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Infestação em vinhedos serviu de embrião para loteamento no Morumbi

Oscar Americano e a Companhia Imobiliária Morumby aproveitaram o crescimento da cidade para oferecer a oportunidade de morar num lugar distante do centro

Por Valmir Zambrano
Atualizado em 1 jun 2017, 18h40 - Publicado em 5 nov 2010, 23h58
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  • Uma imensa área de mata fechada com 500 alqueires (cerca de 12 quilômetros quadrados) que se estendia da margem do Rio Pinheiros até Santo Amaro. Batizada de Fazenda Morumby, a região pertencia aos jesuítas durante o período colonial, até que Portugal decidiu expulsar os religiosos da Companhia de Jesus de todos os seus territórios, em 1759. Devolvidas à coroa portuguesa, essas terras a pouco mais de 15 quilômetros do centro de São Paulo permaneceram como um lugar no meio do nada até 1820, quando o governo de dom João VI decidiu doá-las ao inglês John Rudge.

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    O imigrante iniciou então prósperas plantações de chá e vinhedos para produzir por aqui as bebidas que até aquela época tinham de ser importadas. “A partir de 1840, a Fazenda Morumby foi mudando de mãos, até que, no começo do século XX, uma praga levou seu então proprietário, Antonio Diederichsen, a se desfazer das terras. Os donos que lhe sucederam começaram a retalhar o espaço em chácaras, que seriam a semente dos loteamentos que compõem o Morumbi”, explica Silvia Cristina Lambert Siriani, professora do departamento de história da FMU e mestre em história social pela USP.

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    Esse processo, porém, só se intensificou a partir dos anos 40, quando já havia certa saturação nas regiões residenciais de Cerqueira César e Higienópolis. Figura emblemática do Morumbi, o engenheiro Oscar Americano, dono da Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO), e a Companhia Imobiliária Morumby aproveitaram o crescimento da cidade para oferecer aos paulistanos a oportunidade de morar num lugar que era realmente distante do centro, mas que oferecia lotes residenciais de tamanho generoso e com muito verde.

    “Eles lotearam o que sobrou da gigantesca área original, principalmente próximo à casa que era a sede da fazenda, nos moldes de bairros como o Jardim América. A ideia pegou e atraiu muita gente com dinheiro, criando uma espécie de marca registrada do Morumbi”, afirma o historiador e jornalista Levino Ponciano, autor do livro ‘Bairros Paulistanos de A a Z’.

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    A partir dos anos 50, o que era terra começou a virar asfalto. A Companhia City, referência no loteamento dos chamados bairros-jardim, implantou o Jardim Guedala perto dos novos marcos do Morumbi. Hoje chique e repleto de mansões, o Guedala nasceu como uma opção para os paulistanos de classe média.

    Morumbi - Einstein_2190a
    Morumbi – Einstein_2190a ()

    “Morávamos em Higienópolis em uma casa alugada e meu marido comprou um terreno no Guedala em 1970 porque o preço o atraiu. Aqui pudemos construir uma ótima casa e criar os três filhos”, lembra Ana Luiza Bellio, empresária que tem uma confecção no bairro. O duro, segundo ela, era convencer as pessoas a visitá-los. “Para fazermos uma festa de aniversário das crianças, tínhamos de ir buscar os amigos delas do outro lado do Rio Pinheiros, porque ninguém queria vir. Diziam que o Morumbi ficava no fim do mundo.”

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    Outra lembrança que ela guarda dessa época são os bichos no matagal do bairro. “Cobras apareciam em nosso quintal. E, quando começava a construção de algum imóvel nas redondezas, as aranhas e os escorpiões que ficavam escondidos no mato vinham parar dentro da minha casa.” O comerciante Claudio Pontremoli mudou-se para o Morumbi há quarenta anos e lembra das tentativas de seu pai de oferecer um terreno no bairro como parte do pagamento de um apartamento em Pinheiros. “A resposta era sempre a mesma: ‘Você está louco’”, diverte-se. Quando a família foi para o Morumbi, em sua infância, Pontremoli se encantou com uma passagem de madeira sobre o Rio Pinheiros, no mesmo local onde hoje está a Ponte Engenheiro Roberto Zuccolo, mais conhecida como Cidade Jardim.

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    Salão de memórias

    Morumbi - Permínio Ribeiro Viana_2190a
    Morumbi – Permínio Ribeiro Viana_2190a ()
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