Manifestantes deixam empregos para acampar na Paulista
Na manhã desta segunda-feira (21), havia 36 barracas em frente à Fiesp como forma de protesto contra o PT. Conheça alguns dos ativistas
Na manhã desta segunda-feira (21), era possível ouvir buzinadas desde o interior da estação de metrô Trianon-Masp. Durante mais de uma hora e meia, ininterruptamente, um jovem gerava o som com o instrumento em mãos. Em troca, recebia buzinadas de motoristas, apoiadores do protesto. Ele estava em frente ao prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), novo point de manifestações anti-governo da cidade.
Desde quarta-feira (16), manifestantes acampam na calçada da Avenida Paulista, próxima ao edifício, no movimento chamado de Resistência Paulista. Hoje, havia 36 barracas. A contragosto, deixaram brevemente o posto na manhã da última sexta-feira (18), por meio de intervenção da tropa de choque. Isso porque, no mesmo dia, ocorreu um protesto agendado pró-governo.
Entre os acampados, aparece Tiago Martins Tavares, de 28 anos. Ele diz ter pedido demissão da área de marketing de uma empresa de automóveis na última sexta para acompanhar o grupo. Nesta manhã, vestia uma camisa com a foto de Sérgio Moro, juiz à frente da Operação Lava Jato. “O povo precisa vir pra rua, mostrar um pouco de patriotismo. Se a gente tivesse pelo menos 50% do patriotismo que os americanos têm, isso aqui estaria lotado”, acredita.
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Morador de Taboão da Serra, na região metropolitana, Tavares passa boa parte do dia no local. Toma banho na casa da noiva, na Aclimação. Usa o banheiro do Shopping Cidade São Paulo ou do próprio prédio da Fiesp. “A gente deve lutar pelo país. Podemos perder tudo, família, carro, trabalho, mas o país a gente não pode perder.”
Dentro de sua barraca, havia travesseiro, cobertor, roupa de frio e itens de higiene pessoal. “Recebemos doação de água e alimentos, tem um senhor da padaria que traz pão”, conta. “Também organizamos vaquinhas.” De acordo com o rapaz, os manifestantes apareceram por ali de forma espontânea.
Outro ativista, Lauro Shida deu um tempo nos trabalhos como freelancer como consultor financeiro para acompanhar os protestos. “A necessidade de ajudar o país nesse momento falou mais alto”, disse ele, que afirma ter mobilizado mais de quarenta manifestações desde 2013. “Sempre fui anti-PT”. Atualmente, integra o grupo Dossiê PT. Na página do coletivo no Facebook, com mais de 141 000 seguidores, há um vídeo do comediante Danilo Gentili, que visitou o acampamento no sábado (19) para bater um papo. “Pessoal, vem acampar em frente à Fiesp”, chamou Gentili na gravação.
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Até quando ficarão ali? “Enquanto não vir a Dilma fora, não vou sair daqui”, afirmou a atleta Ana Luiza dos Anjos Garcez. Outros querem também a cabeça de Lula, outros, do PT inteiro. “Aqui temos intervencionistas, ‘impeachmistas’, gente que espera uma invasão alienígena, qualquer coisa, mas todos estão pelo final do PT”, explicou Shida.
Todos se dizem apartidários. Não querem presença de políticos, nem de movimentos como Vem pra Rua e Brasil Livre. “Se vierem com bandeiras, vai acontecer igual o que houve com o Marcello Reis, serão enxotados”, garante Shida, referindo-se à expulsão do líder de um dos grupos pró-impeachment que estava na Avenida Paulista na noite de quinta (17) e pedia a retirada dos manifestantes do local.
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Adenilson Robert Miguel, de 31 anos, também suspendeu o trabalho como jornalista para aderir à causa. “Devo ficar só mais essa semana, preciso voltar ao serviço”, afirmou. Ele pretende fazer um documentário sobre os protestos.
A professora do Estado Lizzy Abdala, de 39 anos, de São José do Rio Preto, chegou ao local no domingo (20). “Larguei tudo para ir a Brasília para acampar no Congresso”, disse. “Cheguei em outubro e fui embora no final de dezembro”. Ela recebe apoio de família e amigos. “Não tem muitos gastos aqui, é tudo doado pelo povo que apoia a gente”, contou, ao lado de Jefferson Alves, de 48 anos, que deixou a fazenda da família em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, aos cuidados do filho de 24 anos. Ele pretende ir ainda à Brasília para acampar em frente ao Supremo Tribunal Federal.
O empacotador André Luiz Branco Ramos, de 19 anos, divide seu tempo trabalhando e se manifestando. Vestia hoje cedo uma roupa inflável no formato da presidente Dilma. Andava entre os pedestres com naturalidade. Por um instante, despiu-se para beber água. Fazia 29 graus. “Estou vestindo a fantasia a semana inteira, mas a gente reveza, tem muita gente curiosa que quer saber qual é a sensação.”