“O faturamento do setor de frutas caiu de 30% a 40%”, diz diretor do Mercadão
Alexandre Germano comenta as denúncias de golpes dos comerciantes, a polêmica do sanduíche de mortadela e os primeiros 180 dias de gestão privada
Às vésperas de completar seis meses de gestão privada, o Mercadão de São Paulo tem sofrido uma enxurrada de denúncias sobre comerciantes que coagem clientes a comprar frutas a preços extorsivos. Diretor-presidente da concessionária que administra o local (a Mercado SP SPE), o paulistano Alexandre Germano, 46, afirma que o “golpe da fruta” acabou. “Os próprios lojistas perceberam que a prática depõe contra eles. O movimento caiu vertiginosamente — não no Mercadão como um todo, mas especificamente no setor de frutas”, ele diz.
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Após as denúncias do “golpe da fruta”, a concessionária e o Procon agiram. Qual o balanço das ações?
A gente já conhecia o problema, era algo antigo no Mercadão. No começo (a concessão teve início em setembro) tentamos orientar os lojistas. Houve inclusive uma interdição antes das denúncias. Até que, no dia 12, a página no Instagram (@golpe_do_ mercadão_sp) ganhou milhares de seguidores e atraiu a cobertura da imprensa. Fizemos, então, novas autuações e três interdições. Uma das lojas já foi reaberta, duas seguem fechadas. O Procon também esteve ali e notificou uma dúzia de lojistas.
Se a prática era conhecida, por que a concessionária só tomou medidas enérgicas após o caso viralizar?
Inicialmente, nossa gestão não se pautou em punir, mas em orientar. Fizemos reuniões, mostramos o Código de Defesa do Consumidor… Eles pararam certas práticas. Anteriormente, por exemplo, faziam abordagens com facas na mão (para oferecer as frutas). Trocaram por facas descartáveis. (Orientar) funcionou por algum tempo, até a “página 2”, aí os problemas voltaram.
Pode afirmar que o golpe acabou?
Posso dizer que sim. Os próprios lojistas perceberam que esse tipo de ação depõe contra eles. O movimento caiu vertiginosamente nos últimos dias — não no Mercadão como um todo, mas especificamente no setor de frutas. Eles se conscientizaram.
Qual foi a queda no movimento?
É difícil medir, porque a ômicron já causava uma queda de público. Sabemos da redução do faturamento desses lojistas, que relatam uma perda de 30% a 40% nas vendas. Excluído o efeito da ômicron, o Mercadão não teve redução de público (com as denúncias). O que houve foi uma queda grande no faturamento das lojas de frutas.
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Uma das barracas onde houve problemas era sublocada?
Não era exatamente uma sublocação, o lojista (que tem a licença para estar ali) vendia no atacado à noite e durante o dia tinha uma pessoa que tocava o negócio por ele. Ele já cancelou essa parceria, disse que fazia de boa-fé, não sabia que se caracterizaria como sublocação. É um comerciante antigo, a gente busca não penalizar. Mas estamos atentos a isso. Segundo os lojistas, uma minoria sublocava e precisava fazer mais vendas (para pagar o aluguel), então adotava as práticas (lesivas).
O site e o telefone do Mercadão nas páginas de busca estão desatualizados, assim como os perfis de redes sociais. Não são coisas que a concessionária já poderia ter resolvido?
Você tem toda a razão. O Mercadão tinha uma gestão pública e dos próprios lojistas. O resultado é que, no Facebook, tem oito páginas do Mercadão. No Instagram, cinco. Temos uma dificuldade enorme para registrar um domínio de site: já tinha mercadao.com.br, mercadaosp.com.br… A gente vem tentando derrubar (esses domínios), é nosso foco total, mas é difícil. (Atualmente, o canal é o sac@mercadospspe.com.br.)
No dia 17, o Procon levantou dúvidas sobre a marca de mortadela usada nos sanduíches. Afinal: é ou não é Ceratti?
Isso, para nós, caiu como uma surpresa total. Não tínhamos nenhuma denúncia, víamos a marca fazer uma série de ações no local. Quem tem de saber isso, não fugindo à resposta, é a própria marca. Ela que pode passar quanto é comprado e vendido ali.
A concessionária não pode checar essa informação nas lojas?
Temos uma nutricionista permanente no Mercadão, que vai ficar atenta a isso. Não era o foco dela, mas agora ela dará atenção a esse ponto também. É difícil controlar. O Mercadão não é como um shopping, a gente não sabe o faturamento dos locatários.
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A concessionária se comprometeu a investir 84 milhões de reais no Mercadão nos primeiros dois anos de gestão. Quanto desembolsou nos primeiros seis meses?
Na verdade, com a inflação, os 84 milhões vão virar mais de 100, mesmo nos orçamentos mais otimistas. O Mercadão precisava de muita manutenção em rede de esgoto, elétrica, gás… Nunca teve alvará dos bombeiros. Não encontramos nenhum extintor de incêndio funcionando (foram colocados 195 ali e no Kinjo Yamato, também gerido pela empresa). Não tinha para-raios. Até agora, desembolsamos 15% do valor (12,6 milhões). Estamos providenciando o alvará dos bombeiros. Tivemos dez obras emergenciais autorizadas em dezembro pelos órgãos de proteção do patrimônio. O projeto da revisão da fachada está para ser aprovado.
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O estacionamento, a 25 reais a primeira hora, não está caro? O Shopping Higienópolis cobra 20 por duas horas…
Na nossa região, o estacionamento é caríssimo. É mais caro que na Oscar Freire. Nossa primeira hora é igual à dos vizinhos. Fizemos uma pesquisa em dezembro e o pessoal que vai ao Mercadão tem um tíquete médio (gasto) altíssimo. São pessoas que gostam de coisas mais frescas, mais premium. Não se queixam do preço do estacionamento. Quando era Zona Azul, muita gente parava ali para ir a outros lugares do centro.
Que outras surpresas o consórcio encontrou ao assumir o local?
Tinha um grande problema de vandalismo. Você colocava uma saboneteira no banheiro, não durava um dia. Em três meses, usamos mais de 250. Os cotistas (do fundo dono do Mercadão) podem ficar bravos comigo, mas é preciso seguir substituindo (os acessórios). Também pegamos uma gangue que roubava papel higiênico dos banheiros.
Quem são os donos do fundo? Ele terá lucro no primeiro ano?
Várias pessoas são cotistas. Não posso dizer (quais) por sigilo financeiro. Vamos buscar rentabilidade, mas não temos a menor perspectiva de lucro nos primeiros dois anos.
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Publicado em VEJA São Paulo de 2 de março de 2022, edição nº 2778