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A vida de paulistanos que ostentam artigos de luxo no Instagram

Bolsas, sapatos, roupas e outros produtos de grife são a arma desse pessoal para acumular seguidores

Por Mariana Rosario Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 fev 2020, 15h59 - Publicado em 24 ago 2018, 05h00

Uma bolsa da Fendi de 14 000 reais vale 4 400 curtidas. Já um par de óculos de sol da Chanel de 4 800 reais rende 1 000 likes. No concurso de popularidade que parece pautar muito da vida nas redes sociais, há um grupo no Instagram que se dedica a gastar e exibir artigos de luxo com o objetivo único de amealhar seguidores. Os perfis são preenchidos com fotos de lojas, sacolas e caixas de produtos caros ou raros de grifes que vão da streetwear Off-White à lendária fabricante de relógios Rolex.

Nesse nicho, ninguém se aproxima dos números de algumas das principais influenciadoras digitais da área de moda, como Camila Coelho (7,3 milhões de seguidores) ou Lala Rudge (1,6 milhão), que faturam alto com a popularidade. Ao contrário, essa turma do “Instagram ostentação” dedica-se ao fausto principalmente pelo prazer pessoal, chegando a no máximo 350 000 seguidores. No perfil, procura mostrar referências de uma boa vida, sem encrencas nem brigas, comuns em outras redes sociais.

“O Facebook se tornou um muro das lamentações, enquanto no Instagram as pessoas ainda querem ver gente bonita”, analisa o professor Gil Giardelli, especialista em inovação do Insper. Vídeos em que até adolescentes escancaram o alto preço de seus looks escandalizam muitos que pregam por um mundo menos consumista, sustentável ou basiquinho. Já nesta excêntrica turma, menos nunca é mais.

Dos ternos à streetwear

O empresário Felipe Nunes (Marcelo Justo/Veja SP)

O empresário Felipe Nunes (@iamthefelipe) diz brindar o sucesso por meio da ostentação. Nessa onda, jura sair só com roupas de grife. “A maior parte das minhas peças custa quatro dígitos ou mais”, conta. A gastança inclui até as camisetas básicas, na faixa dos 800 reais, da Burberry. Na rede social, ele exibe viagens de helicóptero, festas e visitas a centros de compras. Junto aos cliques vão também algumas legendas controversas. “Este shopping é o meu templo, em cujo altar imolo alegremente todo mês o equivalente ao que muita gente recebe como salário”, escreveu em março.

Em outra, de julho de 2017, é ainda mais explícito. “Gosto dos meus tênis assim, bem branquinhos, mais limpos que os dentes de muita gente.” Em seu closet, onde há itens que passam dos 15 000 reais, caso de um terno Dolce & Gabbana, aconteceu uma revolução no último ano: perderam espaço as camisas sociais para dar lugar à streetwear, a moda do momento.

“Não quero me vestir do mesmo jeito que um motorista de Uber”, afirma Nunes. No novo estilo, entram peças de marcas como Gucci que valem 10 000 reais (como o conjunto da foto) e tênis da Louboutin, de 4 000 reais. “Eu e meus amigos calculamos quanto estamos vestindo.” Ele também conta com etiquetas mais clássicas, caso de relógios Rolex, entre eles um de ouro rosê que vale 46 000 reais. No momento, prepara-se para uma série de procedimentos estéticos que incluem plástica no nariz e lentes de contato nos dentes.

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Total de seguidores: 11 200
Número de likes da foto mais curtida: 3 650
Quantidade de itens da mesma coleção: 100
Valor do produto mais caro comprado: 46 000

Sonho de ser Kardashian

A aspirante a celebridade da web Aline Silva (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Os cabelos lisos e negros até a cintura denunciam: a aspirante a celebridade da web Aline Silva (@estrelaoficial_) inspira-se amplamente no clã das irmãs de Kim Kardashian, principalmente na mais jovem delas, Kylie Jenner. “Muita gente diz que somos parecidas, então passei a acreditar nisso”, conta. Para conquistar o visual dos sonhos, Estrela, como é conhecida desde os tempos de Orkut, pôs silicone nos seios, Botox, lentes de contato nos dentes e fez preenchimento em várias partes do corpo. “Alguns colegas de escola aparecem dizendo não acreditar que seja eu”, afirma.

Na rede social com 347 000 seguidores, além de selfies e registros de viagens aos Estados Unidos e Turquia, a jovem exibe bolsas e batons de grife (sua coleção de acessórios chega a 250 000 reais). Parte deles é comprada exclusivamente para exibição. “Tenho coisas que são só para ficar no meu closet e postar”, comenta, orgulhosa.

