Zona Norte ganhará novo bairro do tamanho do Parque Ibirapuera
Terreno em Pirituba, pouco maior que o parque, terá condomínios, praças, parque e lojas; investimento é de 2 bilhões de reais
Estádio para a Copa de 2014, centro de convenções e moradia popular. Quem vive em Pirituba viu nas últimas décadas um terreno de 1,7 milhão de metros quadrados ser alvo das mais variadas promessas. Um novo projeto vai finalmente sair do papel.
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Com investimento de 2 bilhões de reais e ao menos 11 000 unidades habitacionais, a construtora MRV ergue do zero um novo bairro, intitulado Cidade Sete Sóis Pirituba. O terreno margeia as avenidas Raimundo Pereira de Magalhães e Doutor Felipe Pinel. “Começamos neste ano com três lançamentos, com 1 000 unidades de 34 a 45 metros quadrados”, explica o diretor comercial Thiago Ely. A faixa de preço é de 230 000 a 340 000 reais. Até 2025 serão colocados à venda outros 4 000 apartamentos, que começarão a ser entregues em 2026. Nessa primeira fase, fazem parte do Minha Casa, Minha Vida, para famílias com renda a partir de 3 000 reais. A previsão é que toda a obra dure dez anos. Quinze quilômetros de novas ruas serão construídos no complexo. Também serão entregues 25 pontos comerciais em fachadas ativas e 20 000 metros quadrados para estabelecimentos de maior porte, como redes varejistas.
“Perdemos a nossa vista verde, agora vai encher de prédio”, lamenta Roberto Amaro, 47, comerciante vizinho do projeto. A construtora promete 750 000 metros quadrados de área verde (pouco mais que um Parque Villa-Lobos), onde no passado era lar de eucaliptos e um remanescente de região preservada (que será mantida em 97%). Desse total, 100 000 metros quadrados serão abertos à população, entre praças e um parque linear que margeia o Córrego Cantagalo. A empresa promete plantar 36 000 árvores.
Em nota, a Secretaria Municipal do Verde informa que foi firmado Termo de Compromisso Ambiental para manejo de vegetação exótica. O licenciamento para vegetação nativa foi obtido junto à Cetesb, do governo estadual, que afirma ter analisado em 2022 um relatório de investigação ambiental e concluiu “não haver óbices à implantação”.
A obrigação compensatória firmada entre a secretaria e a empresa foi definida em 56 916 mudas de espécies nativas, cuja execução foi convertida em obras e serviços. “Recentemente foram protocoladas novas plantas e, caso o projeto venha a ser aprovado, serão estabelecidas novas compensações”, diz o texto. Com relação à parte do terreno localizada em Zona Especial de Proteção Ambiental, o manejo foi autorizado com parecer técnico.
Outra preocupação dos moradores do entorno é o trânsito. “Os túneis da região já são complicados, imagina com esse tanto de gente chegando”, comenta Francisco de Melo Garrido, 52, presidente do Jaraguá Clube Campestre, vizinho da MRV. Segundo a prefeitura, a CET elabora estudos para quantificar a geração de viagens do polo e identificar seu impacto no sistema viário de acesso. A Secretaria de Urbanismo diz que o projeto prevê a realização de alargamentos das vias.
A MRV está doando 92 000 metros quadrados ao poder público. Por ora, há apenas a previsão da UBS Jardim Brasília, para agregar à rede local. Apesar dos receios, há expectativas positivas. “O comércio pode ser beneficiado, quanto a isso estamos otimistas”, diz a comerciante Sônia Rosado, 66. “Esperamos que valorize o imóvel”, diz a moradora Raquel Mlaker, 35. ß
Publicado em VEJA São Paulo de 3 de novembro de 2023, edição nº 2866