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Com aulas lúdicas, reforço escolar ajuda quem tem dificuldade de aprender

Alicerce Educação oferece classes em doze bairros paulistanos por até 199 reais por mês

Por Fernanda Bassette
Atualizado em 28 fev 2020, 14h14 - Publicado em 28 fev 2020, 06h00

João Nicolas, de 7 anos, cursava o 1° ano do ensino fundamental em uma escola pública, sofria de gagueira e não sabia ler nem escrever quando começou a frequentar as aulas de reforço do Alicerce Educação, na unidade da Vila Matilde, na Zona Leste de São Paulo. Em quatro meses de aulas e de acompanhamento psicológico, o menino praticamente corrigiu o problema na fala e encerrou o ano letivo lendo e escrevendo. “Eu era gago, e minha professora falava que era muito ansioso e que ela ia me auxiliar. Eu passei de ano porque o projeto me ajudou muito”, diz o menino.

O Alicerce é um programa educacional de reforço voltado para crianças e adolescentes de 6 a 17 anos, de famílias de média e de baixa renda, criado no primeiro semestre de 2019. Ao todo, há 49 unidades no Brasil, doze delas em bairros paulistanos periféricos e doze na Grande São Paulo, como Guarulhos, Osasco e Diadema, além de polos em Minas, no Paraná e no Rio. Para facilitar a vida dos pais, o próprio programa busca as crianças matriculadas na escola ou as leva do curso para o colégio.

Dificuldade de escrita: Paulo José Pires Martinez, 11 anos, aprendeu e venceu competição de soletrar palavras (João Bertholini/Veja SP)

Aulas de português, matemática, inglês e programação são oferecidas nos cinco dias da semana no contraturno escolar por universitários ou recém-formados com no máximo 28 anos que recebem 15,62 reais por hora de trabalho. O valor do curso varia de 149 a 199 reais por mês, dependendo do número de dias que a criança frequentar as classes. “Hoje possuímos capacidade instalada para atender 10 000 alunos e já temos perto de 3 000 crianças no Alicerce. Só na cidade de São Paulo há 1 522 jovens matriculados”, conta Paulo Batista, presidente-fundador do Alicerce, que afirmou que pretende ampliar o projeto para 350 unidades de atendimento ainda neste ano.

A empregada doméstica Elaine Cristina Soares de Assis, de 39 anos, mãe de João Nicolas Soares Lucca, conheceu o Alicerce por meio de um panfleto distribuído perto de sua casa, na Zona Leste. Para poder trabalhar, ela pagava 200 reais por mês a uma vizinha para que cuidasse do filho enquanto estava no serviço. “O Nicolas era uma criança com muitos problemas de fala e de aprendizagem. Vi mudanças significativas no seu desenvolvimento em pouco tempo. Gasto o mesmo valor de antes, com a diferença de que ele está estudando. É um benefício que não tem preço”, relata.

Reforço: Isaac Guimarães, 8, e o irmão Leonardo, de 14 anos, fazem aula de português e de matemática (João Bertholini/Veja SP)

Isaac Guimarães, de 8 anos, também não sabia ler e escrever o próprio nome quando se matriculou no reforço do Alicerce. Sua dificuldade na escrita era tanta que, para poder avaliá-lo, a professora tinha de fazer uma prova oral. Meses depois, Isaac já começa a colher os resultados. “A primeira palavra que aprendi a escrever foi bala”, conta o menino. Seu irmão Leonardo, de 14 anos, também frequenta as aulas para tentar melhorar o desempenho em matemática. O jovem sonha em ser programador e, para isso, precisa dominar as ciências exatas. “Quero aprender a fazer jogos de qualidade e ser um programador bem famoso.”

Gabriel Ribeiro Alves dos Santos, de 16 anos, também quer aprender a programar para desenvolver games, aplicativos e vídeos, mas tem sérios problemas com matemática — foi reprovado quando cursava o 7° ano em uma escola particular justamente por não atingir a média mínima na disciplina. Por muito tempo, a família pagou 50 reais a hora/aula a uma professora particular para que ensinasse a matéria a Gabriel, mas o menino não avançava. “Ele sempre teve muita dificuldade em raciocínio lógico, desde pequeno. Já não via mais alternativa”, conta Viviane Alves, de 44 anos, mãe de Gabriel. O jovem se matriculou no Alicerce em agosto de 2019 e fez aulas intensivas de matemática no fim do ano para não ser reprovado mais uma vez na escola. Deu certo. “Hoje, eu me sinto bem mais seguro, pois aprendo matemática de uma maneira mais divertida, em grupo. Não estou 100% ainda, mas já é muito melhor do que quando comecei.” No reforço, os estudantes, por exemplo, treinam formação de algoritmos com grupos de “crianças-robô”, cada uma responsável por pegar um objeto com comandos predeterminados, exercício que tem cara de brincadeira.

Programação: Gabriel Ribeiro Alves dos Santos, 16 anos, quer criar games (João Bertholini/Veja SP)

A esteticista Vera Lúcia Gennari, de 44 anos, conta que parou de trabalhar para poder cuidar do filho Paulo José Pires Martinez, hoje com 11 anos. Ela o matriculou no programa três vezes por semana para que melhorasse o desempenho em português. “Ele não conseguia compreender a matéria e tinha muita dificuldade na escrita. Não sabia, por exemplo, quando usar o ‘x’ ou o ‘ch’ nas palavras”, lembra. Paulo José gostou tanto que pediu à mãe que o matriculasse a semana toda. Para surpresa de Vera, o filho venceu a primeira etapa de uma olimpíada de português para soletrar palavras promovida entre os alunos das unidades do Alicerce. “Fiquei chocada. Ele, que quase não sabia escrever, ganhou a competição soletrando palavras”, afirma.

A fonoaudióloga Mônica Andrade Weinstein, vice-presidente de aprendizagem do Alicerce, explica que o diferencial do programa é o modelo de personalização do ensino, com a chamada “sala de aula invertida”, já que as classes não são oferecidas no formato tradicional das escolas — as turmas recebem estudantes de 6 a 11 anos e de 12 a 17 anos, sem seguir as séries específicas. “A gente foca o processo no aluno, conforme a necessidade dele. Posso ter ao mesmo tempo um grupo fazendo aula de leitura e outro de matemática”, relata.

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De acordo com Mônica, os estudantes são constantemente avaliados segundo indicadores educacionais do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). “A maior parte deles chega com um atraso educacional muito grande”, diz.

Para mudar esse cenário, o programa usa recursos internacionais de alfabetização e aprendizagem, com aulas mais lúdicas e voltadas para o interesse específico do aluno. Há formas geométricas com barbantes, amarelinha de vogais, queimada de números, coordenadas cartesianas com o mapa do metrô, montagem de sólidos geométricos com bala de goma e palito, por exemplo. “A gente quer tirar todo esse atraso e preparar o estudante para a vida oferecendo-lhe um ensino de qualidade. E está dando certo.”

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 4 de março de 2020, edição nº 2676.

 

 

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