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Grupo Ornitorrinco: livro celebra três décadas de atuação

A trajetória do polêmico grupo dirigido por Cacá Rosset é revisitada em livro com lançamento na segunda (30)

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 19h04 - Publicado em 30 nov 2009, 13h37

A primeira apresentação do grupo Ornitorrinco se deu diante de uma restrita plateia na noite de 20 de abril de 1977. Na sala de um apartamento na Rua Gabriel dos Santos, em Higienópolis, os atores Cacá Rosset, Luiz Roberto Galízia (1952-1985) e Maria Alice Vergueiro mostraram Os Mais Fortes, de August Strindberg, para uma dezena de pessoas. Provocativa e debochada, a companhia viu nos anos seguintes o público crescer em proporções surpreendentes, chegando a 350.000 espectadores na montagem Ubu – Folias Physicas, Pataphysicas e Musicaes (1985). Com um atraso de dois anos, as três décadas de atividades são celebradas em um livro que traz a capa forrada de pelúcia e tem lançamento previsto para segunda (30), no restaurante Spot, às 20 horas (Alameda Ministro Rocha Azevedo, 72, Cerqueira César, ☎ 3283-0946). Organizado pela atriz Christiane Tricerri- integrante desde 1985 e produtora do grupo — a partir de entrevistas do jornalista Guy Corrêa e imagens tiradas do fundo do baú, O Teatro do Ornitorrinco (Imprensa Oficial, 524 páginas, R$ 185,00) destrincha um pouco dos feitos de uma trupe que deu o que falar. No livro, há a explicação para o nome esquisito: “É o animal mais distante geneticamente do homem, no meio do caminho entre mamíferos, répteis e aves”. Sintetizaria assim vários gêneros, como teatro, circo, música e dança.

Na segunda metade da década de 70, nomes importantes como José Celso Martinez Corrêa e Augusto Boal estavam exilados, o teatro comercial dominava e o que se via era uma falta de paciência do público diante de discursos engajados. Foi nesse vácuo que o Ornitorrinco, ao lado dos cariocas do Asdrúbal Trouxe o Trombone e dos conterrâneos do Pod Minoga, se estabeleceu. ‘Passamos a nos apresentar no porão do Teatro Oficina, que estava

fechado’, lembra Maria Alice. ‘Aos poucos, aquele espaço de resistência voltou a ser habitado.’” Não tardou para o público perceber a vibração dos espetáculos que misturam teatro, música, dança e humor. ‘Fico impressionado com a capacidade do Ornitorrinco de instigar e perceber questões que precisavam ser discutidas naquele momento, em encenações coloridas e vivas’, afirma o jornalista e ator Alberto Guzik, um dos dez espectadores daquela

primeira sessão.

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Entre 1985 e 1986, Ubu – Folias Physicas, Pataphysicas e Musicaes trouxe doze atores, como Rosi Campos, José

Rubens Chachá e Chiquinho Brandão, muitos nus, satirizando o processo de redemocratização. Incorporado na figura de Pai Ubu, Rosset rompia os limites do teatro e ganhava os noticiários ao interagir nas ruas com políticos como Ulysses Guimarães e Eduardo Suplicy. O ator e diretor nunca economizou esforço em nome da visibilidade. Na tentativa de conseguir o Teatro Municipal de São Paulo para apresentar O Doente Ima ginário, em 1989, divulgou uma fotografia em que aparecia ao lado de Maria Alice e Christiane Tricerri em cima de um elefante. Dois anos depois, estreou Sonho de uma Noite de Verão em Nova York, com 25 atores. ‘Sempre gostei de espetáculos populares, que atinjam da criança ao professor universitário, com muita gente no palco e, de preferência, na plateia’, diz Rosset. Logo depois da temporada de Scapino, em 2001 ele tirou um ano sabático – que durou cinco – e muitos pensavam

que o Ornitorrinco tinha realmente entrado em extinção.’Estava cansado do peso de produzir em meio a burocracias e ver minha satisfação artística tão reduzida’, conta ele, que, nesse período, virou comentarista esportivo e figura carimbada em programas da Band e do SBT. Graças a Christiane Tricerri, que abraçou o papel de produtora, o grupo ressuscitou, primeiro com O Marido Vai à Caça (2006), e, no ano passado, em A Megera Domada, vista por 45 000 pessoas em três meses. ‘O que mantém o Ornitorrinco vivo é o rigor’, afirma a atriz. Por trás da imagem

polêmica, Rosset esconde um estudioso incansável que devora livros de teoria, exige uma rotina de ensaios de oito horas e não recruta ator que não saiba cantar, dançar ou tocar, se isso for exigido pelo personagem. ‘Eu nunca vi o Cacá empregar uma namorada sequer’, conta Christiane, que já levanta a préprodução de Bebê com a Água, comédia do americano Christopher Durang, prometida para 2010.

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