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“O Waze sabe onde tem trânsito, mas a CET não sabe”, diz novo secretário de Mobilidade

Ricardo Teixeira afirma que "os semáforos são burruos" e que recebeu do prefeito a missão de aumentar a fluidez principalmente do transporte coletivo

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 19h43 - Publicado em 20 ago 2021, 06h00
A imagem mostra Ricardo Teixeira em seu gabinete. Ele está sentando em frente ao seu computador, e atrás, há uma jaqueta típica dos guardas da CET.
Ricardo Teixeira em seu gabinete, no centro: marronzinho nos anos 70 (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Recém-nomeado para assumir a pasta de Mobilidade e Trânsito, o vereador licenciado do DEM Ricado Teixeira recebeu do prefeito Ricardo Nunes (MDB) a incumbência de pensar na fluidez do tráfego da metrópole na retomada econômica, em especial nas linhas de transporte coletivo. Das novas faixas reversíveis exclusivas à retirada de obstáculos, como remoção de caçambas e extinção de valetas, a ordem número 1 é não deixar nenhum ônibus parar em congestionamento. Enquanto isso, o sistema semafórico do século passado, a falta de profissionais da CET e as políticas voltadas para os carros individuais também receberão atenção especial, promete o secretário.

A reabertura da economia após longo período promete trazer de volta à metrópole os grandes congestionamentos. Como a prefeitura está se preparando?

São Paulo voltará ao normal, mas as pessoas ainda estão preocupadas em evitar a aglomeração no transporte coletivo. Quem não tem carro está comprando. Por isso o valor do veículo usado subiu tanto. Hoje a pessoa está em home office, mas o chefe estala o dedo e diz que o trabalho será presencial. Ela vai querer ir de carro, mas o bolso só aguentará quinze dias, devido ao custo alto dos combustíveis, e ela irá de ônibus. Por isso precisamos de um sistema mais ágil. O ônibus terá de ser ligeiro.

Como aumentar a fluidez para os ônibus em uma cidade estruturalmente saturada?

Vou dar um exemplo. Um ônibus sai do Parque Dom Pedro II e pega a faixa exclusiva da Radial Leste. Logo no primeiro viaduto, o Alcântara Machado, ele gasta 17 minutos para percorrer 1 quilômetro. Eu mesmo cronometrei. Ali é um grande funil que precisará ser resolvido. Vamos criar uma nova faixa na pista lateral do viaduto e jogar os carros para a Rua da Mooca. Isso é só um exemplo.

Na periferia, você não tem ideia do tempo que um ônibus perde para passar por ruas estreitas, com estacionamento dos dois lados, caçambas, valetas. Precisamos mudar a cultura de que se pode tudo, para que as pessoas entendam que o ônibus é prioridade.

As políticas serão voltadas apenas para a melhoria do transporte coletivo? E para quem continuar no carro, haverá algum plano de mitigação de transtornos?

Claro que sim. Na segunda (23) voltam as faixas reversíveis para carros, por exemplo. Não dá tempo de fazer obras, construir viadutos, por isso vamos estudar coisas simples.

Vou dar outro exemplo quanto à Radial Leste. A Rua Melo Peixoto (cujo corredor vai da Avenida Aricanduva à Salim Farah Maluf) tem faixa reversível no sentido centro de manhã. Por que não pode funcionar de forma reversível também à tarde? Vamos provocar outros tipos de implantação como esse.

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Mas as atuações serão limitadas, não? Sobretudo pelo sistema semafórico obsoleto da cidade.

Nosso parque semafórico está ultrapassado. O modelo foi criado pelo falecido (Roberto Salvador) Scaringella há quarenta anos. O semáforo precisa conversar com o carro, o que hoje não acontece.

O Waze, com o georreferenciamento dos celulares, sabe onde tem congestionamento, mas a CET não sabe. Nosso semáforo é burro.

Faz quase dois anos que a prefeitura abriu uma licitação, mas até agora a revitalização semafórica não andou.

Estive na semana passada no Tribunal de Contas do Município e vamos acertar os últimos detalhes. Em sessenta dias São Paulo vai ter um novo modelo.

Como será esse modelo?

Vou deixar para o prefeito anunciar.

Outra questão que pode atrapalhar a sua gestão é a falta de agentes, de concursos e também de modernidade. Tudo na CET parece antigo, dos carros aos uniformes dos marronzinhos.

Os uniformes foram trocados na gestão Doria e alugamos viaturas novas. Mas realmente temos de fazer novos concursos. Temos 1 200 homens e mulheres nas ruas. Eu comecei minha carreira como marronzinho nos anos 70. Hoje estou com 62 anos. Você acredita que tem amigo meu que começou comigo, tem a minha idade e continua puxando o trânsito no apito? Essa pessoa não tem o mesmo reflexo e pode até morrer atropelada.

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Precisamos modernizar a empresa e trazer gente mais jovem. Na gestão da Luiza Erundina, no fim dos anos 80, tínhamos 2 500 agentes nas ruas.

“A pessoa vai querer retornar ao trabalho presencial usando o carro, mas o bolso só aguentará quinze dias”

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Então, quando os concursos poderão ser feitos?

Eu quero fazer, mas o prefeito ainda não autorizou.

Algumas das empresas de bikes e patinetes compartilhadas culparam, em parte, a prefeitura pela derrocada dos negócios. O senhor é a favor do modelo?

Sou contra largar na rua e nas praças, por exemplo, mas sou a favor do sistema. Não pode obstruir a calçada nem atrapalhar o carrinho de bebê. Por outro lado, a cidade não pode ficar sem esse modal.

Algumas empresas nos procuraram, mas ainda não conversamos. Não pode ser uma grande baderna, mas vamos fazer funcionar.

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O senhor era secretário das Subprefeituras na gestão Haddad (2013-2016) no boom das ciclovias e a sua pasta era a responsável pelas obras. No início da gestão Doria o segmento patinou, mas depois com Bruno Covas voltou a crescer. Como será sua política?

Vamos implantar os 300 quilômetros prometidos no Plano de Metas. Mas o prefeito me falou que não quer nenhuma obra sem conversar antes com a população.

Ele disse: “Xará, ninguém pode acordar de manhã e ver a sua rua pintada”. A população vai saber exatamente por onde a ciclovia passará. Quanto mais debate, menos erros teremos.

O senhor é réu em um processo de improbidade administrativa, movido pelo Ministério Público, porque a ciclovia da Faria Lima foi construída sem licitação, por ata de registro de preço, usada em reformas, não em novas obras.

O corredor da Avenida Nove de Julho também foi feito com ata, na gestão da Marta Suplicy, e ninguém falou nada. Não houve dolo da minha parte e esse processo virou um divisor de águas. Desde então todas as obras foram feitas com licitação. Vamos seguir as regras.

O senhor acredita que será cobrado pelos seus eleitores por ter deixado a Câmara para virar secretário? Vai concorrer à reeleição?

O meu último mandato já seria o derradeiro, mas o partido pediu e eu concorri. A gente envelhece. Chegou a hora de dar espaço à juventude. Nossas ideias vão se esgotando. Já quis ser deputado estadual, mas não fui eleito. Como vereador, depois de cinco mandatos, creio que cheguei ao meu limite.

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Publicado em VEJA São Paulo de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752

 

 

 

 

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