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Recados da China

A empregada desligou o telefone, depois de dizer “Pode deixar, eu aviso ele”, parou um minuto para pensar, andou pela cozinha e área de serviço olhando para o teto, conferiu os banheiros, passou pelo patrão, estendido na poltrona com o pé apoiado no pufe, e foi perguntar, intrigada, à patroa: – Dona Marilda, deu vazamento […]

Por Ivan Angelo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h46 - Publicado em 18 set 2009, 20h18
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  • A empregada desligou o telefone, depois de dizer “Pode deixar, eu aviso ele”, parou um minuto para pensar, andou pela cozinha e área de serviço olhando para o teto, conferiu os banheiros, passou pelo patrão, estendido na poltrona com o pé apoiado no pufe, e foi perguntar, intrigada, à patroa:

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    – Dona Marilda, deu vazamento no apartamento?

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    – Não que eu saiba.

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    – Então não entendi.

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    – Não entendeu o quê?

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    – A mulher da farmácia disse que já vinha um homem com pressa para cuidar da goteira.

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    – Da farmácia, Chi-na? Cuidar da goteira, China?

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    – Isso que eu não en–tendi.

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    A mulher foi perguntar ao marido, já desconfiada:

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    – Você pediu alguma coisa da farmácia?

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    – Pedi. Compressa pa–ra a gota. Meu pé está doen-do para burro.

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    Esclareceram tudo, às gargalhadas. Encur-tan-do: a farmácia tinha avisado que estava mandando um rapaz com a compressa que ele ha–-via pedido para cuidar da gota.

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    Era mais um dos recados atrapalhados da Chi-na, Cristina, um amor de pessoa, mas ruinzinha de ouvido e entendimento. Para umas coisas funcionava bem, como resumir no–velas e levar o cachorro para passear, para outras era mais ou menos, como passar roupa e fazer faxina, e para outras era melhor evitar, como cozinhar e dar recados. Cozinhar, dona Marilda preferia ela mesma fazer, e gostava; recados, nem sempre era possível evitar. Ele trabalhava, ela saía bastante. O pior era quando a China ia embora na sexta-feira, para voltar só na segunda, e deixava recado escrito:

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    “Sr. Mauro. Ronaldo do Coríntia marcô 4 horas amanhã no Bob Dique”.

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    Felizmente dessa vez ele tinha algumas chaves para deslindar a charada. Não conhecia o Ronaldo do Corinthians, mas tinha um amigo chamado Ronaldo. E esse amigo tinha um barco em Ilhabela, o Mobby Dick. Ligou para o Ronaldo e confirmou o convite para o passeio de barco.

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    – Olha só o recado que a China, minha empregada, deixou.

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    Leu o recado, deram risadas, e o amigo explicou como o jogador entrou na história: ela não entendia o nome, ele repetia, ela entendia Renato, ele corrigia, ela dizia Reinaldo, ele repetia, Ronaldo, Ro-nal-do!, e deu um exemplo “Ronaldo, do Corinthians”, e aí ela disse “aaaah”, como se tivesse compreendido.

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    O patrão não se importava com o português, língua recauchutada como todas as outras. O problema era ficar no ar, sem entender o recado, como já havia acontecido. E se fosse coisa importante? O recado mais recente, indecifrável, não parecia importante:

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    “Ligar para o gênio de Santo André”.

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    Não conhecia ninguém em Santo André, nem burro nem gênio. Se fosse de São Bernardo ainda poderia ser o Lula, foi a piada que lhe ocorreu. Mas Santo André?

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    Quando a China chegou na manhã seguinte, ele lhe mostrou o recado, dizendo que não havia entendido. Ela leu, fez beiço, balançou a cabeça e confirmou:

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    – Foi isso mesmo que ele disse.

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    – Disse se era coisa urgente, importante?

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    – Não, só isso.

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    Ele relaxou. A pessoa, se estivesse interessada, ligaria de novo. Ligou. Era o gerente do banco, queria consultá-lo sobre uma aplicação. O “gênio de Santo André” era o Eugênio, do Santander.

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