia escolheu a Associação de Apoio à Infância e Adolescência Nossa Turma, que atende cerca de 160 menores em situação de vulnerabilidade social na região da Ceagesp, na Vila Leopoldina. Além de o local ser perto de sua casa, ela trabalharia com crianças, uma de suas paixões. Começou em abril, digitando notas fscais direcionadas à ONG, durante seis horas em três dias por semana.

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Mas conheceu tantas pessoas e histórias de luta que foi ampliando seu turno por lá. Hoje, acumula as funções de comunicação, relacionamento e eventos, em uma jornada diária de mais de oito horas. Em agosto, a flha, Luiza, de 18 anos, decidiu colaborar e passou a ministrar aulas de inglês duas vezes por semana. Um dos momentos mais recompensadores para a advogada ocorreu em outubro, quando promoveu a exposição A Vida de Lá, com 44 imagens da fotógrafa Ana Kobashi sobre o cotidiano das favelas do entorno. Na ocasião, Patrícia levou a garotada para um coquetel no hotel Blue Tree Premium, na Avenida Brigadeiro Faria Lima. “Nunca vou esquecer a expressão deles ao se verem nas fotos”, lembra, em lágrimas. Ela se livrou dos antidepressivos neste ano. “O trabalho voluntário cura.”

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BOAS COMPRAS

A rotina corrida da psicóloga Michelle Fiuza atropelou sua experiência em trabalhos voluntários. Entre 2008 e 2009, ela atuava em um instituto que atende crianças em situação de risco no centro da capital. No ano seguinte, precisou parar com tudo para tratar de um câncer de mama. “Fiquei curada em 2012. Desde então, sinto uma vontade enorme de retribuir à sociedade todo o carinho que recebi naquela época, a mais difícil da minha vida”, afirma.

Em julho deste ano, conheceu o aplicativo OBem, que direciona o valor angariado com a nota fiscal paulista a nove organizações benefcentes da cidade, entre elas o Instituto Futuro, de sustentabilidade, e a fundação Fé e Alegria, de educação. O software está no ar há cinco meses e já acumulou 132 000 cupons em compras, com um valor bruto de 8 milhões de reais. O dinheiro é liberado diretamente nas contas das associações. O site também oferece às instituições cadastradas um pacote de serviços como ações de marketing e digitação de cédulas em troca de uma porcentagem da receita líquida arrecadada.

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“Desde então, toda compra que faço, de uma televisão a um picolé na padaria, registro no aplicativo”, afrma Michelle. Com isso, ela abriu mão dos quase 400 reais por ano que recebia de restituição do programa do governo. A psicóloga diz não sentir falta do dinheiro na conta bancária. “É um gesto rápido e uma quantia pequena, mas que pode ajudar muita gente.”

rede do bem todo cuidado importa
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CURA PELA ESCRITA

Nascida como Gilson, Janaina Santos (à esq.) sofreu abuso sexual aos 4 anos, experimentou maconha aos 8, tornou-se transexual na adolescência e usuária de crack aos 25. No Natal passado, decidiu parar com as drogas, graças à ajuda de programas do governo municipal. “Não aguentava mais a solidão e a pobreza”, diz. Para driblar a fssura, encontrou um remédio: a escrita. Assim, enche cadernos com memórias, crônicas e refexões. “Escrever mudou minha forma de viver”, afrma. Em agosto, a ilustradora Marcia Misawa conheceu seu texto durante uma ofcina do TransCidadania, projeto de reinserção social da prefeitura. “Ela é um talento, possui uma narrativa linda”, conta.

