Uber faz exclusão em série de motoristas após onda de cancelamentos
Ex-colaboradores reclamam de bloqueios e dizem que dependem da plataforma para se sustentar; empresa diz que prática configura abuso do recurso
Motoristas da Uber relatam que no início desta semana a plataforma realizou uma série de bloqueios de contas de forma definitiva. O caso ocorre durante a onda de cancelamentos de viagens que se acentuou durante a pandemia: o usuário paulistano encontra dificuldades para conseguir uma corrida pelos aplicativos de transporte.
A Associação dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo (Amasp) diz que, desde terça-feira (21), recebeu mais de 1 000 contatos alegando a suspensão permanente da conta, ou seja, o fim da possibilidade de trabalhar com a plataforma da Uber. Em nota, a empresa afirmou que “cancelamentos excessivos configuram mau uso da plataforma” e não deu detalhes sobre o número de parceiros que tiveram o registro banido (veja posicionamento completo ao final).
Em julho, a Vejinha realizou uma reportagem sobre os motivos elencados pelos motoristas para cancelarem tantas viagens: a alta do preço dos combustíveis e a tarifa paga pelos aplicativos são, segundo eles, pouco compatíveis, levando a uma preferência por corridas longas ou mais próximas da localização do motorista. Leia a matéria aqui.
Com o fenômeno, a Uber chegou a anunciar neste mês que aumentaria em até 35% o valor repassado por corrida aos motoristas. A partir da última terça-feira (21), no entanto, grupos nas redes sociais começaram a pipocar com prints de bloqueios de contas após um suposto “número excessivo de cancelamentos”.
“Estava trabalhando na terça-feira (21), às 18h, e terminei uma viagem próximo da Avenida Paulista e, do nada, deu o bloqueio da minha conta. Uma notificação apareceu, que em menos de 30 dias eu cancelei muitas viagens, e me bloqueou. A gente não consegue nem agendar um atendimento presencial. Minha situação financeira vai ficar muito difícil”, diz Carlos Alberto da Rocha, 37. “Minha taxa de cancelamento era de 12%. Isso mexe com o nosso financeiro, psicológico, eu sou autônomo e dependo disso para o meu sustento, é um bloqueio definitivo”.
“O motorista faz sim muitos cancelamentos, com a gasolina e as tarifas [da Uber], que forçam a escolher as corridas”, diz o presidente da Amaspa, Eduardo Lima. “Mas o que a Uber fez foi em forma de retaliação, querendo dar um toque para o motorista que ele estava sendo observado. Se não querem que o motorista cancele, que façam um reajuste justo”, afirma Lima.
Douglas Bastos, 36, relata que passou pela mesma situação quando terminava uma viagem em Cidade Tiradentes e teve a conta desativada. “Minha taxa de aceitação é de 82%, eu não entendi. Me bloquearam sem avisar, achei extremamente injusto, tenho casa para sustentar”, diz.
Também às 18h, Francisco Solon Neto, 33, iria começar a trabalhar na plataforma em Guarulhos e recebeu a notificação. “Eles poderiam ter mandando uma mensagem antes, alertado, dizendo que devia cancelar menos. Eu, como motorista e que dependo disso, ia ficar com medo. Mas não tivemos direito de resposta, simplesmente nos baniram”, conta.
De acordo com a Uber, a “prática de cancelar diversas viagens em sequências logo após terem sido aceitas prejudicam negativamente todos que usam a plataforma”.
A empresa diz também que “tem equipes e tecnologias próprias que revisam constantemente as viagens e os cancelamentos para identificar suspeitas de violação ao Código da Comunidade e, caso sejam comprovadas, banir as contas envolvidas”.
“O abuso no cancelamento de viagens não tem nada a ver com a liberdade do motorista parceiro. A conexão entre parceiro e usuário só ocorre depois do motorista ter conferido as informações da solicitação (tempo, distância, destino) e decidido aceitar a realização da viagem”, finaliza a empresa.
Leia abaixo o posicionamento da Uber na íntegra:
Motoristas parceiros são profissionais independentes e, assim como os usuários, podem cancelar viagens quando julgarem necessário. Cancelamentos excessivos ou para fins de fraude, porém, representam abuso do recurso e configuram mau uso da plataforma, pois atrapalham o seu funcionamento e prejudicam intencionalmente a experiência dos demais usuários e motoristas. A Uber tem equipes e tecnologias próprias que revisam constantemente as viagens e os cancelamentos para identificar suspeitas de violação ao Código da Comunidade e, caso sejam comprovadas, banir as contas envolvidas.
Comportamentos como a prática de cancelar diversas viagens em sequência e logo após terem sido aceitas prejudicam negativamente todos que usam a plataforma porque, de um lado, impedem que outros motoristas parceiros gerem renda atendendo as mesmas solicitações de viagens canceladas, e, por outro, deixam os usuários esperando mais tempo ou até desistindo da solicitação.
O abuso no cancelamento de viagens não tem nada a ver com a liberdade do motorista parceiro de recusar solicitações. Na Uber, o motorista é totalmente livre para decidir quais solicitações de viagem aceitar e quais recusar. A conexão entre parceiro e usuário – quando nome, modelo e placa do carro são compartilhados e o usuário recebe a confirmação de que o motorista está a caminho – só ocorre depois do motorista ter conferido as informações da solicitação (tempo, distância, destino etc.) e decidido aceitar a realização da viagem.