Tarcísio de Freitas é eleito governador de São Paulo
Candidato do Republicanos venceu com 55,26% dos votos válidos, contra 44,74% Fernando Haddad (PT) no segundo turno
Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi eleito governador de São Paulo. Ele debutou nas urnas de forma ambiciosa: sua primeira corrida a um cargo público foi para comandar o estado mais rico e populoso do país, com o qual não tinha relações históricas. Com o respaldo do presidente Jair Bolsonaro (PL), teve uma ascensão rápida nas pesquisas. Foi bem recebido por empresários, pelo agronegócio e por prefeitos do interior. Também costurou acordos políticos importantes, como o de Gilberto Kassab (PSD), em troca de ter Felicio Ramuth (PSD) como vice. Conquistou o voto conservador dos paulistas, outrora monopólio do PSDB. Neste domingo (30), venceu o segundo turno com 55,26% dos votos válidos, contra 44,74% de Fernando Haddad (PT).
Com um discurso anti-PT que trouxe a política federal para o debate estadual, a campanha de Tarcísio mirou em temas como segurança pública e privatizações, clamou por renovação no estado após quase trinta anos de governos tucanos e surpreendeu ao terminar o primeiro turno em primeiro lugar, já que as pesquisas projetavam Fernando Haddad (PT) com mais votos.
O carioca Tarcísio escolheu São José dos Campos, cidade onde mora parte da família, como domicílio eleitoral. A manobra chegou a ser questionada, mas acabou autorizada pela Justiça Eleitoral. No campo político, as provocações sobre a origem “forasteira” de Tarcísio foram exploradas pelo adversário. O resultado mostrou que, para a maioria do eleitorado paulista, ter um governador carioca não é problema.
Na campanha, Tarcísio participou de motociatas, circulou por grandes e pequenas cidades do interior, foi a eventos de agricultura e pecuária, a cultos de igrejas evangélicas e atos na Avenida Paulista. Aprendeu nomes de bairros e avenidas da capital, prometeu “trazer o poder” para o centro da cidade e levou a polêmica sobre câmeras nos uniformes da Polícia Militar para o debate.
O maior desgaste da campanha ocorreu justamente na reta final, por suspeitas de atuação de sua equipe em um tiroteio ocorrido no dia 17 de outubro em Paraisópolis, durante um visita de campanha – que terminou com um homem morto. À frente nas pesquisas e evitando questionamentos sobre o episódio, a agenda de compromissos na semana anterior ao pleito foi reduzida: Tarcísio participou de apenas um evento na última terça-feira (25) junto ao PSDB paulistano, do debate da TV Globo na quinta (27) e de uma carreata em São Bernardo do Campo no último sábado (29).
O episódio respingou na campanha do oponente após o jornal Folha de S.Paulo revelar um áudio no qual um integrante da equipe de Tarcísio pede para um cinegrafista da Jovem Pan apagar imagens do incidente. Depois, o cinegrafista afirmou ao mesmo jornal que o candidato teria pressionado por sua demissão. O Intercept ainda publicaria uma reportagem na qual moradores afirmam que foi um segurança do candidato o autor dos disparos que mataram Felipe Lima. Tarcísio admitiu o pedido para apagar as imagens, mas que seria para “preservar a identidade das pessoas” no local.
Com o segundo turno definido, Tarcísio viu rapidamente grande parte dos partidos de centro-direita migrarem para sua candidatura. Rodrigo Garcia (PSDB), que ficou em terceiro lugar, demorou apenas dois dias para declarar “apoio incondicional” a ele e a Bolsonaro. A sequência de endossos foi reforçada pelo próprio diretório estadual do PSDB, além de União Brasil, MDB, PP, Podemos e Cidadania. A coligação de Tarcísio foi formada por PSD, PL, PTB, PSC e PMN.
Vencedor em 500 cidades, Tarcísio conquistou 9 881 995 votos no primeiro turno, mas perdeu na capital. Por isso, na campanha para o segundo turno focou as agendas em diversas regiões de São Paulo e da região metropolitana.
Durante a campanha, Tarcísio ainda contou ainda com a companhia de deputados estaduais que haviam chegado ao poder justamente na onda bolsonarista em 2018, como Frederico D’Ávila (PL) – um dos responsáveis por aproximar o candidato do agronegócio – e Gil Diniz (PL), conhecido como “carteiro reaça”. Outro parlamentar estadual que costumava estar ao seu lado em eventos era Douglas Garcia (Republicanos), mas a “amizade” acabou quando o deputado ofendeu a jornalista Vera Magalhães após debate da TV Cultura em 14 de setembro. Na ocasião, o candidato ligou para a jornalista para se desculpar e prontamente defendeu que o parlamentar fosse punido.
Aos 47 anos, o engenheiro e militar da reserva é casado com Cristiane de Freitas e tem dois filhos. Foi chefe da seção técnica da Companhia de Engenharia do Brasil na Missão de paz da ONU no Haiti. Em 2011, foi indicado a diretor executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), durante o governo de Dilma Rousseff (PT). Na ocasião, o órgão enfrentava suspeitas de corrupção e Tarcísio teve o papel de reorganizar o local. Em 2014, virou diretor-geral do DNIT, onde ficou até 2015.
A eleição de Tarcísio significa um marco na história do Republicanos, sigla criada há apenas dezoito anos como um braço político da Igreja Universal do Reino de Deus e que tem entre seus nomes mais expressivos o ex-prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella, que chegou a ser preso por suspeita de corrupção, e o deputado federal Celso Russomanno.