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A operação de emergência montada para conter febre amarela

Doença é provocada pelos mosquitos Haemagogus e Aedes aegypti

Por Adriana Farias Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 nov 2017, 06h00 - Publicado em 3 nov 2017, 06h00

No dia 9, funcionários da Secretaria de Estado do Meio Ambiente encontraram um bugio morto no Horto Florestal. Após duas semanas, outros dois macacos sucumbiram no Parque Anhanguera, que fica na mesma região. O diagnóstico: febre amarela.

Os episódios causaram alarme por dois motivos. Primeiro porque elevaram o número de animais mortos pela doença no estado em 2017 para 283, um assombroso crescimento de 800% em relação ao ano anterior. Depois porque há bolsões residenciais situados a 500 metros dos locais dessas ocorrências. Com isso, há um risco de o problema começar a se alastrar pela cidade. O sinal de alerta levou a prefeitura e o governo estadual a adotar várias medidas, como vacinar toda a população da Zona Norte.

A preocupação das autoridades não é exagerada. Existem duas versões da febre amarela. Uma é a silvestre, transmitida pelo mosquito das espécies Haemagogus e Sabethes. Como eles só vivem em selva fechada, é preciso circular nesse ambiente para correr o risco de ser inoculado. Em 2017, esses mosquitos provocaram 23 casos e dez mortes de humanos no estado, todos bem longe das cidades. O surto anterior havia se dado em 2009, com 28 registros e onze óbitos.

UBS no Horto Florestal: filas de até uma hora (Antonio Milena/Veja SP)

O perigo real surge quando uma pessoa infectada é picada pelo Aedes aegypti, vilão comum em nossas metrópoles e com potencial para espalhar a versão urbana da doença. Embora os sintomas dos dois tipos sejam iguais — febre, dores musculares, náuseas, dor de cabeça (mais informações abaixo) —, a capacidade de disseminação do segundo é maior. Seus surtos, porém, são extremamente raros: o último registro de ocorrência no Brasil data de 1942.

Por enquanto, a área de risco está circunscrita à Zona Norte. E é ali que a prefeitura concentra o foco de sua atuação. Até quarta (1º), cerca de 500 000 pessoas haviam sido vacinadas na região com doses enviadas pelo Ministério da Saúde. A meta é imunizar 2,4 milhões nos próximos dois meses.

Isso está sendo possível com um esquema especial em 37 Unidades Básicas de Saúde (UBS), que ampliaram o atendimento em duas horas durante a semana (das 7 às 19 horas), além de abrirem as portas também aos sábados e domingos. O objetivo é expandir o esquema a todos os 91 serviços do tipo na área.

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Ainda assim, o tempo de espera chegava a uma hora na última semana. “Nos primeiros dias estava ainda pior, a fila contornava o quarteirão e demorava três horas”, reclama a publicitária Priscila Rosa, que foi atendida na UBS do Horto Florestal na segunda (30).

Parque Anhanguera fechado para visitação: a prefeitura garante que o problema está sob controle (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Para evitar a circulação de pessoas em áreas suspeitas de conter o vírus, quinze parques da Zona Norte tiveram suas portas fechadas por tempo indeterminado, entre eles o Horto Florestal e o Anhanguera. Os corpos de outros 23 macacos encontrados mortos nos últimos dias estão sendo analisados para que se saiba se eles também foram vítimas da febre amarela. “A ideia é descobrir exatamente por onde o problema circula”, diz a diretora da Divisão de Fauna Silvestre da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, Juliana Summa.

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A prefeitura intensificou operações de combate ao Aedes aegypti em terrenos localizados às margens das matas. Acabaram sendo nebulizados cerca de 4 000 imóveis em um perímetro ocupado por cerca de 10 000 pessoas. Os órgãos públicos ainda passaram a divulgar campanhas para eliminar criadouros de mosquitos.

A prefeitura afirma que, com essas ações, vai controlar o vírus. “Não há necessidade de estender a vacinação a outras zonas da cidade”, garante o secretário municipal de Saúde, Wilson Pollara. Alguns especialistas, no entanto, não concordam. “Trata- se de uma situação de muito risco”, diz o médico Maurício Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia. “O ideal seria espalhar o serviço para toda a cidade.”

A preocupação está relacionada ao grau de letalidade do vírus. “Uma parcela de até 15% dos infectados desenvolve a versão mais grave da febre amarela, que pode causar a morte”, afirma o infectologista Ralcyon Teixeira, do Instituto Emílio Ribas. Por causa desse temor, moradores de vários bairros de fora da Zona Norte têm lotado os centros médicos particulares em busca da proteção.

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Parque Anhanguera fechado para visitação: a prefeitura garante que o problema está sob controle (Alexandre Battibugli/Veja SP)

A clínica Vacinar, no Brooklin, atendeu 150 pessoas nas últimas duas semanas, o triplo do movimento normal. No Hospital Albert Einstein, no Morumbi, a média diária de atendimentos saltou de cinco para 200 pessoas. O estoque da vacina — que ali custa 200 reais — chegou a esgotar-se no último dia 25, sendo reposto logo depois.

A administradora Walkiria Guimarães esteve no local na terça (31) com as filhas gêmeas Paula e Rebeca, de 2 anos. “Viemos a conselho da pediatra, pois costumamos viajar para um sítio em Mairinque, que ela considerou como área problemática”, explicou.

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Tira-dúvidas

Como se precaver contra a doença

Principais sintomas
Febre, dores musculares, cansaço, náuseas e dor de cabeça

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Quem deve ser vacinado
Moradores da Zona Norte e quem vai para estados e países que exigem a vacina, como Minas Gerais e Colômbia

Onde se imunizar
O atendimento foi reforçado em 37 UBS da Zona Norte, que ficam abertas todos os dias. Ele também está disponível em outros 81 serviços públicos, incluindo Hospital das Clínicas e Emílio Ribas. Nas clínicas particulares, a vacina custa em média 200 reais.

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