Em seu armário, por exemplo, há itens nunca usados, caso de uma bolsa Yves Saint Laurent que custou 10 000 reais e foi escolhida especialmente para a publicação feita em seu aniversário, no ano passado. Às vezes, quando está entediada, monta looks do dia e passa maquiagens para exibir na rede. “Faço qualquer coisa para virar influenciadora digital, menos tirar a roupa”, diverte-se.

Total de seguidores: 347 000
Número de likes da foto mais curtida: 10 260
Quantidade de itens da mesma coleção: 42
Valor do produto mais caro comprado: 27 000

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Luxo a tiracolo

O administrador de empresas Fabio Garcia (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Há doze anos, o administrador de empresas Fabio Garcia (@bolsasdevalor) vivia um dilema. Com a agenda cheia de reuniões, precisava andar sempre com seu laptop, carteira e chaves, mas detestava usar mochilas. “Elas amassavam todo o terno, e eu as achava informais demais”, diz. Para solucionar o caso, comprou uma pasta preta da Louis Vuitton. A partir daí, não parou mais — sua coleção do acessório passa das 160 unidades (o arsenal exibido na foto custa mais de 120 000 reais), todas de grifes famosas que vão de Montblanc a Balenciaga, incluindo Dior, Valentino, Gucci, Dolce & Gabbana, Burberry, Fendi e Givenchy.

Entre os modelos, há opções de couro, transparentes e até de papel. Ele garante selecionar uma peça diferente sempre que coloca o pé fora de casa, mesmo para ir à padaria. “Diariamente, antes de dormir, escolho a bolsa do dia seguinte, de acordo com a minha agenda”, explica. Quando ele viaja, vão também meia dúzia de modelos, todos com nota fiscal, para não ter encrenca na alfândega.

Na seleção de itens, há aqueles exclusivos e outros que passam dos 50 000 reais. Com o tempo, Garcia tornou-se expert no assunto e chegou a comandar um blog especializado, que acabou por falta de tempo para as postagens. Atualmente, ele atualiza seus seguidores via Instagram, em que as fotos, na grande maioria, são do acessório para carregar. “Não fiz para aparecer, pois a bolsa é o principal”, diz.

Total de seguidores: 2 150
Número de likes da foto mais curtida: 137
Quantidade de itens da mesma coleção: 160 
Valor do produto mais caro comprado: 50 000

Vidrada na sola vermelha

A autointitulada microinfluencer Gisele de Assis (Arquivo pessoal/Veja SP)

A vida (e o armário) da autointitulada microinfluencer Gisele de Assis (@giseledeassis) mudou completamente há seis anos, quando ela conseguiu um emprego de vendedora na grife de sapatos Christian Louboutin, no Shopping Iguatemi. Gisele trabalhou lá até 2017, e assim deu os primeiros passos na coleção de pares de calçados com a sola vermelha (hoje acumula sessenta deles, com opções que custaram quase 10 000 reais). “Mais de uma vez deixei todo o salário na própria loja”, conta.

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Essa paixão a ajudou a conquistar os 31 300 seguidores no Instagram, em que alimenta o interesse da turma sobre seus modelos exclusivos e looks do dia. Aparece também a hashtag #gigiwearslouboutin, criada para reunir os cliques dos calçados e bolsas da marca, em quase 700 fotos. Parte das imagens é ambientada em Milão, na Itália, onde Gisele mora desde o começo do ano com o marido.

Para dar um tom profissional aos posts, ela cuida da composição do retrato e sempre garante uma referência à marca do coração. Apesar da coleção de dar inveja, Gisele ainda não alcançou o maior sonho de consumo: uma bolsa da grife Hermès. “Não quero uma específica, mas é tão cara que preciso me organizar para comprar”, lamenta.

Total de seguidores: 31 300
Número de likes da foto mais curtida: 1 380
Quantidade de itens da mesma coleção: 60 
Valor do produto mais caro comprado: 10 000

A musa do hype

A estudante de publicidade Larissa Kora (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Ganhou fama recentemente na web um vídeo em que jovens exibem os altos preços de seus looks. Há cintos que passam dos 1 000 reais, entre outros achados do tipo. Figura entre os participantes a estudante de publicidade Larissa Kora (@larissakora). Após o episódio, a garota firmou-se como um fenômeno do movimento hype, que se caracteriza pelos itens exclusivos e caros da moda de rua.

