SPTuris negocia volta da Fórmula Indy à capital e jogos da NBA e NFL
Comemorando os bons números do turismo puxados pela agenda de megashows, presidente da estatal afirma que mercado de eventos será promissor
O sorriso largo de Gustavo Pires, 31, presidente da SPTuris, a empresa de eventos e turismo da capital, tem entre os seus motivos a firme retomada do setor em 2023 na cidade. Só em impostos sobre serviços (ISS) arrecadados sobre essas atividades pelos cofres municipais nos quatro primeiros meses deste ano, foram 208,4 milhões de reais, 69% a mais dos 123,6 milhões de reais em relação ao mesmo período de 2019, antes da pandemia. Nomeado para chefiar a SPTuris pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) em agosto de 2021, ele revela que existem negociações em andamento para trazer mais atrações de grande porte para a capital, como uma etapa do Endurance (categoria automobilística), jogos da NFL (futebol americano) e também da NBA, a principal liga de basquete dos EUA, e a retomada da Fórmula Indy. Braço direito do prefeito Bruno Covas, que morreu em maio de 2021, ele também comenta a polêmica sobre as indicações que fez e que renderam desgaste político ao ex-prefeito, e a relação com Tomás Covas, filho de Bruno, a quem considera um irmão mais novo.
Os eventos de lazer e entretenimento têm mudado o cenário de turismo?
Digamos que São Paulo perdeu a vergonha de se divertir. Era uma cidade voltada só para o turismo de negócios, e hoje não é mais. Em março tivemos 74% da rede hoteleira ocupada (a maior taxa de ocupação para um mês de março desde 2012). Tivemos em um único mês Coldplay, Lollapalooza e Fórmula E. Os nossos eventos vêm cada vez mais atraindo o público de fora.
Esse desempenho não foi sazonal?
Teremos eventos assim o ano inteiro. Logo haverá a Virada Cultural, a Parada, a Marcha para Jesus, e são três públicos bem diferentes, mas teremos ainda o Red Hot Chili Peppers, a banda Rebelde, que será um sucesso incrível, com cinco datas e ingressos já esgotados, Fórmula 1, The Town e muitos outros. E temos ainda outras atrações que não são internacionais, mas lotam vários espaços, com público que reúne de 20 000 a 50 000 pessoas ou mais e que acontecem todo fim de semana.
A burocracia para produzir eventos é criticada. O que pode ser feito?
A nossa gestão está ouvindo os setores e a sociedade para a criação do Descomplica Eventos, que será uma maneira mais simples e efetiva para o setor e voltado tanto para o evento de pequeno porte quanto o de grande. Queremos oferecer um caminho na adminis tração menos burocrático, mas que venha a preencher os prérequisitos necessários e conseguir as liberações necessárias.
Desde que foi concedido, o Anhangabaú passou 20% do tempo gradeado para receber shows. Ele está cumprindo a sua função?
Eu acho que hoje é um dos principais pontos da cidade de São Paulo, até porque muitos outros espaços estão sem data. Se você tem capacidade de gerar emprego, renda e impacto econômico, e precisar fechar alguns dias para isso, vale o sacrifício. A gente tem conseguido fazer grandes eventos e a cidade de São Paulo está conseguindo se reinventar. O Centro de São Paulo está sendo um grande sucesso e do ponto de vista turístico há evolução.
Quando a concessão do Anhembi à GL Events começará a dar resultados?
Estamos diante da melhor concessão da prefeitura e é a única onde temos 12,5% da receita (foram pagos 17,9 milhões de reais de outorga em 2021 e 35,8 milhões de reais em 2022). Após a reforma nos pavilhões temos uma previsão de estimativa de impacto econômico de 5 bilhões ao ano. Foi um dos principais fatores de tornar a SPTuris uma empresa rentável. Tínhamos um déficit orçamentário de 55 milhões de reais e hoje temos projeções superavitárias. A empresa fechou o ano passado com um lucro de 64 milhões. O Anhembi voltará a ser o principal centro de eventos da América Latina.
São Paulo já possui arenas. Por qual motivo mais uma? Todos os eventos que não precisam ter uma arena indoor já estão aqui. Com a arena, São Paulo não vai dever nada para o resto do mundo. Com ela a gente tem uma conversa avançada com NBA. Eles dizem que, caso São Paulo tenha uma arena indoor com capacidade de receber jogos da NBA (previsão é de 20 000 pessoas), com seis meses eles vêm. Será uma arena de primeira linha que não deve nada às principais arenas de Nova York, Xangai, Los Angeles, Londres. E ela não vai competir com outros locais, como o Allianz Parque. Mas tem condições de receber Aberto de Tênis, UFC e NBA.
A SPTuris tem negociação para trazer à capital outros grandes eventos?
Estamos em negociação com a NBA, NFL, Endurance e Fórmula Indy. Se conseguirmos, São Paulo será a primeira cidade do mundo a ter as três categorias da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) (as outras duas são as fórmulas 1 e E). A Fórmula Indy, que estamos em tratativas, pode ser em Interlagos ou Anhembi. No caso da NFL, ainda não tivemos a vistoria, mas encaminhamos a possibilidade do Morumbi, Allianz Parque ou NeoQuímica Arena. Se for aprovado, já teremos a partir da temporada de setembro de 2024. No caso da NBA, em 2025, quando a arena poderá ficar pronta. A Fórmula Indy e Endurance já estamos trabalhando para que seja no ano que vem.
Quando era braço direito de Covas, sua mãe foi nomeada, além de um amigo seu de balada e cinco colegas de turma no Mackenzie. Foi uma atitude correta?
Foi correta, caso contrário não teria sido tomada. Todos têm qualificação profissional e acadêmica, antes de tudo. A administração pública, nos três poderes e na esfera municipal, estadual e federal, tem a previsão da contratação de cargos de livre provimento. São funções típicas de assessoramento, chefia ou direção, principalmente, não constantes do plano de cargos e carreira.
O seu cargo pode entrar como moeda de troca numa eventual costura política para que Nunes tente apoios na disputa à reeleição em 2024?
Temos possibilidade de continuar o trabalho aqui e é o que quero, mas entendo totalmente o jogo político caso em algum momento seja necessário algo nesse sentido. E creio que o prefeito vem gostando do meu trabalho. Não basta dizer apenas que fui secretário executivo de Bruno Covas, embora eu o considere como um mestre para mim, mas é a quem devo estar no mapa político hoje e eu tenho uma gratidão enorme por ele. Bruno é meu irmão e tenho o Tomás com um irmão mais novo.
A expectativa sobre o nome do Tomás não é muito grande?
Não existe nenhum tipo de pressão pelas pessoas realmente próximas dele. A pressão e a expectativa são de pessoas que não estão próximas. Se o Tomás quisesse voltar para o Brasil e ser candidato no ano que vem, muitos estariam na campanha dele. Mas ele não sofre por isso. Para mim, muito mais importante do que a vida política do Tomás é a vida pessoal dele. Eu o defendo como posso, sempre. E não é justo ele sofrer essa pressão com 17 anos de idade.
Publicado em VEJA São Paulo de 31 de maio de 2023, edição nº 2843