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Após Copa, Itaquera tem áreas abandonadas e obras inacabadas

O maior evento de futebol do mundo pôs em evidência a região mais populosa da cidade, mas não trouxe todo o desenvolvimento esperado após quatro anos

Por Adriana Farias Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 fev 2020, 16h02 - Publicado em 25 Maio 2018, 06h09

Quatro anos depois da Copa do Mundo e da inauguração da Arena Corinthians, e já investidos 2 bilhões de reais de recursos públicos no bairro de Itaquera, na Zona Leste, as melhorias no local vão pouco além do estádio. O maior evento de futebol do mundo pôs em evidência a região mais populosa da cidade, mas não trouxe o desenvolvimento esperado.

Há áreas abandonadas, projetos que não se materializaram e diversas obras não concluídas — talvez fiquem prontas para a Copa de 2022, no Catar. O fracasso do poder público em planejar o legado de tanto dinheiro colocado ali ainda emperra investimentos privados. O maior deles na área, vizinho à arena, arrasta-se nos escaninhos da burocracia municipal.

Em um espaço de 270 000 metros quadrados, que na década de 50 foi uma pedreira, um complexo de prédios e empresas já deveria estar em funcionamento, com geração de 55 000 empregos. Mas o que se abriu até agora, mais precisamente em março, foi o call center Atento, com 3 500 vagas com benefícios fiscais do governo municipal. Os investimentos estão em compasso de espera. Em 2014, a prefeitura pediu a desapropriação, às pressas, de 14 000 metros quadrados daquele terreno para o término da construção do estádio, mas só regularizou a escritura em 2016.

Carlos Chaddoud e Marcello Hachem: a burocracia trava o negócio (Ricardo D'angelo/Veja SP)

“Prejudicou um projeto de mais de 500 milhões de reais em investimentos”, afirma Marcello Hachem, diretor da Itaquera Desenvolvimento Imobiliário. Há cinco meses ele aguarda a regularização do restante do espaço para implantar uma faculdade e um atacado de material de construção na área, além da aprovação para erguer 1 200 unidades habitacionais em oito prédios para famílias de baixa renda. “Nosso sonho é que, em cinco anos, Itaquera deixe de ser um bairro dormitório, onde as pessoas, para trabalhar, precisam se deslocar até o centro. Mas, para isso, o poder público tem de ser mais ágil.”

A prefeitura joga a culpa nas mudanças da lei de zoneamento. “O pedido dele foi prejudicado pela nova lei de 2016, que alterou as regras para o desmembramento de terrenos”, diz Paulo Eduardo Brandileoni, secretário executivo de licenciamento. O processo segue na veloz análise de sempre, com correções no projeto.

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Na ocasião da Copa do Mundo, o governo estadual investiu mais de 600 milhões de reais em obras viárias para melhorar o trânsito de veículos e pedestres na região. Mas a passarela de 185 metros de extensão, erguida ao custo de 14,6 milhões de reais a fim de evitar um trajeto de 2,5 quilômetros, está caindo aos pedaços. “Recebo direto reclamação de assalto ali. As pessoas nem a usam mais, com medo”, relata Paulo Ferraz, fundador da rádio comunitária de Itaquera. “Não existe um projeto urbano para a circulação dos pedestres. O novo sistema viário foi feito para acesso ao estádio e retalhou o canteiro central”, avalia o arquiteto e urbanista Anderson Kazuo Nakano, da Unifesp.

Obras atrasadas de novo terminal de ônibus (Marclo Justo/Veja SP)

O que dizer, então, da promessa de canalização do Córrego do Rio Verde, o principal causador de enchentes no centro de Itaquera? “A situação piorou depois da construção da arena, porque desceu muita areia para o rio”, diz o gerente da casa de carnes Tennessee, Clovis Rodrigues, que perdeu o carro em um dos vários transbordamentos no local. “A gente ainda trabalha com o cheiro ruim desse córrego”, relata.

O empresário Marcos Roberto Rodrigues, da loja de roupas Yasmin, já amargou um prejuízo de mais de 20 000 reais com a perda de produtos em uma enchente em 2015. Há sete meses construiu uma mureta para evitar a entrada de água. “A Copa passou e tive uma queda de 30% nas vendas”, lamenta.

A 600 metros dali os moradores também sonham com o dia em que o terreno de 16 000 metros quadrados vai virar de fato o prometido mercado municipal. Em 2011, foi instaurado um processo para viabilizar o empreendimento, mas até hoje a prefeitura ainda avalia as possibilidades de desapropriações no local. Da mesma forma, não saiu do papel a promessa de um fórum e um centro de convenções e apenas 120 famílias foram realocadas da favela Vila da Paz, onde outras 257 ainda vivem de forma precária.

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Passarela de 14,6 milhões de reais caindo aos pedaços (Marcelo Justo/Veja SP)

Também segue aos trancos e barrancos a construção do novo terminal de ônibus de 40 000 metros quadrados. As obras começaram em 2013, com expectativa de término em 2016, mas sofreram paralisações e devem ser finalizadas em 2021, por 139 milhões de reais. A nova área será complementar ao terminal existente, reformado e ampliado em 8 000 metros quadrados em 2014.

Mas os mais de setenta comerciantes do pedaço antigo reclamam de camelôs, falta de policiamento e sujeira. “Fizemos um abaixoassinado reivindicando melhorias porque a prefeitura zela mais pelo entorno do estádio do que pela gente”, diz Letícia Galvão, uma das lojistas.

Falta de canalização de córrego: precariedade (Marcelo Justo/Veja SP)

A prefeitura informou, em nota, que boa parte das obras foi paralisada em 2016 devido à falta de recursos e retomada em 2017, e que busca fontes de financiamento para dar continuidade aos trabalhos, sobretudo a canalização do Córrego Rio Verde. “Será necessário um grande número de desapropriações, fazer o reassentamento de famílias e mobilizar recursos que não estão disponíveis”, afirma a administração.

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