Seu grande trunfo são os cerca de trinta pares de tênis considerados raridades: o mais caro custou 6 000 reais. A coleção aumenta de acordo com os lançamentos do mercado, e o mais recente deles é um da Versace chamado Chain Reaction, de 4 000 reais. O arsenal, no entanto, poderia ser maior. “Fora do país há novos modelos incríveis que não são vendidos aqui”, critica. Recentemente, um de seus quase 50 000 seguidores questionou se Larissa já teria usado peças falsas. A resposta veio em tom de piada: “Esse desgosto nunca dei a minha mãe”.

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Ela ainda aproveita a visibilidade para revender peças, de modo a acumular receita e comprar mais itens. “Hoje, eu é que pago minhas coisas”, explica, em resposta às críticas de que seria “mimada”. O objetivo é consolidar-se como referência do streetwear e conseguir patrocínio de grandes marcas. “Isso não tem nada a ver com ostentação, gosto dos tênis não pelo valor, mas pela sua história”, garante.

Total de seguidores: 47 400
Número de likes da foto mais curtida: 11 500
Quantidade de itens da mesma coleção: 30
Valor do produto mais caro comprado: 6 000

Alto luxo e fast fashion

Cris Guerino, consultora de estilo (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Foi durante o coquetel de inauguração de uma grande grife que Cris Guerino (@crisguerino) decidiu mudar de vida. “Enquanto as pessoas bebiam champanhe e riam, eu estava emitindo notas fiscais. Nesse momento decidi que um dia estaria no lugar delas”, lembra. Para isso, abandonou o trabalho de gestão fiscal e passou a estudar moda. Hoje trabalha com consultoria de estilo. Também dedicou mais atenção à sua coleção de itens de luxo, garimpados em lojas brasileiras e em brechós do exterior. São centenas de bolsas, óculos (o mais caro deles, da Chanel, foi arrematado recentemente por 4 800 reais) e até um casaco de pele que custou 100 000 reais.

Em seu armário, eles dividem o espaço com peças de marcas mais acessíveis, caso de Hering e Zara. “É possível vestir-se bem com elas também.” Aos 18 900 seguidores diz mostrar só o lado bom da vida, em looks de marcas como Versace e Dolce & Gabbana, todas identificadas. “Quero que as pessoas conheçam essas peças e possam sonhar com elas, assim como um dia sonhei”, explica.

Total de seguidores: 18 900
Número de likes da foto mais curtida: 1 630
Quantidade de itens da mesma coleção: 100
Valor do produto mais caro comprado: 100 000

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Dicas de moda e estilo

A socialite Silvia Bonfiglioli (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Entre uma viagem e outra, o motorista da socialite Silvia Bonfiglioli (@silviabonfiglioli) faz as vezes de fotógrafo e captura retratos da patroa em diferentes poses pelas ruas da cidade, vestindo grifes como Dior, Jimmy Choo e Chanel. Trata-se de uma das etapas de criação do perfil que reúne 14 900 seguidores interessados em alta-costura, viagens, história da moda, estilo e até alguns exageros. Ela se descreve como “a última perua da Terra”. “Ainda vou fazer um post sobre como se vestir em enterros”, diverte-se, em referência às dicas que costuma dar nas publicações.

Em algumas ocasiões, compra sapatos e os exibe em cliques dentro da banheira do salão onde lava os cabelos diariamente. No perfil, há espaço cativo para as bolsas da grife francesa Hermès, uma de suas maiores paixões. “Acho que vou gostar até morrer”, declara-se. Ao todo, sua coleção conta com dezessete unidades selecionadas a dedo e compradas no Brasil (a mais cara custou 135 000 reais). Também costuma exibir alguns de seus 300 chapéus. “Tudo consegui parcelado no cartão”, despista. “Antes chegava a ir ao shopping duas vezes por dia, agora estou mais seletiva.”

Para ela, uma boa rede social também requer investimento. Desembolsa 10 000 reais por mês para bancar o fotógrafo, um especialista em redes sociais e uma desenhista que reproduz seu rosto em croquis coloridos. Ela atribui ao trabalho nas redes a volta por cima de um período de muita tristeza, há cerca de três anos. “Comecei a fazer algo de que gostava, mas saindo dessa mediocridade de fofoca.”

Total de seguidores: 14 900
Número de likes da foto mais curtida: 1 160
Quantidade de itens da mesma coleção: 300
Valor do produto mais caro comprado: 135 000

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