Maior que Cristo Redentor, estátua de Apóstolo Paulo tem futuro incerto
O projeto do empresário alemão Michael Polmer, que seria instalado às margens da Represa de Guarapiranga, teve sua confecção interrompida pela Justiça
A ideia era transformar São Paulo, não a cidade ou o estado, mas seu patrono, numa espécie de irmão mais novo (e 2 metros maior) da figura do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, uma das Sete Maravilhas do Mundo. Paisagem para isso não lhe faltava. Às margens da bucólica e maltratada Represa de Guarapiranga, na Avenida Atlântica, em Interlagos, a estátua do Apóstolo Paulo seria imponente.
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Com 200 toneladas de aço inoxidável, 300 metros cúbicos de concreto e 40 metros de altura (fora outros 12 metros de sua base), a imagem, projetada pelo artista Gilmar Pinna, conhecido por criar obras parecidas em Ilhabela, no Litoral Norte, entre outros locais, seria vista e visitada por milhares de pessoas anualmente, previa o empresário alemão Michael Polmer, seu idealizador. Pouco mais de um ano depois do início de sua confecção, duas derrotas recentes na Justiça colocaram por terra, pelo menos por ora, o audacioso e cintilante projeto.
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Provocado pelo Ministério Público, o juiz Paulo Rogério Santos Pinheiro, da 12ª Vara Cível de Santo Amaro, determinou em junho passado, em caráter liminar, que Polmer se abstivesse de continuar com a empreitada. A alegação foi de que o local da instalação da estátua se situa em área de preservação ambiental e está no perímetro envoltório de um bem tombado, o conjunto arquitetônico do antigo Santapaula Iateclube, atualmente em ruínas e abandonado há décadas. Além disso, três multas impostas pela prefeitura, que totalizaram 37 000 reais, comprovaram que a obra não tinha os alvarás determinados pela legislação municipal.
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No despacho, o magistrado, que aceitou a tese de que uma estátua metálica da altura de um prédio de dezessete andares criaria o chamado “efeito espelho” nos bairros vizinhos (também há a preocupação de provocar reflexos nos aviões que manobram na área da represa para pousar no Aeroporto de Congonhas), viu grande risco caso a ideia fosse adiante. “Os danos ambientais e urbanísticos serão contínuos com difícil reparação pelo decurso do tempo, caso se aguardem a sentença e respectivo trânsito em julgado para desfazimento da obra.”
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Seis meses depois da sentença, Polmer não foi localizado pelos oficiais de Justiça e mantém o projeto, embora já admita jogar a toalha. “Comecei minha vida no Brasil em 1988, em um escritório na Praça da Sé, número 21. Se não consigo conquistar esta cidade, este Brasil maravilhoso, e convencê-los a aceitar meu presente de agradecimento, vou embrulhar meu São Paulo e dar de presente a quem me receber de braços abertos”, desabafa.
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Outra opção é manter tudo como está. “Posso deixar a estátua guardada, deitada.” O problema, nesse caso, é que a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae) entrou com um processo de reintegração de posse de parte do terreno, que no passado abrigou a icônica danceteria Reggae Night. A alegação foi de que Michael Polmer invadiu parte do espaço de 8 000 metros quadrados, justamente onde hoje “adormece” a estátua, dividida em três módulos.
No último dia 26, a Justiça deu ganho de causa à Emae e determinou que o local seja imediatamente e parcialmente desocupado. Sobre essa ação, Polmer afirma que apenas fechou uma área para impedir a entrada de carros na beira da represa. “Sou ambientalista e acho um absurdo deixar que veículos automotores ocupem e sujem área de proteção ambiental em um reservatório de água que abastece toda a Zona Sul.” Diante de tanto impasse legal e urbanístico, fica a pergunta: para onde irá o Apóstolo Paulo?
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