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Restauro de palacetes no Pátio do Colégio revela riscos de desabamento

Construções do século XIX devem virar museus caso o governo se mude para os Campos Elísios; reparos começaram em dezembro de 2020

Por Pedro Carvalho
7 jul 2023, 06h00
Foto aérea de dois palacetes e pátio vazio em frente.
Obras de restauro nos prédios da Secretaria de Justiça: palacetes quase idênticos em recuperação. (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Quando chovia forte, a água escorria pelas paredes dos salões. As infiltrações ameaçavam provocar um curto-circuito nas instalações elétricas. Em alguns ambientes, o teto era escorado por vigas de madeira apoiadas no chão, para não desabar. Parece a descrição de algum edifício abandonado, mas era o estado recente de verdadeiros patrimônios paulistanos: dois palacetes do século XIX feitos pelo arquiteto Ramos de Azevedo, em pleno Pátio do Colégio, nos quais funciona a Secretaria de Justiça e Cidadania do estado.

O governo começou a restaurar os prédios em dezembro de 2020. “Os problemas eram maiores do que imaginávamos, com dezenas de infiltrações e risco real de desabamento”, diz José Carlos Rodriguez, arquiteto da pasta. As “surpresas” impediram João Doria (sem partido, à época no PSDB) de reinaugurar os espaços durante o mandato, como era o plano do ex-governador. Ao custo de 12,4 milhões de reais, as obras devem terminar no final deste ano.

Além das questões de elétrica e hidráulica, os reparos incluíram a recuperação de pinturas e adornos originais (foto abaixo). “Qualquer que seja o uso dos edifícios, vamos abri-los à população”, diz o secretário Fábio Prieto.

Homem em andaimes restaura detalhes em viga branca.
Obras de restauro nos prédios da Secretaria da Justiça: em andamento, com custo de 12,4 milhões. (Alexandre Battibugli/Veja SP)

A incerteza sobre o futuro dos palacetes, na afirmação de Prieto, tem a ver com um possível rearranjo das sedes do governo estadual. Desde a campanha eleitoral, Tarcísio de Freitas (Republicanos) promete mudar a administração para o bairro dos Campos Elísios, no Centro. Além da transferência do próprio Palácio do Governo (atualmente no Morumbi), as secretarias também seriam deslocadas para a região.

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O projeto ainda está em fase de “estudo de viabilidade” e, nos bastidores, a previsão é de que saia do papel apenas no final da atual gestão — isso se for viável. (Também nos bastidores, não é grande a animação dos quase 200 funcionários da Justiça e Cidadania com a eventual mudança…)

Sala com afrescos no topo e várias entradas com portas escuras. Dois lustres individuais aparecem pendurados.
“Sala dos anjos”, com afrescos originais. (Alexandre Battibugli/Veja SP)

De qualquer maneira, as pastas já planejam os usos dos prédios que iriam desocupar. O atual entendimento é de que os palacetes virariam museus ou centros culturais. “Logo após o restauro, vamos abri-los a visitas guiadas e usos públicos”, diz Prieto.

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Biblioteca com piso verde, detalhes vermelhos e prateleiras pretas. Um grande lustre aparece no centro.
Restauro: biblioteca de um dos prédios. (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Os edifícios foram inaugurados em 1891 e 1892. No início, abrigaram as secretarias da Agricultura e da Fazenda paulistas — um deles tem um enorme cofre no subsolo, que ocupa quase todo o terreno.

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O Pátio do Colégio, onde estão localizados, é o marco zero de São Paulo, onde os padres Manoel da Nóbrega e José de Anchieta ergueram a primeira construção da cidade. As quadras ao redor têm outras obras importantes de Ramos de Azevedo, como o Theatro Municipal e o Tribunal de Justiça, na Praça da Sé.

“Vou propor que o governo crie um circuito para a visitação dos projetos do arquiteto no Centro”, diz Prieto. Qualquer uso dos palacetes, claro, vai depender da segurança no acesso ao local. Até o início do ano, a praça em frente aos prédios vivia quase totalmente tomada por barracas de pessoas em situação de rua. De lá para cá, segundo funcionários da secretaria, a ocupação caiu em cerca de 60%.

Assim como acontece na Sé, as barracas “desaparecem” durante o dia, após uma limpeza matinal, para retornar à noite. A queda, entre outros fatores, teria a ver com uma gestão mais linha-dura do atual subprefeito da Sé, o Coronel Camilo. De qualquer forma, os roubos de celular seguem frequentes nas ruas da região.

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Imagem exibe espaço escuro com janela ao fundo e teto caído.
Situação antes das obras, com vigas para segurar o teto. (SJC/Divulgação)
Homem branco grisalho posa sentado de terno em espaço suntuoso repleto de cadeiras de madeira, acolchoadas, e lustre no topo.
Secretário Fábio Prieto. (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Publicado em VEJA São Paulo de 12 de julho de 2023, edição nº 2849

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