‘Sou quem mais quer falar’, diz ex-técnico acusado de abuso sexual
Ao todo, quarenta ginastas e ex-ginastas afirmaram que foram vítimas de abusos sexuais praticados por Fernando de Carvalho Lopes entre 1999 e 2016
Acusado de abusar sexualmente de ginastas, o ex-técnico da seleção brasileira Fernando de Carvalho Lopes disse ser a pessoa mais interessada em falar a respeito das denúncias. Ele aguarda a intimação para comparecer à Delegacia da Mulher, do Adolescente e da Criança de São Bernardo do Campo (SP), onde corre desde 2016 inquérito para investigar o caso.
O ex-treinador do Mesc (Movimento de Expansão Social Católica), clube particular onde teria ocorrido os abusos, também foi convocado a prestar depoimento tanto na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) instalada no Senado que investiga crimes relacionados a maus-tratos a crianças e adolescentes no Brasil quanto na audiência pública que pretende debater o escândalo relacionado à ginástica artística que veio à tona no último dia 29 de abril em reportagem do Fantástico, da TV Globo.
“É a oportunidade de falar e temos muita coisa para falar. Mas tudo no seu momento”, afirmou Fernando de Carvalho Lopes ao jornal Diário do Grande ABC. Antes de comparecer aos eventos em Brasília, ele quer falar primeiro com a delegada Teresa Alves de Mesquita Gurian, que conduz o inquérito policial. Ela já havia informado que o acusado seria a última pessoa a prestar depoimento.
“Vou atender tudo o que for necessário. Mas a ideia é que marquem depois e primeiro que eu preste contas na delegacia. Sou quem mais quer falar. Não adianta colocar a carroça à frente dos burros. Hoje a primeira pessoa a quem vejo necessidade de prestar conta é a delegada. Sou inocente”, alegou Fernando de Carvalho Lopes.
Ao todo, quarenta ginastas e ex-ginastas afirmaram que foram vítimas de abusos sexuais praticados por Fernando de Carvalho Lopes entre 1999 e 2016, quando ele era técnico do Mesc clube do qual se encontra afastado de todas as funções desde que as denúncias vieram à tona. O processo foi aberto em junho de 2016. Até agora, 23 pessoas já foram ouvidas na delegacia, entre vítimas e testemunhas.
Na semana passada foi cumprido mandado de busca e apreensão na casa dos pais do treinador, onde ele também reside atualmente, em São Bernardo do Campo. Foram recolhidos CDs, DVDs, pen drives HD externo e fita cassete. A polícia não divulgou o conteúdo do material.
O Conselho Tutelar de São Bernardo do Campo já sugeriu ao Ministério Público que Fernando não trabalhe mais com crianças ou adolescentes. Ele também poderá ser exonerado da Prefeitura de Diadema (é concursado) e perder o seu registro no Conselho Regional de Educação Física – existe um processo que corre em sigilo desde 2016.
Ainda há desdobramentos na esfera esportiva. Algumas vítimas querem que o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da modalidade apure o caso para eventualmente banir o treinador do esporte. No COB (Comitê Olímpico do Brasil), a Comissão de Atletas encaminhou uma representação ao Conselho de Ética da entidade pedindo esclarecimentos sobre a responsabilidade da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica) e do técnico Marcos Goto, coordenador de seleções, no caso – Goto é acusado de omissão, por supostamente ter conhecimento da história e não tomar providências.