Fasano inaugura complexo hoteleiro a 100 quilômetros da capital
Longe dos olhos da multidão, foram construídos 39 apartamentos refinadíssimos dentro do condomínio rural Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz
Seja um hotel chique, um templo da alta gastronomia, um bar classudo ou mesmo um lugar dentro de um shopping center que serve as entradas do almoço em bufê, nas casas do Grupo Fasano paga-se caro para dormir, comer e beber. É o preço, ao alcance de uma minoria, da qualidade, tradição e exclusividade, somado aos custos do Brasil atual. Ainda assim, para satisfazer a curiosidade em torno desse ícone da cama e mesa, há possibilidades mais em conta do que uma diária normal no Hotel Fasano (1.260 reais) ou o menu degustação do restaurante homônimo (290 reais). No Gero Caffè do Shopping Iguatemi, está disponível uma singela coxinha de frango com sua pequena salada verde (18,50 reais). Ou pode-se pedir no lobby do hotel, sentado em uma acolhedora poltrona de couro envelhecido, uma taça de prosecco (45 reais). Sem falar que, nos Jardins ou na praia carioca de Ipanema, parar na rua e contemplar a elegante arquitetura dos endereços da grife, presente também em Brasília, em Punta del Este, no Uruguai, e futuramente na Bahia, é uma experiência agradável e gratuita.
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Surge agora, porém, um Fasano que ficará longe dos olhos da multidão. Neste sábado (20), será aberto um dos mais belos empreendimentos da centenária marca ítalo-paulistana. Trata-se do Hotel Fasano Fazenda Boa Vista. Ele não poderá ser observado por quem passar por perto. Para conhecê-lo, é preciso se hospedar, fazer uma refeição em seu restaurante ou frequentar, como proprietário ou convidado, o condomínio fechado em que está localizado. A diária de um dos 26 apartamentos normais, digamos assim, com 60 metros quadrados, sai por 1.500 reais. A das treze suítes, com 120 metros quadrados distribuídos em dois andares, por 2.000 reais. Mas atenção: nos fins de semana e em feriados, só serão vendidos pacotes com duas diárias, o que significa que essas tarifas dobram. Elas dão direito ao café da manhã e não incluem as demais refeições. Nos dias úteis, estarão disponíveis as diárias de uma noite. O hotel, como indica o nome, fica na tal fazenda, um complexo fechado e luxuoso — bota fechado e luxuoso nisso — erguido a cerca de 100 quilômetros de São Paulo, no município de Porto Feliz, às margens da Rodovia Castelo Branco.
Da estrada, não se percebe nada além de enormes portões de ferro e altos muros de alvenaria com cercas de arame farpado. Dentro é um espanto. O condomínio, um antigo haras que pertenceu ao banqueiro Pedro Conde, foi lançado em 2007 pela empresa JHSF, dona do Shopping Cidade Jardim e responsável por vários negócios imobiliários na capital destinados a consumidores AAA+. Espalhado por 1.200 hectares, ele reúne cerca de 700 lotes com tamanho entre 5.000 e 80.000 metros quadrados. O preço do metro quadrado vai de 600 a 900 reais. Para simplificar o cálculo, o terreno mais barato custa 3 milhões de reais. Já foram erguidas ali cerca de 200 casas, sem contar as 95 da Villa Fasano (nada a ver com o hotel), mais simplesinhas, vamos admitir, com preços a partir de 2,5 milhões de reais. Estão todas vendidas.
A Fazenda Boa Vista conta com um campo de polo, dois de golfe (um pronto, outro em construção), quatro quadras de tênis (mais oito projetadas) e instalações hípicas compostas de quatro picadeiros, sendo um coberto, além de cocheiras com piso de borracha e bordas arredondadas para que os cavalos não se machuquem em quinas traiçoeiras. Dos 350 proprietários, nenhum é morador. Eles vão lá nas folgas para espairecer em suas casas de campo, dotadas de infraestrutura e segurança. Aliás, a segurança é tanta que somente alguns nomes de condôminos são divulgados, como o dos publicitários Nizan Guanaes e Nelson Biondi ou da arquiteta Marina Linhares. Há entre eles vários banqueiros estrelados, advogados de renome e empresários de peso.
“Um empreendimento imobiliário de altíssimo padrão como esse teria de ter um hotel do mesmo nível”, diz José Auriemo Neto, presidente da JHSF. Seu sócio, Rogério Fasano, responsável pela operação do hotel e do restaurante, define o resultado em uma palavra: “incrível”. É uma boa síntese. Para ele, o hotel é “fruto da coragem do Zeco”, como costuma ser chamado Auriemo Neto. Em outras palavras, a aposta foi pesada: 53 milhões de reais, investimento cujo retorno é esperado dentro de oito anos. Assim, o arquiteto Isay Weinfeld, autor do projeto, teve recursos para criar, por exemplo, quartos voltados para campos a perder de vista (a área verde ocupa 70% do espaço total), corredores com longas curvas e um grande deque de madeira que une o restaurante a um lago artificial, no qual os hóspedes poderão nadar — água tratada, escadinha para quem não quiser entrar de mergulho e três vezes a extensão de uma piscina olímpica, com seus 150 metros de comprimento.
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Já o restaurante, sem nome próprio, é um capítulo à parte. Com consultoria dos superchefs Salvatore Loi e Laurent Suaudeau, ele apresentará no cardápio pratos italianos, franceses e, a partir de setembro, clássicos brasileiros. No sábado, haverá feijoada completa (75 reais). Domingo, leitão à pururuca com couve e creme de espinafre (75 reais). Diariamente, virado à paulista (49 reais), quirera de frango com quiabo, receita elogiada por quem a provou na chamada fase de soft opening (49 reais), e sobremesas como creme romeu e julieta (20 reais) e tapioca com sorvete de banana (23 reais), ao lado de massas, risotos e carnes conhecidos da clientela do grupo. O restaurante estará aberto todos os dias no almoço e no jantar para hóspedes e não hóspedes.
“O projeto foi inspirado nas lembranças de minhas férias na infância e na adolescência”, conta Isay, que ia com os pais ao antigo Hotel Tamoyo de Águas de Lindoia, no interior do estado, onde numa noite de 1969 viu, nas imagens em preto e branco da TV, a chegada do homem à Lua. “Havia silêncio, um certo ritual e as pessoas se arrumavam para jantar, um pouco como no Grand Hôtel des Bains mostrado no filme ‘Morte em Veneza’, de Luchino Visconti. O hotel é do Rogério e do Zeco, claro, mas acho que ele ficou com um pedacinho dessas minhas memórias.”