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Tenente-coronel Madia assume a Rota

“Não fico contando quantos matei”, afirma o novo comandante do batalhão de elite da polícia paulista

Por Mariana Barros
Atualizado em 1 jun 2017, 18h23 - Publicado em 25 nov 2011, 20h40

Ele é fã de sertanejo universitário e não dispensa uma reunião com amigos para cozinhar pratos típicos brasileiros — galinhada é a sua especialidade. Nascido em Sorocaba, mudou-se na infância para outra cidade do interior paulista (prefere não revelar o nome, por motivos de segurança), onde hoje moram sua mulher e seus dois filhos, um formado em ciências da computação e o outro, ainda estudante, aspirante a policial. Santista doente, tem a voz rouca por causa de um calo na garganta, mas, como não gosta de médicos, prefere continuar como está. Fuma dois maços de cigarro por dia, o que já lhe rendeu o apelido de “Chaminé”. Salvador Modesto Madia, de 48 anos, é, desde a última terça (22), o novo comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, a Rota, espécie de esquadrão de elite da polícia paulista. “Soldado ou oficial que cometer violência terá de se explicar”, afirma ele, que trabalha numa sala sóbria, com móveis antigos de madeira, no quartel-general na Avenida Tiradentes, no bairro da Luz. Madia substitui o tenente-coronel Paulo Adriano Telhada, aposentado na semana passada após dois anos à frente do batalhão.

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Conhecido pela disciplina rígida, pelo histórico de enfrentamentos com mortes e por ser constantemente solicitado pelos batalhões locais em situações de grande risco, o grupo conta atualmente com 720 homens em suas fileiras, que usam no dia a dia equipamentos como submetralhadoras Beretta 9 milímetros, espingardas calibre 12 e fuzis FAL 7,62 milímetros. Assim como é aplaudida pela eficiência e coragem em serviço, a tropa costuma ser criticada por abuso de violência, sobretudo por entidades de defesa dos direitos humanos. As ocorrências ligadas ao seu trabalho vêm crescendo nos últimos tempos. No ano passado, seus PMs mataram 75 pessoas. O número é 15% maior que o de 2009. Até setembro deste ano, outras 62 morreram em ações do batalhão. “São estatísticas que chamam atenção, ainda que no cômputo geral o trabalho de repressão da polícia mereça elogios por contribuir para a queda de homicídios verificada em São Paulo”, afirma o coronel José Vicente, especialista em segurança pública.

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O novo comandante Madia já havia passado pela Rota em outras duas ocasiões antes de assumir a tropa e participou de diversos enfrentamentos ao longo de sua carreira na PM. Quando questionado sobre detalhes desses episódios, ele prefere mudar de assunto. “Não fico contando quantos matei durante o serviço”, limita-se a dizer. Esteve presente em um dos mais graves episódios da história da corporação, o chamado massacre do Carandiru, em 1992, quando policiais receberam ordens de invadir o Pavilhão 9 do presídio para conter uma rebelião generalizada e mataram 111 presos. “Já depus mais de trinta vezes sobre o caso, num processo que dá para encher uma Kombi”, afirma. “Tudo o que quero é ser julgado logo e deixar de ser réu.”

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Nos últimos tempos, cuidava do planejamento das ações dos batalhões de choque na capital, como escolta de presos, segurança de jogos de futebol e intervenções da cavalaria. No início deste mês, liderou a montagem da operação na USP para a retirada dos estudantes que haviam invadido a reitoria. “Levamos 450 homens para cercear 78 alunos. Foi nossa estratégia para intimidar e evitar a violência”, conta.

Madia e seu antecessor Telhada foram contemporâneos na Academia Militar do Barro Branco. Telhada, conhecido por falar abertamente sobre a atuação de seus homens (“Se alguma mãe tiver de chorar, que seja a do meliante, não a minha”), tem sido sondado por políticos para se lançar candidato no ano que vem. O PSDC, de José Maria Eymael, convidou-o para disputar a prefeitura, e o PSDB conversa sobre a possibilidade de uma candidatura a vereador e, eventualmente, a deputado federal. “Fico envaidecido, mas não quero dar um passo maior que a perna”, diz ele. Para a semana que vem, ele prepara o lançamento do livro “120 Anos da Rota”, em comemoração ao aniversário do batalhão. Será a primeira vez que retornará ao quartel da Avenida Tiradentes, agora sob novo comando.

Treinamento: oficiais no quartel da Avenida Tiradentes em aula sobre como abordar criminosos
Treinamento: oficiais no quartel da Avenida Tiradentes em aula sobre como abordar criminosos ()
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Da Zona Sul ao quartel da Tiradentes

Fazia cinco meses o tenente-coronel Salvador Modesto Madia vinha sendo sondado para assumir a Rota. É sua terceira passagem pelo batalhão, no qual ingressou pela primeira vez em 1986, quando ostentava um farto bigode. Foi afastado em 1988 (“Porque implicaram com a minha voz”, desconversa) e retornou para o 12º Batalhão, responsável pelo policiamento de boa parte da área nobre da Zona Sul, como Moema, Vila Olímpia e Brooklin. Passou novamente pela Rota em 1991 e, dois anos depois, estava de volta ao 12º Batalhão. Em 2006, foi deslocado para outra unidade, a 27ª, que abrange Grajaú, Parelheiros e Marsilac, bairros pobres do extremo sul da cidade. Havia dois anos, cuidava do planejamento das operações do policiamento de choque.

 

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A tropa em números

Os principais dados e estatísticas das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar

■ Efetivo: 720 homens

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■ Salário inicial: 2.170 reais

■ Treinamento: 45 dias intensivos e quatro meses de experiência

■ Número de viaturas: 131

■ Armamento: submetralhadoras Beretta 9 milímetros, espingardas calibre 12 e fuzis FAL 7,62 milímetros

■ Criminosos e suspeitos mortos em 2010: 75

 

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