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Disposta a viabilizar a publicação de uma autobiografa, Marcia lançou uma ação no site de trabalho voluntário Todo Cuidado Importa, conseguindo a colaboração de catorze profssionais, entre editores e digitadores. A obra está em produção e não tem data para chegar às livrarias. Criada há um mês, a plataforma já contabiliza 35 causas e mais de sessenta colaboradores. Para se envolver em uma iniciativa, basta fazer um cadastro e escolher entre as opções. “O paulistano precisa aumentar seu índice de ‘felicidade interna bruta’, e o trabalho solidário ajuda nisso”, diz Max Petrucci, idealizador da entidade nos Jardins.

rede do bem Adote Pets
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UM APLICATIVO ANIMAL

O melhor presente de todos os 28 anos de Damaris Adamucci chegou há seis meses ao seu apartamento na Vila Guarani, na Zona Sul. Em julho, ela ganhou sua companheira inseparável: a vira-lata Nala. “Sempre fui louca por cachorro”, diz. A analista da WWF Brasil, ONG dedicada à conservação da natureza, é contra o comércio de animais e passou um bom tempo buscando associações de na internet. Baixou o Adote Pets, aplicativo gratuito que já acumula 25 000 downloads. O programa apresenta ao usuário mais de 680 bichos, abrigados em treze instituições e por 43 protetores cadastrados na capital.

“É possível ver foto, tamanho, idade e saber um pouco da história de cada um.” Pelo celular, Damaris marcou um encontro em uma entidade perto de onde mora para conhecer Nala. Foi amor à primeira vista, mas a adaptação mostrou-se complicada. A cadela aprontava ao ficar sozinha em casa e, em uma ocasião, até ligou o gás de cozinha com uma patada. Por meio da mesma ONG, conseguiu um adestrador. “Agora ela está uma lady”, elogia. Mesmo depois da adoção, Damaris manteve o aplicativo em seu celular. Agora, utiliza o programa para colaborar com campanhas de arrecadação de artigos para as associações. Toda semana, por exemplo, compra um saco de ração para uma delas.

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ANTES DE ABRIR A CARTEIRA

Os cuidados do doador ou voluntário ao escolher uma entidade

1) Busque uma causa com a qual você se identifique, em um lugar perto de casa. Assim, é mais fácil tornar a atividade regular.

2) O serviço não deve ser esporádico. É preciso reservar espaço na agenda, como em uma ocupação profissional.

3) Sites e aplicativos beneficentes costumam informar-se sobre as causas antes de oferecê-las. Vale a pena fazer uma pesquisa neles.

4) É recomendável entrar no site da entidade e checar balanços, além de verificar como o dinheiro e o trabalho são geridos.

5) Fique de olho em sua postura: nunca espere recompensas ou reconhecimento pela ajuda oferecida.

AJUDA NA PALMA DA MÃO

Endereços de programas, aplicativos e redes sociais que facilitam a busca de uma causa

VOLUNTARIADO – Há várias redes para quem quer pôr a mão na massa. Uma das mais tradicionais é a do Centro de Voluntariado de São Paulo (voluntariado.org.br). Ao preencher o cadastro com seu endereço, é possível descobrir uma organização perto de casa. A equipe promove palestras para orientar os interessados. A Todo Cuidado Importa (todocuidadoimporta.com.br) oferece oportunidades em várias áreas, com trabalhos a distância. A plataforma Atados (atados.com.br) mostra um cardápio bem interessante de ações. Após preencher campos como temas de interesse (alguns exemplos são educação, meio ambiente e idosos), abre-se um mapa com a localização das principais associações.

NOTA FISCAL – Ao ajudarem a destinar parte do imposto a entidades beneficentes, esses aplicativos se tornaram uma forma rápida e simples de ajudar. Há várias opções — OBem, NF doBem Casa de David, Cupom Solidário Apae e InstaGraacc são algumas delas.

CROWDFUNDING – A internet dispõe de um cardápio amplo de financiamentos coletivos. Vale a pena visitar o Juntos.com.vc, especializado em causas sociais, além do Kickante, do Catarse e do Vakinha.

BICHOS – Para quem deseja adotar um animal de estimação, a dica é baixar os aplicativos Au.Dote e Adote Pets. Além de encontrar um bichinho em um abrigo, é possível colaborar com ONGs.

MEIO AMBIENTE – A Made in Forest (madeinforest.com) tem uma rede com 60 000 cadastros de empresas, serviços e ONGs sustentáveis.

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